Pedro Ginjeira do Nascimento lamenta a “confusão dos diabos” que é olhar para o recibo de um salário. E foca-se no tax wedge.
Receber o salário é um momento de alívio para o trabalhador, mas também pode ser um momento de confusão. E o documento oficial não ajuda.
Pedro Ginjeira do Nascimento, secretário-geral da Business Roundtable Portugal, fala em “confusão dos diabos” num recibo de vencimento “complexo” em Portugal.
Recordando os seus primeiros recibos, de quando começou a trabalhar: “Percebia o que vinha para mim e o que era retido pelo Estado. Mas não tinha noção do que não estava no salário, mas que entrava nos custos totais da empresa para pagar o meu salário”.
Em entrevista ao ECO, Pedro faz uma comparação com uma factura de supermercado. Quando vamos às compras, vemos o valor dos bens e o valor do IVA. Separados. Mas num recibo de vencimento não se vê, por exemplo os 23,75% que a empresa paga à Segurança Social.
Depois, o documento tem muitas alíneas, com diversos subsídios, uma quantidade “bastante grande” de itens.
O secretário-geral da Business Roundtable Portugal explicou que já começou a implementar um modelo diferente de recibo de vencimento; é um gráfico onde o trabalhador percebe, com ajuda visual, cada parcela do seu salário.
Para o responsável, “seria bom” haver novos recibos, mais transparentes, até porque as novas gerações “são mais instruídas e querem estar mais bem informadas”.
Pedro Ginjeira do Nascimento deixou um alerta: “Estamos sempre a discutir se os salários são adequados, se o empregador paga pouco ou muito… Mas como podemos ter essa discussão se a maior parte das pessoas não sabe quanto ganha?“.
Pegando na recente discussão sobre o aumento do salário mínimo nacional para 870 euros, Pedro pergunta: qual é o valor real do salário mínimo? “Se perguntares ao empregador, são 1.076 euros; se perguntares ao empregado, são 772 euros. Só o Estado é que acha que são 870 euros”, responde.
Os números reais não são vistos, nem pelo empregador, nem pelo trabalhador. Entre impostos e contribuições sociais, empresas e trabalhadores acabam por ver valores diferentes do que é anunciado.
Pedro focou-se ainda no tax wedge, expressão em inglês que define a diferença entre o custo para a empresa e o que o trabalhador recebe ao final do mês.
Em Portugal, essa diferença está nos 42,3% sobre o salário médio de um português. É o 8.º pior tax wedge da OCDE. “Não era assim até 2008, até à crise financeira”, lamenta.
Pedro Ginjeira do Nascimento revela que, se baixássemos essa percentagem para a média da OCDE (34,8%), o salário médio líquido de um português aumentaria 157 euros para 1.357 euros por mês.