O rio Douro, no Porto, está castanho, mas há uma explicação para o fenómeno natural. A cor deve-se a argilas que escorreram das encostas devido às chuvas intensas do mês de dezembro.
Em declarações ao Jornal de Notícias, Adriano Bordalo e Sá, investigador e hidrobiólogo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), explicou que as águas trouxeram argilas das encostas para o leito do rio.
Segundo o investigador, as tempestades Elsa e Fabien, que passaram por Portugal nas últimas semanas, deixaram os solos saturados e impermeáveis, o que permitiu que as águas dos afluentes do rio Douro escorressem para o curso principal com as argilas dos solos. O processo proporciona uma cor de barro ao rio.
Porém, não há nada a temer. Além de ser um fenómeno natural, também um fenómeno “ótimo” para o rio Douro, segundo Bordalo e Sá. É que a argila é uma espécie de “adubo natural” que “vai fertilizar naturalmente a água do rio e depois a do mar”, enriquecendo as águas e as algas.
“Estes materiais ficam, normalmente, retidos nas barragens. Com as cheias, foi preciso aliviar essa carga de água e esses materiais vão fertilizar o rio e o mar”, acrescentou o investigador ao JN.
A mesma explicação foi dada ao Observador por Mário Luís Marques, meteorologista e climatologista, que explicou que, apesar de ser uma manifestação normal, não tem uma causa natural. Depois de alguns dias de grande produção energética nas barragens e, portanto, de acumulação de água, está a haver descargas sucessivas de água para o rio Douro.
Segundo Mário Luís Marques, terá sido libertada água de pelo menos cinco barragens desde a Régua. “Isto já aconteceu em anos anteriores em que choveu muito. As barragens acumulam água, há uma capacidade de encaixe, produção elétrica e depois há necessidade de fazer um vazamento. É uma situação normal dada a acumulação de sedimentos nas albufeiras e nas barragens, com detritos mais argilosos”, concluiu ao Observador.
Verdade de La Palisse, sempre foi assim, com cheias o rio Douro fica entre castanho claro e mesmo dourado, daí o seu nome. Todo o nortenho sabe disso …
Não há mal nenhum em explicar, ao menos divulga-se um pouco de cultura científica.
Acontece que as argilas não vão apenas “fertilizar” o Rio Douro e o mar posteriormente, porque tratando-se colóides, são dotadas de carga eléctrica negativa, além de nutrientes minerais catiões, como por exemplo amónia (NH4+), trazem atrás de sí outros compostos, complexados às ditas argilas, tais como pesticidas (herbicidas, inseticidas e fungicidas) ou produtos da degradação destes, sempre que os seus componentes possuam carga eléctrica positiva…Dito de outra forma, perde-se uma pequena (mas importante) parte da composição dos solos das encostas do Douro, já de si delgados, com muitos elementos grosseiros e pequeno teor de argilas, mas também se libertam de alguns compostos tóxicos, por lexiviação em profundidade e por escorrimento superficial…e aqui entra em ação o Rio Douro e…como diz o povo “não há bela sem senão!”
E já agora o que se perde mais são milhões de litros de água que vai a caminho do mar que nalguns casos provocou até inundações e que poderiam encher as barragens alentejanas e algarvias que estão a menos de metade da sua capacidade, caso já tivesse-mos tido políticos com uma visão um pouco mais abrangente para mandar construir canais para transvase de água de Norte para Sul. Daqui por pouco tempo teremos a choradeira habitual enquanto os vizinhos do lado se vão aproveitando do que têm e rindo da nossa ingenuidade.
Concordo consigo! Terá que ser uma obra para atravessar vários governos. Será dispendiosa mas terá bom retorno.
Ou muito me engano, o Sr. “de mal a pior” deve ser do sul de Portugal. Não afirmo que essas obras não sejam importantes mas, não se esqueçam “dos conflitos originados pela água – pela falta dela – não são uma novidade. Há séculos que agressões e homicídio por “questões de água” acontecem entre nós em zonas rurais, sobretudo no norte do país”. Compreendo perfeitamente quando refere que tais transvases devam ser feitos, mas só nos momentos em que no Norte de Portugal “se perdem milhões de litros de água que vai a caminho do mar”. TEM TODA A RAZÃO mas, tenho muito receio que após se terem construído esses canais que conduzem a água dos rios do Norte para os rios do Sul, sejam aproveitados para fazer transvases durante a época estival. Como sabe, a maioria dos votantes encontram-se na região da Grande Lisboa e os políticos para agradarem os cidadãos que mais votam, ainda se lembrariam de mandar fazer transvases durante a época estival e aí voltaríamos a ter agressões e homicídio por “questões de água” que acontecem entre nós em zonas rurais, sobretudo no norte do país”. Há que ponderar bem.
Julgo que este jornal deve se ter errado ao informar que o meteorologista Mário Luís Marques disse que, terá sido libertada água de pelo menos cinco barragens desde a Régua, ou então foi um lapso do próprio meteorologista. A montante da Régua, por exemplo, nos dias 27 e 28 de dezembro de 2019 e imediatamente após a barragem do Pocinho já visualizei o rio Douro com a cor muito acastanhada, ou seja, tal fenómeno não só ocorreu nas barragens a jusante da Régua (“desde a Régua”), mas sim desde as barragens que existem no Douro internacional. Isto é só uma pequena correção da redação do texto ou, eventualmente o meteorologista se tenha equivocado.