Se PCP apostar na continuidade “vai agravar o seu divórcio da sociedade”, diz Marques Mendes

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António Cotrim / Lusa

O conselheiro de Estado e antigo líder do PSD, Luís Marques Mendes

O comentador Luís Marques Mendes admitiu que a mudança na liderança do Partido Comunista Português (PCP) “é uma grande surpresa” e não deixou de expressar simpatia por Jerónimo de Sousa, que ao fim de 18 anos abandona o cargo de secretário-geral para dar lugar a Paulo Raimundo.

“Tenho uma grande admiração por Jerónimo de Sousa no plano político pela coragem de assumir as suas convicções”, sublinhou o comentador no seu habitual espaço de opinião na SIC, no domingo à noite. Além disso, para Marques Mendes, o histórico dirigente comunista “é sempre um senhor, um verdadeiro senhor”.

Mas na sua opinião, “a substituição era inevitável” e “tinha de acontecer”, sobretudo porque “os últimos anos foram fatais do ponto de vista político para o PCP”, que considera “um desastre” devido a “três erros brutais”.

O primeiro erro foi a geringonça: “foi um grande negócio para o PS e para António Costa, sem dúvida, mas foi um mau negócio político para o PCP. O PCP caiu a pique nas eleições. Está reduzido ao mínimo dos mínimos”.

O segundo “foi o chumbo do penúltimo Orçamento de Estado”, disse, referindo: “como é que o PCP não previu que ia ser fortemente penalizado nas urnas e que ia ajudar a que o PS tivesse maioria absoluta”. O comentador acredita que tenha sido “um erro de avaliação de principiante”.

O último erro foi a posição que o partido assumiu quanto à guerra na Ucrânia. “Por causa do ódio aos Estados Unidos e à NATO, o PCP, na prática, colocou-se ao lado de Putin, numa posição que nenhum português compreende”, declarou.

Quanto a Paulo Raimundo, “tem posições muito ortodoxas”, embora “no PCP manda muito mais o coletivo do que o líder”.

“Já passou o tempo para o PCP, se quisesse, mudar de orientação política” e “agora não tem alternativa” – caso mude, o partido “vai descaracterizar-se, com isso vai perder, e perdendo vai cavando a sua morte e a sua irrelevância”. Mas se ficar na continuidade, vai agravar o seu envelhecimento e o seu divórcio da sociedade”.

No campo da inflação, destacou uma sondagem da Intercampus, na qual foi revelado que os portugueses estão a diminuir a ida a restaurantes (92,5%); a compra de roupa (88,5%); o entretenimento (87%); as viagens (86%); a energia (77%); e a alimentação (54%). Destacou igualmente os apoios de algumas empresas aos funcionários.

Pelo lado positivo, destacou o caso do investimento direto estrangeiro, que significam a criação de 6.800 novos postos de trabalho e projetos já contratualizados que ascendem a mais de 2 mil milhões de Euros de investimento

Relativamente à entrevista de Manuel Aves, considerou “inqualificável que o novo” Secretário de Estado tivesse demorado tanto tempo a dar explicações. “Adiantar 300 mil de euros, sem garantias bancárias por exemplo, num negócio em que o empreendedor, ainda por cima, não tem antecedentes credíveis, não é um bom ato de gestão”, considerou o comentador, frisando: “é, no mínimo, descuido e negligência”.

No Brasil, o resultado das eleições foi “um alívio para todo o mundo. Toda a gente se queria ver livre de Bolsonaro” – “uns porque é um populista radical; outros porque isolou o Brasil; outros ainda, porque é um básico e impreparado”.

“A prova é que foram vários os países que rapidamente felicitaram Lula pela vitória e que se apressaram a declarar que as eleições foram limpas”, referiu.

Quanto a Bolsonaro “não tem cultura democrática; não é capaz de reconhecer a derrota; e está cheio de medo em relação ao futuro. Incluindo medo de ser preso. Ele tem sobre si várias investigações judiciais. E vai deixar de ter imunidade”, indicou.

Quanto a Lula da Silva, “o fantasma da corrupção acompanha-o para todo o lado. Se não fosse este fantasma, Bolsonaro não teria tido o grande resultado que teve”.

No que toca às eleições intercalares da próxima semana nos Estados Unidos, prevê uma “subida” dos republicanos, que pode diminuir as condições de Biden para governar; aumentar a probabilidade de Trump voltar a candidatar-se em 2024; e potenciar o risco do enfraquecimento do apoio político e militar dos EUA à Ucrânia.

ZAP //

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