Aumento de 89,3% nas reclamações em comparação com o período homólogo. Serviços cancelados e incumprimento de horários são as principais razões das queixas. TML e CP são os mais visados.
É um aumento sem precedentes. Nos primeiros seis meses do ano, foram registadas 15.494 reclamações relativas aos transportes públicos em Portugal. São, em média, 86 queixas por dia — mais 41 do que no período homólogo, ditam os dados apresentados pela Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT) .
O relatório da AMT destaca um crescimento de 89,3% nas reclamações em comparação com o mesmo período de 2022
Os operadores rodoviários e ferroviários de passageiros são o foco principal destas queixas — representam cerca de 95% do total.
Entre os operadores rodoviários, os Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), responsáveis pela Carris, destacam-se com 989 reclamações, seguidos pela Viação Alvorada e pela Rede Nacional de Expressos.
Na área ferroviária, a Comboios de Portugal (CP) acumulou um número alarmante de reclamações, com um total de 3.096, um aumento considerável em relação ao ano anterior.
O cancelamento de serviços e o incumprimento dos horários surgem como as principais razões para o descontentamento dos passageiros, tanto em transportes rodoviários quanto ferroviários. Além disso, no setor ferroviário, destaca-se o elevado número de queixas relacionadas com pedidos de reembolso e greves.
Os sistemas de metro, especialmente o Metropolitano de Lisboa, também não estão imunes a este fenómeno, com a frequência do transporte, as infraestruturas auxiliares e os títulos de transporte a serem as principais fontes de insatisfação.
Por outro lado, a Transtejo — Transportes Tejo — lidera as reclamações no transporte marítimo, seguida pela Soflusa.
É “mais fácil reclamar”?
Este aumento de reclamações pode ser interpretado de duas maneiras. Por um lado, Frederico Moura e Sá, especialista em planeamento urbano e mobilidade contactado pelo Jornal de Notícias, sugere que a facilidade em apresentar reclamações pode estar a contribuir para este aumento; por outro, o fenómeno também reflete a incapacidade dos serviços em satisfazer as necessidades dos utilizadores existentes, dificultando a persuasão de potenciais novos utentes.
“Existir muitas reclamações nos transportes públicos pode ser um indicador que é mais fácil reclamar”, mas salienta que, ao mesmo tempo, também significa que o serviço “não está a satisfazer a necessidade de quem já o utiliza. É uma má forma de persuadir quem não o utiliza”. O professor da Universidade Aveiro realça que “para combater o congestionamento, a desumanização do espaço público e as alterações climáticas, deveria existir uma clara aposta no transporte público”.
Apesar do cenário desafiador, é de notar que a CP também recebeu reconhecimento positivo, liderando o livro de elogios.