No domingo passado, num artigo de opinião, publicado no jornal Público, Pedro Nuno Santos apontou o dedo a António Costa pela posição oficial assumida nas eleições presidenciais. “Revejo-me no artigo”, disse agora Duarte Cordeiro.
De acordo com o jornal Público, Duarte Cordeiro, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, não quis fazer grandes comentários, dizendo apenas “revejo-me no artigo”.
Segundo o jornal, o socialista apoia tese de recusa liminar de um PS “centrista” tal como foi defendida por Pedro Nuno Santos. Duarte Cordeiro assinou com o ministro das Infraestruturas a moção setorial ao último congresso do PS que levou Costa a dizer “aviso já que não meti os papéis para a reforma”.
No artigo de opinião, Pedro Nuno Santos afirma que a ausência do PS do combate das Presidenciais acabou a favorecer a “afirmação do candidato da extrema-direita” – André Ventura.
Alguns setores do partido consideram que este foi um “mau timing”, com prejuízo da unidade do Governo, que está a viver os piores momentos da gestão da pandemia de covid-19. Mesmo entre alguns apoiantes de Pedro Nuno Santos, pensa-se que a oportunidade não foi a melhor.
No Twitter, por exemplo, o autarca socialista Pedro Costa, filho de António Costa, deixou esta segunda-feira uma reflexão, sem apontar o dedo a ninguém concretamente. “Neste momento pós-eleitoral, aos democratas pede-se uma reflexão sobre os problemas que fazem crescer movimentos radicais. Não mascaremos questões políticas com pura tática, daí não tiraremos nenhum resultado útil”.
Há quem acredite que a candidatura de Ana Gomes criou um tampão à extrema-direita. Por outro lado, um dirigente socialista disse, em declarações ao Observador, que Ana Gomes “não era a alternativa” a Marcelo. “Ana Gomes escolheu fazer campanha a falar num bom PS contra um mau PS e isso é um erro”, disse sublinhando que muitos socialistas não se reveem nesse discurso.
Ao recusar o PS centrista, Pedro Nuno Santos entra em conflito com António Costa e com a ala mais centrista do PS.
Costa quer congresso em julho
No início de janeiro de 2020, o XXIII Congresso dos socialistas foi marcado para 30 e 31 de Maio, em Portimão. Entretanto, a pandemia adiou-o. Em cima da mesa está a possibilidade de se realizar depois da primavera numa fórmula mais minimal.
Segundo a Renascença, para a direção do PS, o ideal é que se realize “o mais longe possível deste planalto covid e o mais antes possível das autárquicas”.
O Observador avança que, na sexta-feira passada, a direção socialista reuniu-se e decidiu que vai propor à Comissão Nacional do partido que o congresso se realize só em julho e “em modo Covid”.
Costa prepara-se para separar no tempo o momento de reflexão do partido das eleições presidenciais onde o PS não apoiou nenhum candidato, o que tem suscitado discussão interna. O partido não vai ter a habitual reunião interna na comissão política nacional, que costuma analisar resultados eleitorais.
Sobre a possibilidade de o assunto suscitar afirmações públicas de dirigentes, um dirigente do partido considerou, em declarações ao Observador, que não produz grandes fraturas internas nesta fase. “São mais as nozes do que as vozes”, comentou
Resta saber se Pedro Nuno Santos volta a apresentar uma moção setorial ao Congresso e a protagonizar uma linha política diferente daquela que é seguida por Costa.
Em janeiro, Ana Gomes prometeu encorajar Pedro Nuno Santos a avançar para a liderança do PS. “Penso que esse debate com um membro deste Governo que tem visão e ambição para Portugal pode ser extremamente interessante e precursora da minha atuação na Presidência da República”, disse, na altura.