Os relógios voltam a andar para trás no domingo. A culpa é do impasse no Conselho Europeu

O surgimento da pandemia e o início da guerra na Ucrânia têm adiado a decisão final na União Europeia sobre a abolição das mudanças da hora.

Na madrugada de sábado para domingo, às duas da manhã os relógios vão ser atrasados uma hora, tudo por causa de um impasse na União Europeia.

Nos últimos anos, têm surgido vários estudos que associam a mudança da hora a um aumento dos acidentes rodoviários ou dos ataques cardíacos e também a uma diminuição na produtividade. O comércio também sofre quando anoitece mais cedo.

No entanto, há ainda argumentos a favor da continuação do atraso e do avanço bianual dos relógios. Se a questão da poupança de energia já não é tão relevante nos dias de hoje, ter o sol a nascer mais cedo no inverno é importante para quem tem empregos que impliquem acordar muito cedo, como os agricultores.

A Comissão Europeia decidiu ouvir os europeus sobre este assunto em 2018, realizando uma sondagem que concluiu que 84% da população defende o fim da mudança da hora duas vezes por ano.

Em março de 2019, o Parlamento Europeu aprovou uma proposta da Comissão Europeia que definia o fim da mudança da hora nos 27 e a medida já devia ter entrado em vigor em 2021, explica o Expresso.

Mas está tudo na gaveta porque o Conselho da União Europeia, onde estão representados todos os estados-membros, ainda não se entendeu. Na altura, o Conselho determinou que devia ser feita uma avaliação de impacto, tendo remetido o assunto novamente para a Comissão Europeia.

Desde então, não houve qualquer avanço porque a pandemia e a guerra na Ucrânia meteram-se pelo meio, sendo temas mais prioritários para a Comissão Europeia.

Consenso difícil

Qualquer que seja o resultado, será practicamente impossível que todos os países fiquem satisfeitos, já que o fim da mudança da hora leva a que alguns estados-membros ganhem horas de sol enquanto que outros ficam a perder.

Já permitir que cada país escolha o seu próprio horário pode gerar uma enorme confusão, com a Europa a arriscar passar a ter dezenas de fusos horários diferentes, mesmo entre países vizinhos.

Há ainda países, como Portugal, que querem manter tudo como está. A oposição portuguesa baseia-se num parecer do Observatório Astronómico de Lisboa, que considera não haver benefícios em manter permanentemente quer a hora de inverno, quer a hora de verão.

Os especialistas consideram que manter o horário de verão levaria a uma pequena poupança de energia e teria perturbações mínimas no sono, mas lembram que “o sol nasceria entre as 8 e as 9 horas durante quatro meses do ano, no inverno”, o que implicaria fazer as deslocações para a escola e a para o trabalho na escuridão.

Já manter o horário de inverno todo o ano implicaria ter “o sol a nascer perto das 5 horas na altura do verão, ou seja, uma madrugada de sol desaproveitada seguida de um final de tarde com menos uma hora de sol”.

Por estas razões, os peritos recomendam a continuação da mudança da hora, mas ressalvam que a transição para o horário de inverno seria melhor se fosse antecipada para o fim de setembro em vez de o fim de outubro, “permitindo uma maior aproximação à hora solar durante o ano”.