“É a afirmação da vida”. Riso ajudou humanos a sobreviver, sugere estudo

Várias teorias têm procurado explicar o que torna algo engraçado o suficiente para nos fazer rir – incluindo a transgressão, a quebra da arrogância ou da superioridade e a incongruência. Uma nova análise sugere agora uma perspetiva diferente.

Num estudo que será publicado na New Ideas in Psychology, o investigador Carlo Valerio Bellieni fez uma revisão à literatura publicada ao longo dos últimos dez anos, concluindo que o riso é uma ferramenta que a natureza pode ter proporcionado para ajudar os humanos a sobreviver.

Os mais de 150 trabalhos analisados pelo especialista incluíam informação sobre as características físicas do riso, os centros cerebrais relacionados com a produção do riso e os seus benefícios para a saúde.

De acordo com Bellieni, o riso é um processo com três etapas: primeiro, precisa de uma situação que pareça estranha e induza uma sensação de incongruência; segundo, a preocupação ou o stress que a situação incongruente provocou tem de ser trabalhada e ultrapassada; e terceiro, a verdadeira libertação do riso atua como uma sirene que alerta os espetadores de que estão seguros.

Como explicou o especialista num artigo do Conversation, o riso pode ser um sinal que as pessoas têm usado durante milénios para mostrar aos outros “que não é necessária uma luta e que a ameaça percebida já passou”.

“É por isso que o riso é muitas vezes contagioso: une-nos, torna-nos mais sociáveis, assinala o fim do medo ou da preocupação. O riso é a afirmação da vida”, referiu.

Num estudo anterior sobre o comportamento humano do choro, o especialista já tinha demonstrado que o riso tem uma forte importância para a fisiologia do corpo. Tal como chorar – e mastigar, respirar ou andar – o riso é um comportamento rítmico, um mecanismo de libertação.

Como esclareceu, os centros cerebrais que regulam o riso também controlam as emoções, os medos e a ansiedade. A libertação do riso quebra o stress e a tensão de uma situação e causa uma sensação de alívio.

O humor é também utilizado em ambientes hospitalares para ajudar os pacientes, como apontou outro estudo. Pode ainda melhorar a pressão arterial e as defesas imunitárias e ajudar a superar a ansiedade e a depressão.

A investigação conduzida por Bellieni mostrou igualmente que o humor é importante no ensino e é utilizado para enfatizar conceitos e pensamentos. Este cria um ambiente de aprendizagem mais relaxado e produtivo, reduzindo a ansiedade e aumentando a participação e a motivação.

A revisão destes dados também permite levantar uma hipótese sobre a razão pela qual as pessoas se apaixonam por alguém que “as faz rir”.

“Não é apenas uma questão de ser engraçado. Se o riso de outra pessoa provoca o nosso, então essa pessoa está a sinalizar que podemos relaxar, que estamos a salvo – e isto cria confiança”, indicou o especialista.

“Se o riso é desencadeado pelas suas piadas, tem o efeito de nos fazer superar os medos causados por uma situação estranha ou desconhecida. E se a capacidade de alguém ser engraçado nos leva a superar os medos, sentimo-nos mais atraídos. Isso pode explicar porque é que adoramos aqueles que nos fazem rir”, concluiu.

Taísa Pagno //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.