Equipa do Reino Unido está a reconectar canais fluviais perdidos com o tempo. Já criaram um zona húmida equivalente a dez campos de futebol.
Em Somerset, Inglaterra, uma equipa de investigadores está a estudar um novo projeto apelidado de “Stage Zero” (Fase 0), uma técnica de recuperação de rios desenvolvida no estado do Oregon, nos EUA.
De acordo com a Discover Wildlife, o local está “irreconhecível” e “a quantidade de vida selvagem e o crescimento de vegetação exuberante que se tem visto é uma loucura”. Quem o conta é Jack Siviter, guarda-florestal de Holnicote, em Somerset.
As zonas húmidas são habitats fundamentais, não só pela sua biodiversidade, mas também pela capacidade de armazenar água, reduzir o risco de inundações e capturar carbono. Apesar disso, no Reino Unido 90% das zonas húmidas inglesas perderam-se no último século.
Os últimos 18 meses foram os mais húmidos de que há registos em Inglaterra, “em termos de número de tempestades e de volume de chuva”, segundo conta à Discover Wildlife Ben Eardley, o gestor de projetos do National Trust, que financiou o estudo.
Ainda assim, foram exatamente essas condições atmosféricas que comprovaram o sucesso do projeto, explica Eardley: “O local reagiu muito bem… demonstrando o valor da restauração na resistência a extremos hidrológicos”.
Foram sete hectares de um novo percurso de água. O objetivo da equipa era voltar a ligar um troço de 1,2 km do rio Aller — o principal curso de água do local — à sua planície de inundação natural. Procedeu-se, então, ao enchimento de um troço endireitado e artificialmente aprofundado do rio.
O resultado? “Graças ao aumento da área húmida, temos visto muitas criaturas amantes de água, como aves aquáticas selvagens, ratazanas aquáticas, enguias, lampreias, cobras-das-gramíneas, trutas e aves como o milhafre-vermelho, o urubu, o peneireiro, o gavião, a andorinha, o andorinhão e o andorinhão-das-areias”, explica o guarda-florestal.
Para além disso, o lugar encheu-se de vegetação e conta agora com várias espécie de flores silvestres, como a cenoura selvagem, que fornece alimento para os polinizadores.
“Uma das espécies mais interessantes que vimos foi um maçarico-verde, que é uma excelente espécie indicadora de um habitat saudável em zonas húmidas de baixa altitude“, aponta Siviter. Também as ratazanas aquáticas, uma espécie em risco de extinção no país, estão a voltar.
Os níveis das águas subterrâneas subiram mais de um metro em algumas zonas, o que transformou a planície aluvial numa vasta “esponja natural” que armazena água durante as cheias e a vai libertando gradualmente nos períodos de seca. Esta técnica não só ajuda a mitigar as secas como também filtra sedimentos e poluentes, o que traz melhorias para a qualidade da água.
O “Stage Zero” é um dos pioneiros na restituição do curso de rios no Reino Unido, o que pode resolver a falta de zonas húmidas no pais e criar paisagens repletas de fauna e flora.