A seca que se faz sentir no território europeu tem deixado a descoberto as “pedras da fome”, rochas presentes nos leitos dos rios que só ficam visíveis quando os níveis de água estão extremamente baixos.
Entre os séculos XV e XIX, os povos que viviam em territórios onde hoje estão a Alemanha e República Checa, por exemplo, inscreviam nessas rochas dados sobre catástrofes desencadeadas pela falta de água e as dificuldades vividas durante os períodos de seca. Agora, de tempos em tempos, voltam a “aparecer”. Em 2018, o ZAP já tinha relatado o fenómeno.
A inscrição mais antiga encontrada na bacia do rio Elba (que nasce na República Checa, corre pela Alemanha e desagua no Mar do Norte) data de 1616. Em alemão, está escrito: “wenn du mich siehst, dann weine” – que pode ser traduzido como “se me vir, chore”, segundo noticiou a BBC.
Essa pedra específica é particularmente famosa porque os habitantes da região esculpiram na sua superfície as datas de secas severas. De acordo com um estudo publicado em 2013, os anos 1417, 1616, 1707, 1746, 1790, 1800, 1811, 1830, 1842, 1868, 1892 e 1893 podem ser lidos na rocha.
Na cidade alemã de Pirna os arquivos referem uma pedra com o ano 1115 inscrito, mas a localização exata desse marco não é mais conhecida.
Períodos de seca eram ainda mais graves no passado do que hoje em dia devido à menor quantidade de recursos para os enfrentar. No passado, a área da Europa Central – partes da Alemanha, República Checa, Eslováquia, Áustria e Hungria – dependia das terras férteis ao longo das margens dos rios.
A seca arruinava as plantações e tornava difícil ou impossível a navegação nos rios. Com a seca, vinha a fome – por isso as pedras são conhecidas como ‘hungersteine’ (‘Pedras da Fome’), na Alemanha.
Estas ficaram visíveis diversas vezes ao longo do século XX. Na cidade Decin, no norte da República Checa, há 12 na margem do rio Ploucnice. Outra está exposta no museu de Schonebeck, na Alemanha. Se trata de uma lápide na qual foram esculpidos níveis de água particularmente baixos.
A maioria das “pedras da fome” são encontradas no rio Elba, mas também há rochas do género no rio Reno, no Mosela e no Weser, todos na Alemanha.
Seca revela objetos e restos humanos
A seca tem também revelado o que estava submerso no fundo dos rios e dos lagos. Ainda no rio Pó, uma bomba não detonada da Segunda Guerra Mundial foi exposta recentemente. O engenho explosivo de 450 quilos foi encontrado por pescadores nas margens, perto da vila de Borgo Virgilio, na Lombardia, em julho.
“A bomba foi encontrada por pescadores na margem do rio Pó devido à diminuição do nível das águas causada pela seca”, disse o coronel Marco Nasi, em declarações à agência Reuters.
Já no Lago Mead, no Nevada (Estados Unidos), atingido pela seca extrema, um terceiro conjunto de restos humanos foi encontrado recentemente, quando os níveis de água caíram para mínimos históricos.
Em maio deste ano foi encontrado o primeiro corpo. Se tratava, provavelmente, de uma vítima de homicídio – baleada na cabeça, colocada num barril e atirada ao lago. Uma semana depois, duas irmãs encontraram outros restos mortais.