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Raparigas no Paquistão ainda arriscam as suas vidas para poder jogar futebol

Karishma Ali / Instagram

Karishma Ali, ao centro, com outras jogadoras de futebol

Jogadoras de futebol de algumas das províncias mais conservadoras do Paquistão estão em Carachi, neste momento, para participar no campeonato nacional.

Sughra Rajab, de 19 anos, é uma dessas raparigas que está em Carachi, no Paquistão, para representar a sua cidade natal no Campeonato Nacional de Futebol Feminino, que dura um mês e conta com a participação de pelo menos 500 mulheres.

“Isto é muito mais do que um desporto para mim. Trata-se de fazer um statement“, disse a jovem paquistanesa à empresa de media Vice, que pertence ao grupo étnico hazara e vive em Quetta, cidade onde jogar futebol pode ser uma questão de vida ou de morte.

Os terroristas consideram que os hazaras são “menos muçulmanos” por serem xiitas. E, um pouco por todo o país, as mulheres continuam a lutar pela igualdade de género. No mais recente Global Gender Gap Report, do Fórum Económico Mundial, num total de 153 nações, o Paquistão ficou em 151.º lugar, apenas à frente do Iraque e do Iémen.

Mas Rajab e as restantes colegas da equipa Hazara Quetta Football Academy aprenderam a conviver com os riscos, enquanto lutam por um futuro melhor através da modalidade. Segundo a Vice, a paquistanesa ainda está no ensino secundário, mas espera conseguir entrar na universidade com a ajuda de uma bolsa desportiva.

A situação é deprimente. Dificilmente há uma família sem um mártir na nossa cidade. Mas temos de seguir em frente”, disse ainda, referindo-se às vítimas dos ataques terroristas que têm como alvo a sua comunidade.

Rajab não está sozinha quando falamos de quebrar estereótipos. Karishma Ali, de 23 anos, é outra aspirante a futebolista. A jogadora, que vive em Chitral, na fronteira com o Afeganistão, tornou-se a cara do futebol feminino paquistanês em 2019, depois de ter entrado na lista Forbes 30 Under 30.

A jovem lamenta o facto de noutros países ainda não se perceber o quão difícil é para uma rapariga jogar futebol no Paquistão.

“A cultura é diferente, principalmente em Chitral. Nessa altura, quando estava na ribalta, fui vítima de bullying online. (…) Podemos escolher levar isto com humor mas, ao mesmo tempo, temos de estar alerta”, disse Ali, que fundou, em 2016, o Chitral Women’s Sports Club.

Em declarações à Vice, o porta-voz da Federação Paquistanesa de Futebol, Mir Shabbar Ali, explicou que a ideia deste campeonato nacional é permitir mais jogos entre as equipas femininas.

“É uma realidade, de facto, que as mulheres no Paquistão não tiveram oportunidades iguais às dos homens, e é por isso que a federação quer dar um passo em frente, organizando o mesmo número de jogos tanto para jogadores como para jogadoras”, declarou.

“Isto é apenas o começo. Queremos criar um sistema no qual também haja igualdade salarial entre jogadores e jogadoras”, acrescentou.

ZAP //

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