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Ayatollah Khomeini, Saddam Hussein, Reza Pahlavi
Nos anos 1970, o xá Reza Pahlavi rejeitou uma oferta de Saddam Hussein, que se propunha mandar matar o Ayatollah Khomeini. A decisão do monarca persa marcou para sempre a história do Médio Oriente.
No mundo sombrio da geopolítica do Médio Oriente, há momentos que se desvanecem no silêncio, deixados sem registo exceto nas memórias de espiões, ministros e monarcas.
Mas poucos momentos carregam tanto peso histórico como uma oferta secreta feita nos anos 1970 — que poderia ter alterado profundamente a trajetória de toda a região.
Segundo dizem veteranos dos serviços de informações, exilados iranianos e biógrafos da época, o na altura vice-presidente iraquiano Saddam Hussein propôs ao então xá do Irão, Mohammad Reza Pahlavi, o assassinato do líder espiritual e político da revolução xiita que em 1979 viria a depor o seu regime: o Ayatollah Khomeini.
O xá declinou a oferta. “Não estamos no negócio de assassinar clérigos“, disse Pahlavi. E a decisão do monarca persa marcou para sempre a história do Médio Oriente, conta o The Jerusalem Post.
Em 1963, a “Revolução Branca” com que Pahlavi se propunha modernizar o país — que incluía várias reformas, industrialização, expansão da educação e concessão de direitos políticos e sociais às mulheres — recebeu duras críticas de Khomeini, que acusava o xá de trair os princípios islâmicos e servir os interesses ocidentais.
As críticas valeram ao ayatollah o exílio. Forçado por Pahlavi a deixar o Irão, Khomeini teve uma curta passagem pela Turquia, e encontrou refúgio no Iraque, estabelecendo-se na cidade santa xiita de Najaf.
Mas longe de desaparecer na obscuridade, como o xá esperava, a influência de Khomeini cresceu dramaticamente.
A partir de Najaf, o ayatollah manteve a sua influência junto dos xiitas. Gravava sermões em cassetes, que eram contrabandeadas através da fronteira iraniana e distribuídas por bazares e mesquitas, tornando-se autêntica dinamite política — que alimentava a oposição latente ao regime Pahlavi.
A preocupação de Saddam
A influência crescente de Khomeini alarmava cada vez mais Saddam Hussein, que reconhecia a ameaça representada pela retórica pan-xiita do ayatollah ao regime secular e nacionalista árabe Ba’ath do Iraque.
Sendo a população iraquiana maioritariamente xiita, as mensagens religiosas e políticas de Khomeini representavam um desafio direto ao controlo governamental do Iraque.
Saddam, na altura vice-presidente do Iraque, considerou assim que seria ajuizado eliminar preventivamente a ameaça representada pelo ayatollah — proposta que apresentou a Pahlavi. A oferta de assassinato terá sido feita através de canais diplomáticos, em comunicações secretas durante encontros na ONU.
Ardeshir Zahedi, o último embaixador do xá nos EUA, recorda ter recebido uma mensagem do ministro dos Negócios Estrangeiros do Iraque com a proposta de Saddam. “Saddam oferece-nos uma escolha: expulsar Khomeini ou eliminá-lo“.
O xá rejeitou firmemente qualquer sugestão de que um “acidente infeliz” poderia resultar na “liquidação física” do clérigo problemático, e pediu em vez disso que o Iraque forçasse o ayatollah a deixar o seu país.
A recusa do xá tem sido atribuída a vários fatores. Alguns historiadores acreditam que refletia a sua contenção moral e a convicção de que o assassinato político, particularmente de uma figura religiosa venerada, era inconcebível.
Outros sugerem que foi uma questão de gestão de imagem, numa altura em que o xá procurava manter a sua reputação como um monarca modernizador.
O xá acreditava também que tal ação teria inflamado as paixões no Irão para além de todo o controlo possível. “Naqueles dias, pensávamos que se alguém se livrasse de Khomeini, ele tornar-se-ia um mártir — ou algo ainda maior“, contou à BBC a rainha Farah, viúva do xá, que viveu 46 anos no exílio.
O erro de cálculo fatal
Em outubro de 1978, sob pressão crescente, Saddam expulsou finalmente Khomeini do Iraque, esperando que o problema do subversivo clérigo ficasse resolvido.
Em vez disso, esta decisão amplificou dramaticamente a influência do ayatollah, que se mudou para Neauphle-le-Château, nos arredores de Paris, onde ganhou acesso sem precedentes aos meios de comunicação internacionais.
Jovens iranianos de toda a diáspora acorreram para se juntar ao ayatollah. A partir de França, Khomeini dava cinco a seis entrevistas diárias a jornais e televisões estrangeiras, e as suas declarações eram enviadas por fax e transmitidas diretamente para o Irão.
Os sussurros que se ouviam em Najaf tinham-se tornado um rugido trovejante que reverberava por toda Teerão. Quatro meses após a chegada de Khomeini a França, o governo do xá tinha colapsado, e o monarca foi forçado ao exílio.
A ameaça de Khomeini não tinha origem num poder convencional: o ayatollah não comandava um exército, não controlava território, não liderava um partido político. A sua influência resultava da sua poderosa mensagem ideológica.
Khomeini conseguiu fundir a teologia do martírio xiita com o fervor revolucionário anti-imperial, apresentando uma visão do mundo que retratava Reza Pahlavi como herege religioso e fantoche ocidental.
As consequências da decisão do xá repercutiram-se muito para além das fronteiras do Irão.
Em 1980, Saddam invadiu o Irão, na expectativa de que a nova República Islâmica colapsasse em semanas. Em vez disso, desencadeou uma guerra que durou oito anos, envolveu o uso de armas químicas e crianças soldados, e matou mais de um milhão de pessoas.
Em última análise, diz o The Jerusalem Post, a escolha do xá conduziu a 46 anos de governo da República Islâmica, instabilidade regional e inúmeros conflitos que continuam a influenciar a geopolítica do Médio Oriente.
É impossível prever a História alternativa que teríamos hoje para contar se o xá tivesse sido menos indulgente. Os povos e as suas dinâmicas sociais tendem a encontrar o caminho para o seu destino.
Talvez num universo paralelo, em que o ayatollah “caiu de uma janela” antes de chegar a Paris, as iranianas não sejam assassinadas na prisão, tenham o direito de votar para derrubar os seus governantes se com eles não concordarem, e possam andar de mini-saia nas ruas de Teerão.
Mas haverá na realidade alternativa desse Mundo paralelo a Paz que gostaríamos de ter no nosso?
Dizer que Neauphle-le-Château, fica nos arredores de Paris é o mesmo que dizer que Vila do Conde fica nos arredores de Braga…
para mim o problema começou aqui, foi quando lhe deram todos os meios possiveis de comunicaçao:
“Em vez disso, esta decisão amplificou dramaticamente a influência do ayatollah, que se mudou para Neauphle-le-Château, nos arredores de Paris, onde ganhou acesso sem precedentes aos meios de comunicação internacionais.”