A relação entre BES, água e falsa professora

Mário Cruz / Lusa

O julgamento do processo BES/GES começa 10 anos após o colapso do grupo. Muitos lesados até já morreram. É tudo uma questão de confiança.

É o julgamento mais esperado em Portugal ao longo dos últimos anos, é provavelmente o maior de sempre.

Começou nesta terça-feira o julgamento do processo BES/GES – que começa 10 anos após o colapso do Grupo Espírito Santo (GES).

O processo envolve milhares e milhares de páginas, com referências a mais de 300 alegados crimes e com 18 arguidos.

Esta demora – 10 anos neste caso – é habitual na Justiça, mas este caso, por envolver tantos milhões de euros e tantas pessoas (mais de 100 lesados já morreram sem recuperar o dinheiro), até é mais do que um contexto que envolve um banco ou “apenas” os seus lesados.

Bruno Vieira Amaral lamenta que tanto “espectáculo mediático” à volta deste processo não sirva para o essencial: restaurar a confiança.

“A confiança é a trave-mestra das nossas sociedades. Tudo assenta na confiança: cidadãos, instituições, Estado, empresas…”, começou por analisar o comentador da rádio Observador.

Focando no BES: “Se eu já não confio que o meu dinheiro está seguro num banco, isso tem efeitos que vão muito para lá da minha confiança, da minha relação pessoal com a banca e com aquele banco em particular”.

Nesta sequência, Bruno Vieira Amaral recordou o caso do Laboratório de Trás-os-Montes que ignorou a presença de bactérias perigosas na água, ou que alterava testes à água; e que, assim, terá colocado em risco a saúde pública de várias zonas do país durante anos.

“Quando abrimos a torneira, confiamos que houve alguém que fez os testes para garantir que é seguro beber aquela água”, continuou Bruno.

O comentador também se lembrou da falsa professora que deu aulas durante 30 anos, com sucessivos certificados de habilitações falsos: “Tudo assenta na confiança“.

“Este caso BES foi, em primeiro lugar, um enorme rombo na confiança dos portugueses em instituições tão fundamentais como os bancos e as instituições que deviam fazer supervisão dos bancos. E 10 anos para chegar ao julgamento é também um rombo da confiança dos portugueses no sistema de Justiça”, alertou.

Já nesta terça-feira, ver aquele “espectáculo imposto pela defesa” de Ricardo Salgado “não ajuda”.

Curiosamente, também nesta terça-feira, o presidente da Assembleia da República, Aguiar-Branco, considerou que o caminho para o aprofundamento da transparência ainda não está cumprido em Portugal – e que isso é essencial para que os cidadãos possam confiar mais no Estado.

ZAP //

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