Numa entrevista concedida à RTP, o candidato presidencial João Ferreira não foi claro quanto à possibilidade de dar posse a um Governo de direita com o apoio do Chega.
Esta segunda-feira, João Ferreira, candidato comunista às eleições presidenciais de 24 de janeiro, deu uma entrevista à RTP na qual não esclareceu se daria posse a um Governo de direita com o apoio do Chega. Ainda assim, o eurodeputado disse que teria de “ter em conta” as posições “contrárias a princípios e valores constitucionais” do partido.
Enquanto Presidente da República que jura “cumprir e fazer cumprir a Constituição”, João Ferreira “não deixaria de ter em conta” que o Chega é uma “força que declaradamente, nos seus princípios e na sua ação, assume posições contrárias a princípios e valores“.
O candidato não respondeu diretamente à questão, mas afirmou que tudo faria “para evitar chegar a uma situação em que o Presidente fosse confrontado” com este cenário. “Não abdicaria de nenhum dos poderes, mas o Presidente não pode, não deve inventar poderes.”
A pergunta tem sido colocada a vários candidatos à Presidência da República. Ana Gomes e Marisa Matias disseram que não o fariam, enquanto que o atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, admitiu que daria posse a um Governo nessas condições.
Para o candidato comunista, o “problema do crescimento de forças de extrema-direita, de cariz antidemocrático” tem outro problema por trás: “a ausência de resposta a problemas que as pessoas sentem nas suas vidas”, como “a falta de emprego” ou “a instabilidade de emprego”.
João Ferreira entende que é “a falta de perspetivas de realização no presente e no futuro que arrasta muita gente a apoiar essas forças” que, por sua vez, são “apoiadas por setores poderosos do poder económico, que têm projetos claramente de confronto com o regime democrático”.
Na mesma entrevista, o eurodeputado abordou o homicídio de um cidadão ucraniano nas instalações do SEF do aeroporto de Lisboa, considerando “inqualificável“. O candidato a Belém entende que deve ser criado um mecanismo de garantia de direitos, que pode não excluir a extinção do SEF.
Por outro lado, considerou “anacrónico” o modelo de segurança nacional vigente em Portugal, pela ambiguidade da demarcação de competências entre a PSP e a GNR.
Em relação à TAP, João Ferreira referiu que uma gestão integrada dos aeroportos e da companhia aérea teria permitido enfrentar a crise causada pela pandemia de covid-19 em melhores condições. A reestruturação não pode destruir as condições indispensáveis para a presença da TAP enquanto companhia aérea de bandeira, quando for retomado o tráfego aéreo.