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Salário emocional, contratar imigrantes ou subir preços. As propostas do Congresso Nacional de Hotelaria

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Alessandro di Marco / EPA

A falta de mão de obra é um dos maiores problemas no sector, que está a ponderar recorrer aos imigrantes para o resolver. No entanto, os empresários reconhecem que os baixos salários e os horários puxados são uma dificuldade na atracção de trabalhadores.

Termina hoje o 32.º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, que está a decorrer em Albufeira sob o mote “O Turismo tem Futuro“, numa altura em que o futuro do sector é incerto devido à falta de pessoal e à crise política que ameaça os apoios.

Raul Martins, presidente da Associação de Hotelaria de Portugal, revela ao Expresso que um dos objectivos é a contratação de imigrantes de países da CPLP e de filipinos para suprir a falta de mão de obra. “O capital humano é para o nosso sector o desafio da década“, explica, reforçando que a escolaridade dos portugueses tem melhorado, mas que ainda não há pessoal suficiente devido à emigração. “Temos de olhar para o exterior, como fez França ou Inglaterra”, afirma.

Segundo um inquérito da Associação, faltam cerca de 15 mil trabalhadores no sector. Jorge Rebelo de Almeida, presidente do grupo de hotéis Vila Galé também defende o recurso ao trabalho de estrangeiros para resolver a crise do sector, mas lembra o risco da perda da identidade do país que já está acontecer em França e no Reino Unido devido “à entrada de verdadeiros ‘cavalos de Troia” e apela ao “equilíbrio”.

“Temos de pensar em criar condições para estas pessoas poderem vir e não ficarem a dormir na rua”, lembra ainda, sobre o acolhimento dos imigrantes em Portugal. É também preciso “tornar o sector do turismo mais atractivo a nível de carreira“, reforça Luis Araújo, presidente do Turismo de Portugal.

Uma das formas mais eficazes de tornar o trabalho na hotelaria mais apelativo é o aumento dos salários, que os empresários reconhecem que são baixos e que já eram um problema antes da pandemia, que veio fazer o pêndulo balançar em favor dos funcionários e obrigar os empregadores a ceder às suas exigências. No entanto, Raul Martins alerta que a subida dos salários levaria a um aumento dos preços nos hotéis. “E 40% do nosso mercado é interno. Suportaria que vendêssemos quartos muito mais caros?”, pergunta.

Já a formadora Marta Sotto-Mayor apela a uma mudança total na forma como os trabalhadores são vistos e argumenta que “novos problemas não podem ser resolvidos com as velhas respostas”. “Os decisores não podem ter empregados de mesa que são só carregadores de pratos, na verdade eles ajudam a vender a gastronomia ou os vinhos, e podem contribuir muito para o aumento da rentabilidade”, afirma.

A criação de um salário emocional — benefícios que podem ser adaptados individualmente e que motivem os trabalhadores a ficar no sector, como o pagamento de mensalidades em ginásios, clubes ou seguros — pode ser uma das soluções.

Luís Mexia Alves, CEO da Discovery Hotel Management (DHM) aponta a “frustração” tanto do lado dos trabalhadores como dos empregadores com o “cocktail tóxico” dos baixos salários e da falta de progressão nas carreiras.

“O seguro de saúde para um funcionário de 20 anos pode não ser assim tão interessante, mas para ‘housekeeping” [trabalhadores dos serviços de quarto] sim. Para ele será mais aliciante ter a mensalidade da Netflix ou de um ginásio“, defendeu, em referência à criação de um salário emocional, ao JN.

Marta Sotto-Mayor relembra também as queixas que já ouviu dos estagiários talentosos e com ambição que não são aproveitados devidamente pelo sector e que se sentem como “vasos”.

Já a DHM quis valorizar a mão de obra ao eliminar as funções de rececionista e empregado de mesa para criar um novo cargo com um ordenado mais alto. Cada trabalhador faz também a sua própria avaliação do bónus anual que irá receber.

Adriana Peixoto, ZAP //

2 Comments

  1. Os empregos na hotelaria costumam ser sazonais e os trabalhadores querem contratos permanentes de trabalho. Além disso para trabalhar na hotelaria tem que se deslocar geograficamente, pagar alojamento e sujeitarem-se a ficar, por exemplo, 6 num quarto. Os portugueses não parecem estar muito interessados nesse tipo de trabalho. Se bem que já é bom existir trabalho.

  2. “Já é bom existir trabalho”
    Esta expressão é ridícula e típica de quem nunca ganhou o salário mínimo. Uma verdadeira afronta a quem precisa de trabalhar para conseguir sobreviver.
    Os migrantes, coitados, não se importam, pois que remédio têm senão sujeitarem-se à exploração e aos salários baixos.
    O trabalho esse é bom e de escravo.
    Com isto perdem todos, pois a mão de obre embaratece e os pobres ficam mais pobres.
    Os que ganham com isto são os patrõezitos…o tipico patraozito portugues adora pagar mal…assim sobra mais para o bolso dele…LOL.
    Victor, você parece ser um português diferente…porque é que você não se põe, por uma temporada, nos sapatos de um destes portugueses mal agradecidos e vai trabalhar você nestes sítios?

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