O primeiro encontro de Rui Rio e André Silva foi um tanto ou quanto turbulento. O dirigente do PAN conseguiu pôr o líder do PSD a falar sobre animais e questões ambientais, mas, entre muitos ataques e acusações, os candidatos só concordaram num único princípio: a declaração de emergência climática.
Rui Rio e André Silva nunca se tinham visto até se cruzarem esta segunda-feira, nos estúdios da RTP, para um debate de pré-campanha que deixou claro que será difícil serem parceiros no futuro.
Serviço nacional de saúde para animais, política de ambiente, transição energética, emergência climática e descarbonização da economia foram os temas centrais deste duelo, que colocou André Silva confortável para ditar as regras do jogo.
O presidente do PSD começou por dizer que a ideia que tem do PAN “é a ideia que têm todos os portugueses, um partido muito aguerrido numa área, que é a área da defesa dos direitos dos animais, menos aguerrido mas ainda assim vocacionado para a área do ambiente, mas depois naturalmente é um partido pequeno, ainda está a nascer, falta-lhe depois o resto da componente para lá disto”.
“Se crescer há de aparecer, mas neste momento é um partido de nicho que consegue os votos de muita gente descontente com o sistema”, atirou o líder social-democrata, acrescentando que, em relação aos direitos dos animais, o PAN “tem uma visão fundamentalista destas questões”.
“O que nós não somos é fundamentalistas, isso é que não, isto aqui é uma distinção muito grande entre o PAN e o PSD. Diria mesmo gigantesca.” Por esse motivo, Rio considera que é preciso “ter bom senso”, comentando diretamente uma das medidas do PAN.
“Vou gastar dinheiro no Serviço Nacional de Saúde, entre aspas, dos animais quando tenho o Serviço Nacional de Saúde português, para as pessoas, a funcionar como está a funcionar? Não acho equilibrado.”
André Silva contra-atacou, defendendo que “o PSD há muito tempo que deixou de ser social-democrata, deslocou-se bastante para a sua direita”. “Rui Rio diz que não disputa eleitorado com o CDS, mas a perspetiva que os portugueses têm é de facto que há um vazio imenso político no campo do centro”, sublinhou André Silva, arriscando-se mesmo a dizer que o partido de Rui Rio “está bastante encostado às políticas do CDS.”
Num exercício de memória, Rui Rio tentou lembrar que o PAN “ainda não era nascido” quando o PSD andava já a defender o ambiente, uma vez que o primeiro secretário de Estado do Ambiente que alguma vez se sentou num Governo português, Carlos Pimenta, era do PSD. Mas André Silva não se contentou e pediu medidas concretas e adequadas ao século XXI: “isso é ecologiazinha dos anos 80“.
Para o deputado único do Pessoas-Animais-Natureza, o PSD “não tem uma única proposta sobre a proteção animal” e “tem uma visão da economia do século passado“. Face aos ataques constantes de André Silva, Rui Rio aconselhou o líder do PAN a ler melhor o programa eleitoral do PSD, mostrando assim que, se chegasse ao Governo e precisasse de interlocutores para dialogar, era muito pouco provável que o PAN fosse um dos escolhidos.
“Conversar, podemos conversar sempre, mas era difícil sermos parceiros”, admitiu o líder dos sociais-democratas. O primeiro encontro entre os líderes partidários foi um tanto ou quanto turbulento.
“O PSD quer é pôr os idosos a trabalhar em part-time“
“O idoso desprotegido tem um animal de companhia e isso é relevante na sua vida, mas prefiro pegar no dinheiro e dar garantias a esse idoso no âmbito do SNS”, assumiu Rui Rio, referindo-se à polémica medida do PAN.
André Silva aproveitou para responder que “o PSD quer é pôr os idosos a trabalhar em part-time, depois de se reformarem“. Em contrapartida, “o PAN quer permitir os idosos descansarem depois da reforma“.
“Aquilo que está no programa do PSD é a possibilidade de a pessoa, antes de entrar na reforma, possa trabalhar em part-time. A pessoa na terça está a trabalhar, na quarta não tem nada para fazer. O PSD quer é permitir que a entrada na reforma seja mais faseada”, explicou Rui Rio, negando o que André Silva havia dito anteriormente.
“Há partes do programa que posso não conhecer porque não fui eu que redigi. Mas essa conheço.”
Declaração de emergência climática: ambos concordam
Há concordância, mas ficam-se por aí. “É um ato político que nos vincula a um projeto para descarbonizar a economia”, explicou Rio, que disse estar de acordo com o Bloco de Esquerda quando o partido de Catarina Martins escreve em cartazes que não há planeta B. “Estou de acordo. Não há planeta B. O planeta que vamos deixar às gerações seguintes tem de ter condições de habitabilidade.”
Mas, mais uma vez, a resposta de Rui Rio não encheu as medidas de André Silva, que exigiu mais do que isso ao PSD. “Não explica como fazemos a transição energética. O PSD não tem um projeto para a economia do século XXI.”
“Assumir e reconhecer é tudo o que devemos fazer para que, até 2030, não atinjamos o ponto de não retorno. É a partir dessa contestação que temos de intervir. Temos de tirar os carros das cidades e investir nos transportes coletivos, por exemplo. Temos de adequar o modelo económico à sustentabilidade e não encontramos isso no projeto do PSD. O PSD não tem uma estratégia sólida para a descarbonização da economia”, concluiu.
Rui Rio acenou com a cabeça, disse concordar com o líder do PAN, mas colocou um senão em cima da mesa: “Concordo com tudo menos com a parte do PSD não ter medidas que vão ao encontro disso no seu programa eleitoral. É preciso apostar nas energias renováveis e na economia circular. O PAN ainda não era nascido e já o PSD andava aqui há muito tempo.”
Montijo, Alcochete ou Beja?
Quanto à nova solução aeroportuária do Montijo, o candidato do PSD pelo Porto sublinhou que se o estudo de impacte ambiental e a discussão pública associada mostrarem que “o impacto é exagerado e não há medidas para o atenuar o suficiente, ou que saem caríssimas”, a posição do PSD é que “poderá ser avisado a reapreciação de Alcochete“.
Já o PAN defende a solução de Beja. “O PSD tem o princípio do estraga primeiro e responde depois. A nossa posição mantém-se. Precisamos, antes de mais, de perceber qual a capacidade de carga turística do país e só a partir daí ter políticas de expansionismo”, justificou André Silva.
Face a esta resposta, Rui Rio apontou a distância de Beja face à capital. “Beja fica a não sei quantos quilómetros de Lisboa…”
E o que mudaram na sua vida em função do ambiente?
Na última pergunta, Rui Rio e André Silva foram brindados com um desafio: dar um exemplo de algo que tenham mudado na sua vida pessoal em função da defesa do ambiente.
Rui Rio foi tenaz, chegando ao ponto de mostrar um comprovativo de uma transferência bancária, feita esta segunda-feira pelas 15h15, na caixa multibanco perto da sua casa, no Porto. “Paguei 1.282 euros para mudar a caldeira da minha casa para uma mais moderna que produz menos monóxido de carbono. Tenho aqui o comprovativo da transferência bancária, foi este o meu contributo.”
Já André Silva respondeu: “Hoje em dia ando de transportes públicos e não como carne nem qualquer produto de origem animal.”
Vi o debate e confirmei a ideia que tinha previamente. Este líder do PAN é só tretas. É só jargões e frases feitas sem qualquer sentido de estado, sem quantificar, como se o país vivesse na abundância. Um profundo irresponsável e ainda por cima sem conhecimentos técnicos (ou pelo menos não os exprimindo) ficando-se sempre pela rama. Estranho que uma pessoa assim consiga convencer tantos portugueses a avaliar pelas sondagens. Em parte acredito que quem vota também desconhece os assuntos. Para quem lida diariamente com questões do ambiente isto é tudo uma treta pegada. Faz falta um verdadeiro partido ecologista em Portugal mas não pode ser este. Tem de ser uma coisa séria.