Martin Divisek / EPA

Autoridades russas detiveram um grande número de civis em todas as províncias que passaram a controlar no país vizinho. Peritos dizem que foram transferidos para centros de detenção em áreas da Ucrânia ocupada.
Os desaparecimentos forçados cometidos por autoridades russas na Ucrânia podem configurar crimes contra a humanidade.
A conclusão faz parte de um relatório da Comissão Independente Internacional de Inquérito sobre a Ucrânia, apresentado ao Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, na Suíça.
Os desaparecimentos foram praticados de forma sistemática e em grande escala contra civis após a invasão russa da nação vizinha.
O relatório revela que as vítimas incluem autoridades e funcionários públicos, jornalistas e outros indivíduos considerados ameaças ou inimigos dos alvos militares russos na Ucrânia. Muitos prisioneiros de guerra também desapareceram.
Os peritos afirmam que as autoridades russas transferiram as vítimas para centros de detenção em áreas da Ucrânia ocupadas pelos russos. Vários prisioneiros foram deportados para a Rússia e foram alvo de graves violações e crimes, incluindo tortura e violência sexual.
Autoridades não dizem onde estão os presos
Muitas pessoas estão desaparecidas há meses e até anos, algumas já morreram. O paradeiro de vários detidos continua por esclarecer, enquanto as famílias são empurradas para a agonia e incerteza.
As autoridades russas, quando questionadas pelas famílias, dão respostas vagas e padronizadas. A Comissão de Inquérito considera que a falta de informação demonstra a intenção das autoridades russas de negar a proteção da lei às vítimas.
As provas recolhidas pela Comissão levaram os peritos a concluir que os desaparecimentos forçados foram perpetrados como parte de uma política coordenada de Estado e configuram crimes contra a humanidade.
Espancado ao perguntar pela namorada
Aguns dos familiares das vítimas enfrentaram sérios riscos ao tentarem procurá-las.
Uma jovem, cujo pai desapareceu após ter sido detido pela polícia russa, em março de 2022, recorda-se de ter perguntado às autoridades pelo paradeiro do pai, que sofre de graves problemas de saúde mental. Um outro jovem foi detido e espancado enquanto procurava a namorada que tinha desaparecido.
A Comissão disse ao Conselho de Direitos Humanos que as autoridades russas usaram a tortura como crime contra a humanidade. Investigações recentes confirmam que membros do Serviço Federal de Segurança estiveram presentes nos centros de detenção em várias fases da prisão, especialmente durante os interrogatórios, nos quais foram aplicados alguns dos tratamentos mais brutais.
Avô detido e “ameaçado de espancamento em frente às netas”
Um detido de 56 anos recorda-se de que os funcionários do Serviço de Segurança ordenaram que lhe fossem aplicados choques elétricos e ainda fizeram pouco dele, dizendo que “não seria poupado por causa da idade avançada”.
Os investigadores disseram-lhe para voltar ao quarto e “pensar melhor nas respostas” e que, caso o seu “cérebro não funcionasse”, as netas seriam levadas para a esquadra para o verem a ser espancado em tempo real.
Além destes casos de abusos, a Comissão relatou que algumas detidas foram sujeitas a violência sexual, incluindo violações.
O grupo examinou um número crescente de incidentes em que soldados russos mataram ou feriram forças ucranianas que tinham sido capturadas ou que tentavam render-se. Estes casos foram classificados como crimes de guerra.
// Onu News
Guerra na Ucrânia
-
20 Março, 2025 Um avô ameaçado e um jovem espancado. Os desaparecimentos forçados pela Rússia na Ucrânia