Agência russa criou veículo de notícias falso com editores fictícios, diz Facebook

A agência russa que interferiu na eleição de 2016 nos Estados Unidos (EUA) criou um órgão de comunicação de esquerda fictício, com editores falsos, para o qual contratou jornalistas reais, de forma a disseminar notícias sobre políticos norte-americanos e ingleses, informou na terça-feira o Facebook.

A última operação da Internet Research Agency (IRA) ainda estava numa fase inicial quando foi detetada, graças a uma dica do FBI, indicou o chefe de política de segurança do Facebook, Nathaniel Gleicher. A rede detinha 13 contas e duas páginas, com cerca de 14 mil seguidores no total, avançou na quarta-feira o Guardian.

As contas e páginas do Facebook foram projetadas para apoiar o PeaceData.net, um site em inglês e árabe que se identifica como uma “organização de notícias global”, mas cuja equipa editorial é fictícia. Fotos da equipa foram geradas com recurso a um tipo de Inteligência Artificial (IA) que cria imagens de rostos realistas, segundo um relatório do Graphika, empresa de análise de media social.

“Eles esforçaram-se bastante para criar personagens fictícios elaborados, tentando fazer com que as contas falsas parecessem o mais reais possível”, indicou Gleicher.

Muitos dos personagens tinham perfis no Twitter e LinkedIn. Na terça-feira, o Twitter informou que suspendeu cinco contas associadas ao PeaceData por “manipulação”, atribuídas “com segurança a atores estatais russos”. A rede social disse que as publicações das contas eram de “baixa qualidade” e em formato “spam”, e que bloquearam os links que direcionavam para o site.

De acordo com o Guardian, muito do conteúdo do PeaceData foi copiado de outros sites, embora parte tenha sido produzida por jornalistas reais contratados. Os principais tópicos do incluem conflito armado, abuso dos direitos humanos (especialmente pelos EUA e pelo Reino Unido) e corrupção, bem como teorias sobre o ‘WikiLeaks’ e a pandemia.

Quatro jornalistas que escreveram para o PeaceData disseram ao Guardian, sob anonimato, que foram abordados por um dos “editores” no Twitter, LinkedIn ou via e-mail. Dois estavam no início de carreira e dois eram repórteres mais experientes. Uma delas contou que recebeu 250 dólares (cerca de 211 euros) adiantados, algo pouco comum.

Outro explicou que foi abordado no Twitter, por mensagem, e que lhe ofereceram entre 200 a 250 dólares (entre 169 e 211 euros) por peça, mais do que normalmente recebia para escrever. “Eu só estava a tentar conseguir mais assinaturas e ser pago para fazer o que quero”, referiu.

European Parliament / Flickr

A cobertura do PeaceData sobre os EUA retrata o país como um “promotor da guerra e um violador da lei no exterior, enquanto [internamente] é atormentado pelo racismo, pela covid-19 e pelo capitalismo cruel”, apontou o relatório do Graphika.

O conteúdo do site focado nos EUA parecia projetado para conquistar “um público de esquerda e desviá-lo da campanha de [Joe] Biden”, informou o Graphika. O conteúdo com foco no Reino Unido também parecia atrair um público de esquerda, com ataques ao líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, por este ter uma postura mais centrista.

A operação teve como alvo apoiantes de Bernie Sanders e socialistas norte-americanos, bem como apoiantes de Jeremy Corbyn, no Reino Unido.

O IRA também usou utilizadores do Facebook para veicular anúncios políticos nos EUA. O Facebook implementou o processo de autorização para anunciantes políticos após a eleição de 2016, quando o IRA gastou cerca de 100 mil dólares (aproximadamente 84 mil euros) em anúncios que visavam criar divisão no eleitorado norte-americano.

Uma declaração não assinada publicada no PeaceData indicava que as alegações de que o site era “uma ferramenta de propaganda russa” eram “uma mentira horrível”.

Tanto o Facebook quanto o Graphika concluíram que a operação foi detetada e removida antes de causar danos significativos. Entretanto, o Twitter apelou aos “governos em todo o mundo” para que parem de tentar enganar os utilizadores através deste tipo de operações.

“Independentemente do impacto de baixo nível, os governos em todo o mundo devem parar com estas práticas”, escreveu a rede social. “As tentativas de manipular a nossa plataforma para minar a democracia – tanto por atores estrangeiros quanto nacionais – serão tratadas com a aplicação estrita das nossas políticas”, acrescentou.

ZAP //

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