A Rússia tinha lançado uma campanha em grande escala para promover o candidato mais votado na primeira volta, Calin Georgescu.
O Tribunal Constitucional romeno anulou hoje os resultados da primeira volta das eleições presidenciais, realizadas a 24 de novembro, a dois dias da segunda volta — uma decisão sem precedentes, que tem carácter definitivo.
A decisão foi tomada depois de o Presidente Klaus Iohannis ter desclassificado, na quarta-feira, informações que alegavam que a Rússia tinha levado a cabo uma campanha em grande escala, com milhares de contas nas redes sociais, para promover o ultranacionalista Calin Georgescu, vencedor da primeira volta, em plataformas como o TikTok e o Telegram.
A rede de 25.000 contas TikTok e grupos de Telegram, que forma coordenados desde 2022, alargou a presença de Georgescu, apoiada por um milhão de euros em financiamento externo, pagamentos a influenciadores e técnicas avançadas para evitar a deteção de “bots”.
Contra as expectativas e o que indicavam as sondagens, que lhe davam 6% de intenções de voto, Georgescu emergiu como o principal candidato em 24 de novembro, com 23% dos votos.
O candidato, considerado pró-russo, declarou não ter gasto nada na campanha.
Os romenos deveriam ir às urnas no domingo para a segunda volta das eleições presidenciais, para escolher entre Calin Georgescu e a conservadora e pró-europeia Elena Lasconi.
O Tribunal Constitucional da Roménia tinha validado na segunda-feira, após nova contagem, os resultados da primeira volta das eleições presidenciais, realizadas em 24 de novembro e marcadas pela surpreendente vitória de Georgescu.
Num país em clima de turbulência política, a decisão do Tribunal Constitucional tinha clarificado a situação e permitido uma segunda volta das eleições presidenciais no domingo, nas condições inicialmente previstas.
Primeiro-ministro romeno apoia decisão
O primeiro-ministro romeno, o social-democrata Marcel Ciolacu, qualificou como “justa” a decisão do Tribunal Constitucional de anular a primeira volta das eleições presidenciais devido à interferência russa que favoreceu Calin Georgescu.
“A decisão do Tribunal Constitucional sobre a anulação das eleições presidenciais é a única solução justa”, comentou Ciolacu numa mensagem na rede social Facebook, acrescentando que os documentos desclassificados mostram que o resultado “foi flagrantemente distorcido como consequência da intervenção da Rússia”.
O primeiro-ministro defendeu que as eleições presidenciais devem ser repetidas e que as investigações oficiais devem esclarecer quem são os culpados desta interferência, sendo necessárias “evidências sólidas” para que os romenos mantenham a confiança nas instituições e nos processos democráticos.
“O processo de eleição do presidente da Roménia será reiniciado na sua totalidade e cabe ao Governo estabelecer uma nova data para as eleições”, informou o Tribunal Constitucional na sua decisão inédita em 35 anos de democracia da Roménia, com 19 milhões de habitantes e membro da União Europeia e da NATO.
Já a opositora de Geogescu na segunda volta, Elena Lasconi, líder da formação centrista União Salvar a Roménia (USR), criticou a decisão judicial.
“Hoje é o momento em que o Estado romeno humilhou a democracia. Deus, o povo romeno, a verdade e a lei prevalecerão e punirão os culpados de destruir a nossa democracia”, disse Lasconi.
Por sua vez, George Simion, líder da ultranacionalista Aliança para a União dos Romenos (AUR), descreveu a decisão como uma “vergonha e um golpe de Estado”.
Simion apelou aos apoiantes para não contestarem a decisão nas ruas de forma a evitar confrontos: “Não iremos para a rua, eles não nos vão provocar. Este sistema deve cair democraticamente!”.
A breve declaração que anuncia a decisão do tribunal não deu informações sobre os motivos desta anulação, limitando-se a informar que as razões serão publicadas na íntegra da resolução no Jornal Oficial.
Marcel Ciolacu defendeu ser “extremamente importante validar os mandatos do novo Parlamento e alcançar uma maioria parlamentar pró-europeia”, numa referência às eleições legislativas em que as forças pró-europeias obtiveram o apoio de mais de 55% dos votos.
Nestas eleições, os três partidos ultranacionalistas obtiveram mais de 30% dos votos.
ZAP // Lusa