Rússia vai lançar ataque massivo sem precedentes sobre a Ucrânia. Economia a funcionar

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Khamenei.ir / Wikimedia

Representação artística de drones Shahed-136 a atacar uma base aérea

Segundo dados revelados pela inteligência alemã, a Rússia vai triplicar o recorde actual de drones utilizados num único ataque à Ucrânia — explorando uma vulnerabilidade da defesa ucraniana: a enorme desproporção entre o custo dos drones usados no ataque e dos mísseis lançados para os parar.

A Rússia está próxima de lançar um enxame de mais de 2.000 drones contra a Ucrânia, alerta o general Christian Freuding, comandante do Centro de Situação para a Ucrânia do Ministério da Defesa da Alemanha.

É um número inédito na campanha terrorista que Vladimir Putin tem executado contra a população civil do país há mais de dois anos, diz o El Confidencial.

A escalada coincide com o significativo aumento na produção russa de veículos aéreos não tripulados: segundo a inteligência ucraniana, o Kremlin planeia produzir em 2025 cerca de 2 milhões de drones FPV e 30.000 drones de longo alcance.

Um ataque ataque massivo com 2.000 aparelhos em simultâneo representaria triplicar o recorde actual. A 9 de julho, a Rússia lançou 728 drones do tipo Shahed numa única noite, o número mais elevado registado até então.

Um enxame de 2.000 drones conseguiria saturar totalmente as defesas aéreas ucranianas, concebidas para intercetar alvos individuais ou grupos pequenos — não estando preparadas para bloquear vagas massivas de aparelhos baratos, que custam entre 30.000 e 50.000 euros cada um.

A ameaça russa explora uma vulnerabilidade fundamental dos sistemas de defesa: o custo desproporcionado entre o ataque e a defensa.

Um drone Shahed, habitualmente produzido nas instalações russas de Alabuga, custa cerca de 40.000 euros, enquanto o míssil que é lançado para o interceptar custa entre 10 a 100 vezes mais. Esta enorme desproporção de 1 para 125 transforma cada interceção numa vitória económica para Moscovo.

“As atuais soluções de defesa antiaérea são economicamente insustentáveis quando utilizadas contra drones relativamente baratos”, declarou Freuding numa entrevista ao podcast Nachgefragt da Bundeswehr.

O general alemão insiste na necessidade urgente de desenvolver contramedidas que custem entre 2.000 e 4.000 euros por interceção, uma fração do preço actual dos sistemas avançados.

A escalada de ataques com drones russos tem crescido exponencialmente. Entre setembro de 2022 e agosto de 2023, a Rússia lançou cerca de 2.000 drones Shahed contra a Ucrânia. Esse número disparou em 2025: em junho Moscovo disparou um recorde de 5.337 drones, mais do dobro de todo o primeiro ano de ataques.

A capacidade russa para sustentar ataques massivos baseia-se na expansão industrial das suas instalações de produção, entretanto reforçada por uma mudança de política chinesa que alterou o equilíbrio tecnológico do conflito.

Pequim deixou de fornecer componentes de drones à Ucrânia e reorientou as suas exportações para a Rússia.

“Esta medida limitou significativamente o acesso da Ucrânia a tecnologias essenciais relacionadas com os drones”, declarou o general alemão. A mudança chinesa representa um golpe estratégico para Kiev, que dependia de componentes eletrónicos chineses para a sua própria produção de drones.

Enquanto a Ucrânia vê cortado o fornecimento de peças críticas, a Rússia acede à mesma tecnologia para alimentar as suas fábricas de armas. Esta assimetria no acesso a componentes pode determinar o curso futuro da guerra aérea não tripulada, diz Freuding.

Apesar das limitações de fornecimento, a Ucrânia conseguiu expandir dramaticamente a sua própria capacidade de produção de drones.

O então ministro da Defesa, Rustem Umerov, declarou a 26 de junho que Kiev tem atualmente capacidade para produzir 4 milhões de drones anuais.

O presidente Volodymyr Zelensky afirmou que a Ucrânia conseguiria produzir até 8 milhões de drones por ano, embora careça do apoio financeiro internacional para alcançar esse potencial.

Esta corrida de produção entre a Rússia e a Ucrânia é o exemplo mais claro de como a guerra do futuro é já uma competição industrial — onde a capacidade produtiva pode resultar mais decisiva que a superioridade tática tradicional.

ZAP //

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