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O segredo de um alquimista medieval para a “vida eterna” foi desvendado

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"Hocus Pocus, or Searching for the Philosopher's Stone", de Thomas Rowlandson.

"Hocus Pocus, or Searching for the Philosopher's Stone", de Thomas Rowlandson.

“Hocus Pocus, or Searching for the Philosopher’s Stone”, de Thomas Rowlandson.

A chave para um manuscrito encriptado foi desvendada e revela a receita para a “Pedra Filosofal”, o elixir para a vida eterna de um alquimista medieval.

Entre os arquivos da Biblioteca Britânica, em Londres, estava um pouco conhecido caderno de alquimia, “Sloane MS 1902”, escrito por John e Arthur Dee, pai e filho. Megan Piorko, que estava a escrever a sua dissertação sobre Arthur, rapidamente ficou intrigada com o manuscrito.

Certas páginas estão escritas de pernas para o ar. Foi numa dessas páginas que Piorko encontrou uma passagem intrigante escrita em código. Na página seguinte, havia uma tabela cheia de letras. Ainda não o sabia, mas o texto codificado estava a esconder a receita dos dois alquimistas para o elixir da vida eterna — a chamada “Pedra Filosofal”.

O texto de 177 palavras tem o nome em latim que se pode traduzir por “Medula da Filosofia Hermética”. Segundo o Atlas Obscura, as palavras não faziam qualquer sentido, havendo de tudo, desde “ozxkwxfg” a “qqdz”. Na tabela a seguir, um cabeçalho de duas letras é seguido por duas linhas de 11 letras cada.

Sarah Lang, da Universidade de Graz, na Áustria, tentou desvendar a mensagem, mas sem sucesso. Ainda assim, descobriu que o texto foi criptografado usando uma cifra de substituição, em que as letras do texto original são trocadas por outras diferentes.

Ao contrário de outras cifras medievais, esta era mais difícil de decifrar. Eventualmente, Lang percebeu que era provavelmente um tipo particular de cifra chamada cifra Bellaso/Della Porta, um código de substituição polialfabética.

Uma nota rabiscada na margem da página sugere que Arthur Dee escreveu o texto encriptado na mesma altura em que alegou ter encontrado a receita para a “Pedra Filosofal”.

Em setembro, Piorko e Lang apresentaram as suas descobertas numa conferência online, sem, no entanto, terem desvendado a cifra e a consequente mensagem que esta escondia.

(dr)

As notas de Richard Bean ao tentar resolver o enigma.

Depois da videoconferência,  Piorko e Lang receberam um email inesperado. O matemático e criptologista Richard Bean, da Universidade de Queensland, alegava ter resolvido o enigma.

Numa cifra Bellaso/Della Porta, a palavra-chave é usada para determinar como é que as letras devem ser substituídas no texto. Bean descobriu que a palavra-chave não era uma única palavra, mas sim uma frase de 45 letras: “sic alter Iason aurea felici portabis uellera Colcho”.

A frase em latim é retirada de um poema épico da mitologia grego, o tosão de ouro.

O texto descodificado descreve os procedimentos para criar o elixir da vida. Um passo alude a tirar um “ovo” alquímico de um atanor, uma fornalha usada por alquimistas. Menciona ainda quanto tempo é preciso esperar para que as três fases universais da alquimia ocorram: preto, branco e vermelho.

Se todos os passos forem seguidos corretamente, “então você terá um verdadeiro elixir para fazer ouro, por cuja benevolência toda a miséria da pobreza é exterminada e aqueles que sofrem de qualquer doença terão a saúde restaurada”, lê-se no texto citado pelo Atlas Obscura.

Bean, Piorko e Lang estão agora a escrever um artigo científico sobre o assunto. Assim que o texto esteja corretamente transcrito para inglês, vão trabalhar com investigadores para tentar recriar a receita para a vida eterna de Arthur Dee.

Poderá ser esta a receita para a “Pedra Filosofal”? Os alquimistas medievais acreditavam que sim, mas Piorko está cética. Ainda assim, remata: “Quem sou eu para dizer que não é real para eles?”.

Daniel Costa, ZAP //

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