Aos 24 anos, Han Kwang-song não é visto desde 2020. Temia-se que a esmagadora maioria do seu salário fosse canalizado para o programa nuclear da Coreia do Norte.
Han Kwang-song não é propriamente um nome sonante, mas chegou a ser comparado a Cristiano Ronaldo. O avançado tem uma particularidade que o torna um caso de estudo: é norte-coreano. Ao contrário da maioria dos jogadores da Coreia do Norte, que dificilmente saem do país ou do continente, Han Kwang-song chegou à Europa.
Tudo começou quando o atual líder norte-coreano Kim Jong-un chegou ao poder, em 2012. A partir daí, o futebol começou a ganhar relevância no país. Pyongyang começou não só a focar-se na formação de atletas, mas também a procurar academias europeias que estivessem dispostos a recebê-los.
Itália tornou-se casa para muitos deles. Curiosamente, os dois países têm uma boa relação. Quando ainda Kim Jong-un era virtualmente desconhecido, viveu na Suíça e costumava ir a San Siro ver jogos de futebol, já que era um adepto do Inter.
Depois de dois anos de formação em Espanha, o Liverpool chegou a tentar convencer o jovem a mudar-se para Anfield. No entanto, as negociações tinham os dias contados, já que muito provavelmente o Governo britânico vetaria o acordo, dadas as sanções aplicadas à Coreia do Norte.
Havia o receio de que parte do salário pago a Han Kwang-song fosse canalizado para o regime norte-coreano, potencialmente sendo utilizado no programa de mísseis nucleares do país.
Han Kwang-song poderá ter enviado grande parte do seu salário para o regime de Kim Jong-un, acreditam especialistas citados pelo The Sun.
“A maior parte, senão o salário integral, iria para o Governo”, disse Ramon Pacheco Pardo, professor no King’s College London. Normalmente, o trabalhador só retém uma pequena parte do salário para pagar as suas despesas”.
Itália não olhou a este problema e, em 2015, o jovem de apenas 17 anos assinou pelo Cagliari, onde jogou ao lado do ex-internacional português Bruno Alves. No Cagliari, Han ficava com apenas 1.500 euros, segundo o jornal Marca, citando jornalistas desportivos da Coreia do Norte.
No seu primeiro encontro, um amigável contra as reservas do clube, Han marcou um hat-trick. Eventualmente, o norte-coreano começou a treinar com a primeira equipa e, no seu segundo jogo, marcou o golo da vitória aos 90+5′, após ter entrado em campo só aos 81 minutos.
Desta forma, Han Kwang-song tornou-se o primeiro norte-coreano a marcar um golo na Serie A e começou a atrair a atenção mediática internacional.
Ainda assim, sem grande espaço na equipa do Cagliari, o jovem foi emprestado por duas vezes ao Peruggia, da segunda divisão. Lá, Han voltou a brilhar e conquistou uma transferência para a Juventus.
Quando ainda estava no Peruggia, Han foi convidado para ir ao “La Domenica Sportiva”, um conhecido programa desportivo em Itália. Contudo, instantes antes, o governo de Pyongyang ligou-lhe e terá ordenado a proibição do jogador fazer uma aparição pública, de acordo com o La Stampa.
“Negociar era impossível porque Pyongyang quer falar única e exclusivamente com Han”, disse o presidente do Peruggia, na altura. “A situação com o seu governo tornou-se ainda mais rígida e os seus jogadores de futebol foram proibidos de aparecer na TV, caso contrário, eram repatriados. Han está com medo”.
No entanto, as ONU decidiu, em dezembro de 2017, que todos os seus membros deveriam repatriar, nos 24 meses seguintes, os norte-coreanos a trabalhar no país. A data limite terminou precisamente em 2019, quando Han Kwang-son estava em Turim. Assim, o avançado acabou por se transferir para o Al-Duhail, do Qatar.
A transferência para o emblema qatari violou as sanções da ONU, levando a que o avançado deixasse de poder jogar pelo clube. O seu último jogo foi no dia 21 de agosto de 2020. Desde então, o jovem não voltou a jogar e ninguém sabe do seu paradeiro.