Rússia quer criar videojogo sobre a guerra na Ucrânia

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Ministro já pediu propostas para avançar com jogo para computador, que se focaria no papel dos drones na guerra que se estende há 3 anos. Os jogos russos que o Kremlin já financiou podem dar-nos algumas pistas.

O Kremlin está a considerar o desenvolvimento de um videojogo sobre a guerra na Ucrânia, mais especificamente em volta da presença assídua de drones nos sistemas de defesa aérea na guerra que dura há 3 anos.

A sugestão foi feita pelo ministro da Indústria e Comércio da Rússia ao ministro do Desenvolvimento Digital e ao presidente da Câmara de Moscovo, avançou o jornal russo Vedomosti esta terça-feira.

Anton Alikhanov terá pedido a Maksut Shadayev e a Sergey Sobyanin que apresentassem propostas para o projeto até ao próximo dia 15 de abril. Shadayev, ministro do Desenvolvimento Digital, disse ao jornal que ainda não recebeu uma proposta formal, mas mostrou abertura a “desenvolver e promover os jogos de vídeo de criadores russos”.

Segundo o jornal russo, que cita fontes próximas do Kremlin, o desenvolvimento do eventual videojogo para computador pode vir a custar entre 1000 milhões e 5 mil milhões de rublos (cerca de 11 a 55 milhões de euros), segundo especialistas entrevistados pelo mesmo jornal.

Segundo o diretor da Organização para o Desenvolvimento da Indústria de Videojogos, há uma procura crescente por simuladores militares e jogos com temas patrióticos no país que invadiu a Ucrânia, tanto por parte de “instituições militares como educativas”. Assim, um simulador de drones na zona de “operações militares especiais” (como a Rússia se refere à invasão da Ucrânia) pode vir a ser um sucesso na indústria, acredita o responsável.

A instrução para a criação de um videojogo terá sido dada este mês, na sequência dos resultados de uma reunião realizada de fevereiro na qual participaram os ministérios que pertencem ao projeto russo “Sistemas de Aviação Não Tripulados”, que estará a desenvolver um plano para aumentar o potencial de exportação destes sistemas de origem russa.

Por enquanto, pouco se sabe sobre este videojogo. Mas os jogos que o Kremlin joga têm fama de ser nacionalistas e altamente patrióticos. São, alegadamente, financiados pelo Instituto de Desenvolvimento da Internet (IDI) criado em 2014 pelo Kremlin, que tem sido acusado de propaganda disfarçada em nome do Estado.

Jogo imagina guerra contra os EUA

Só em 2024, Smurta, Sparta e Fronte Edge surgiram nos ecrãs russos. Do ponto de vista de quem os jogou, o que contam estes videojogos aos jovens que os jogam?

Lançado em abril de 2024, “Smurta” foi anunciado como um jogo de ação e história, semelhante a grandes êxitos ocidentais como Assassin’s Creed e The Witcher. Passa-se na Rússia do séc. XVII e narra a jornada de um protagonista patriótico que luta contra invasores estrangeiros para salvar a nação, descreve o projeto da União Europeia EUvsDisinfo. Eis o trailer:

Já em “Sparta“, o jogador acompanha a história de uma empresa militar privada russa fictícia que opera numa zona de conflito africana (sem referências ao ínfame e supostamente extinto Grupo Wagner, apesar de todas as pistas apontarem para o legado do grupo de Prigozhin, que terá renascido como “Exército de África”).

O nome Sparta está diretamente ligado à agressão russa na Ucrânia: uma das primeiras unidades separatistas apoiadas pela Rússia, formada em agosto de 2014 no Donbass, chamava-se assim.

O jogo retrata os mercenários russos como defensores heroicos das nações africanas. Não é o primeiro a fazê-lo: os mercenários russos já tinham afastado os franceses do continente africano no videojogo “African Dawn”, lançado em julho do ano passado.

Já “Front Edge” parece ser o mais irrealista atualmente, dada a recente reconciliação entre Vladimir Putin e os novos EUA de Donald Trump: o jogo retrata um confronto militar direto entre forças russas e norte-americanas na Europa Oriental, com uma clara vantagem para o lado russo.

O objetivo parece ser claro: romantizar as forças armadas russas e validar a agressão em curso, num ambiente controlado e imersivo. A União Europeia impôs sanções ao IDI em junho do ano passado, altura em que identificou o órgão estatal como veículo fundamental de propaganda do Kremlin.

Tomás Guimarães, ZAP //

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