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Sextas-feiras negras no Serviço Nacional de Saúde

Os médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) vão vestir de luto, a partir das próximas sextas-feiras, como forma de mostrar aos doentes que não podem fazer mais para salvar um sistema que está moribundo. Uma iniciativa para “salvar o SNS”, alegam.

O protesto nasceu há pouco mais de um mês e a partir de hoje é alargado a todas as sextas-feiras. A ideia é que os médicos de hospitais e centros de saúde do SNS vistam uma peça de roupa negra ou usem um crachá com o lema da iniciativa – “SNS in Black” -, para mostrarem o seu descontentamento e preocupação.

Este movimento informal de médicos já recebeu o apoio público do bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães. O pneumologista Filipe Froes, um dos organizadores do protesto, explica na TSF que a iniciativa “pretende salvar o SNS”, sem por em causa “as condições de acesso e de tratamento ao doente”.

Os profissionais do sector debatem-se diariamente com a falta de meios humanos e físicos, como salienta Filipe Froes. E estão preocupados com o “estado actual de destruição e de agonia do SNS”, como diz o médico, frisando que “se isto continuar”, ainda será “mais prejudicial para os doentes”.

O bastonário da Ordem dos Médicos destaca, também na TSF, que com esta medida os médicos poderão “explicar pessoalmente” aos doentes “o que está mal no SNS e o que é preciso melhorar”.

Trata-se de “um protesto em favor dos doentes, em favor de manter o SNS e a sua capacidade de resposta que tem que ser universal, equitativa e tendencialmente gratuita”, refere ainda Miguel Guimarães.

“Sub-financiamento crónico do SNS”

No Fórum TSF, que debateu esta questão, Miguel Guimarães falou do “sub-financiamento crónico do SNS”, lamentando que “os governantes decidiram que a saúde dos portugueses vale 5,2% do PIB e em termos de SNS vale apenas 4,8% do PIB, quando a média dos países valoriza a saúde em cerca de 6,5% do PIB”.

“Não é aceitável que o Governo português continue a desvalorizar a saúde das pessoas”, conclui o bastonário.

“A maioria dos hospitais e muitos centros de saúde têm neste momento condições de trabalho que não são as ideais para doentes e profissionais de saúde e podem resultar na diminuição da segurança clínica“, acrescentou Miguel Guimarães em entrevista à RTP, onde lamentou que o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, “não tem defendido a saúde como é a sua obrigação”.

A bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, lamentou no Fórum TSF que “o SNS está sub-financiado há muitos anos”, que “faltam 30 mil enfermeiros” e “falta material”.

Já durante um debate organizado pela consultora FDC em torno da pergunta “E se o SNS acabar?”, realizado nesta quinta-feira, 5 de Abril, Ana Rita Cavaco tinha lamentado que falta dinheiro e faltam camas nos hospitais do SNS.

A bastonária lamentou ainda, neste debate, que o país funciona por “castas profissionais”, permitindo que um médico recuse um lugar (no interior do país, por exemplo), a desumanização, a falta de material, de lençóis ou cobertores, de medicamentos também. “Mas para os bancos há sempre dinheiro”, disse.

SNS assegura grande parte dos cuidados de saúde

De acordo com os indicadores do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos ao período 2006-2016, divulgados nesta sexta-feira, a propósito do Dia Mundial da Saúde que se assinala a 7 de Abril, em 2016 foram realizados cerca de 7,7 milhões de atendimentos nos serviços de urgência dos hospitais, com um aumento de 5,4% face ao ano anterior.

A predominância foi para os atendimentos nos hospitais públicos ou em parceria público-privada, com 84,2% dos atendimentos em serviços de urgência.

Ao longo dos 10 anos em análise, “os hospitais privados ganharam importância na prestação destes cuidados, com um valor (1,2 milhões de atendimentos) que duplica o de 2006 (cerca de 600 mil atendimentos)”, refere o INE citado pela Lusa.

Os dados indicam que nos hospitais portugueses, em 2016, foram realizadas aproximadamente 1,1 milhões de cirurgias, das quais 178 mil pequenas cirurgias. Cerca de 73% das operações (excepto pequenas cirurgias) foram realizadas em hospitais públicos ou em parceria público-privada, das quais 85% foram programadas.

Em 2016, foram realizadas cerca de 19,4 milhões de consultas médicas na unidade de consulta externa dos hospitais, das quais 66% foram asseguradas por hospitais públicos ou em parceria público-privada (67,6% no ano anterior).

Em 2016, os hospitais privados foram responsáveis por 34% do total de consultas (mais 484 mil consultas face ao ano anterior, o que representa 90,7% do aumento total de consultas).

ZAP // Lusa

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