Após Cristiano Ronaldo ter removido duas garrafas de Coca Cola da mesa onde se sentou para uma conferência de imprensa no Euro 2020, foi a vez do francês Paul Pogba ter feito o mesmo com uma garrafa de Heineken. Gestos que dão que falar e que poderiam valer sanções aos atletas.
Após a vitória da França sobre a Alemanha, por 1-0, na primeira jornada do Grupo F do Euro 2020, Paul Pogba retirou uma garrafa de cerveja da marca Heineken da mesa da conferência de imprensa, colocando-a temporariamente no chão.
Quando deixou a sala, voltou a colocá-la no lugar num gesto que replicou aquilo que tinha acontecido antes com Cristiano Ronaldo.
O capitão da Selecção Portuguesa retirou duas garrafas de Coca Cola do ângulo de visão das câmaras durante outra conferência de imprensa. E ainda atirou aos jornalistas presentes “água” enquanto acenava com uma garrafa deste líquido.
A postura de Ronaldo valeu-lhe muitas críticas, mas também elogios, pois reflecte a sua dedicação a uma vida e alimentação saudáveis. O craque já confessou que não gosta que o filho beba refrigerantes, nem que coma batatas fritas.
No caso de Pogba, o caso com a Heineken terá a ver com questões religiosas, uma vez que o jogador francês é muçulmano e o Islão proíbe o consumo de álcool.
Em eventos desportivos que patrocina a Heineken costuma apresentar as versões sem álcool da sua cerveja. Mas nem assim Pogba quis ver a sua imagem associada à marca.
Portugal e França poderiam ser sancionados
Os dois episódios caricatos têm feito as delícias das redes sociais, com debates sobre se Pogba e Ronaldo estiveram bem ou mal nos seus gestos.
O que é certo é que o comportamento poderia valer-lhes sanções da UEFA por eventuais “feridas” causadas às duas marcas que são patrocinadoras do Euro 2020.
A UEFA tem um regulamento específico para lidar com as questões comerciais associadas às suas competições e que vincula todos os participantes nas mesmas, desde jogadores a treinadores e dirigentes. É uma forma de proteger os acordos estabelecidos com os patrocinadores.
Assim, perante os comportamentos de Ronaldo e Pogba que podem ter provocado “prejuízo a um patrocinador da competição”, a UEFA poderia “considerar impor alguma sanção” às Federações Portuguesa e Francesa, como nota o advogado especialista em direito desportivo, Marcel Belfiore, em declarações ao blogue brasileiro Lei em Campo.
As duas Federações, por seu lado, poderiam aplicar penas aos jogadores por terem a responsabilidade pela “infracção”, aponta ainda.
“Mas tudo isso dependerá, evidentemente, de uma análise comercial dos impactos que eventual punição poderá trazer à imagem da competição e do patrocinador, que poderiam ir além dos impactos já causados pelo acto do jogador”, acrescenta Marcel Belfiore.
Portanto, aplicar sanções a Pogba e Ronaldo poderia até tornar-se ainda mais negativo para a Heineken e a Coca Cola do que os gestos assumidos por ambos.
“Vale a pena combater um ícone global como Ronaldo?”
“Vale a pena para a empresa buscar um embate com um ícone global como o Cristiano Ronaldo?”, questiona outro advogado especialista em direito desportivo, Tiago Gomes, no mesmo blogue.
Por um lado, Tiago Gomes nota que “a Coca-Cola não pode falar em prejuízo”, pois “é praticamente impossível demonstrar uma relação de causa e efeito” entre o gesto de Ronaldo e uma alegada queda de acções da empresa na Bolsa de Valores. Essa queda já estaria, aliás, a acontecer antes da atitude do jogador.
Mas, por outro lado, “se, por simplesmente afastar as garrafas do refrigerante e pedir que as pessoas bebam água, que não é um concorrente da Coca Cola, [Ronaldo] causou tanto impacto no valor de mercado das acções, imagine o dano que ele pode causar se efectivamente se dedicar a combater o produto, algo que pode fazer livremente fora do ambiente da competição”, aponta ainda Tiago Gomes.
Portanto, é improvável que Coca Cola e Heineken iniciem uma batalha com dois grandes craques do futebol e de quem ainda se espera muito neste Europeu.