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Relatório dos Sistemas de Saúde arrasa gestão da pandemia

Mário Cruz / Lusa

Dezenas de ambulâncias com pacientes aguardam no exterior do Hospital de Santa Maria em Lisboa para deixar os doentes na urgência hospitalar.

O Relatório de Primavera 2021, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, critica a gestão da pandemia em Portugal, salientando que “não estamos a aprender ainda, com a experiência da pandemia, aquilo que seria necessário fazer melhor agora e no futuro”.

“É evidente que os poderes políticos se sentem constrangidos por processos formais de planeamento e aconselhamento que limitam o seu espaço de decisão e tendem a substituí-los por formas de atuação mais voluntaristas, suscetíveis de acomodar melhor as pressões a que estão sujeitos”, lê-se no relatório citado pelo Expresso.

Os autores argumentam que não se investe o suficiente numa administração pública capaz de acrescentar às respostas ao imediato uma “segunda linha” que pense o país à distância.

A falta de um plano para o primeiro inverno após a pandemia terá sido, segundo o relatório, um dos exemplos evidentes da inércia do Governo.

“Desde essa altura até agora, por parte dos decisores nacionais, regionais e locais, das profissões de saúde, dos partidos políticos até à comunicação social, ninguém, mas literalmente ninguém, referiu o ‘Plano’ nos múltiplos debates e decisões que tiveram lugar para a gestão da pandemia! O Plano falhou? Parece mais justo dizer que, de facto, não existiu”, lê-se no documento.

Quanto à situação de crise sanitária na região de Lisboa e Vale do Tejo, os especialistas falam em “cacofonia”, o “desencontro dos discursos políticos” e “as limitações de preparação”.

Os festejos do título de campeão nacional do Sporting, em Lisboa, e a debandada de adeptos de ingleses na final da Liga dos Campeões, no Porto, são dados como exemplos: “As explicações públicas apresentadas como justificação para o que aconteceu em Lisboa e no Porto expuseram uma preocupante falta de aprendizagem com aquilo que efetivamente correu mal”.

As linhas vermelhas publicadas em março é uma estratégia “tanto sumamente original como necessariamente disfuncional”, salienta o observatório.

A lista de apelos dos especialistas no relatório é longa: uma estratégia de saúde pública a médio prazo; um plano detalhado para o próximo outono-inverno; um processo de aconselhamento científico para as decisões políticas; rever a configuração e funcionamento do Conselho Nacional de Saúde Pública; investir na requalificação técnica e tecnológica dos serviços de saúde pública; e, “absolutamente indispensável, recuperar a resposta do SNS aos doentes não-COVID”.

Numa nota mais positiva, os autores do documento destacaram “o considerável grau de alinhamento da comunidade política nas decisões mais críticas”. Marcelo Rebelo de Sousa também foi elogiado pela “liderança, empenhamento e constante atenção da parte da magistratura de influência do Presidente da República”, e aqui também até do Governo, “pela condução proporcionada à gestão da pandemia”.

ZAP //

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