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Venâncio Mondlane: Paulo Rangel “mentiu ao mundo”

Luisa Nhantumbo / Lusa

Venâncio Mondlane discursa em Maputo

Acusações fortes e justificações de Venâncio Mondlane. Presidente de Moçambique já tomou posse; bastonadas perto da Praça da Independência.

A presidente do Conselho Constitucional investiu nesta quarta-feira Daniel Chapo como quinto Presidente da República de Moçambique.

Chapo leu o termo de posse e prestou juramento às 11:12 locais (menos duas horas em Lisboa), perante os aplausos dos convidados.

Conforme previsto no programa da cerimónia, a presidente do Constitucional, Lúcia Ribeiro, recebeu os símbolos do poder pelo Presidente cessante, Filipe Nyusi, e poucos minutos depois fez a investidura de Daniel Chapo como novo Presidente da República de Moçambique.

A cerimónia está a decorrer na Praça da Independência, no centro de Maputo, sob fortes medidas de segurança no exterior e no acesso ao recinto.

As forças de segurança moçambicanas dispersaram, à bastonada, dezenas de manifestantes que gritavam “Mondlane”, candidato presidencial que contesta os resultados eleitorais, a cerca de 300 metros da Praça da Independência, o local onde o novo Presidente tomou posse.

Dezenas de polícias, militares e equipas cinotécnicas impediam os manifestantes de se aproximarem da Praça da Independência

Os manifestantes, organizados em diferentes grupos, gritavam ainda “Salve Moçambique” e entoavam o hino moçambicano, afirmando que pretendiam assistir à tomada de posse, mas foram impedidos pela polícia.

Rangel “mentiu”

Os Presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, foram os únicos chefes de Estado que foram à tomada de posse.

O Presidente de Portugal transmitiu a Moçambique uma “mensagem de esperança”, mas através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, que representa o Governo português no evento.

Ontem, terça-feira, o candidato presidencial Venâncio Mondlane acusou Paulo Rangel, de parcialidade e de “manipular” a opinião pública ao dizer que tem acompanhado o processo pós-eleitoral em Moçambique.

“Não há trabalho feito da sua parte em relação ao diálogo em Moçambique. Pelo contrário, o senhor sempre foi parcial, foi tendo posições totalmente tristes, sempre foi de adjetivos contra a minha pessoa”, afirmou Venâncio Mondlane, num direto a partir da sua conta oficial na rede social Facebook, dirigindo-se a Rangel.

“Saiba muito bem como é que se vai posicionar em Moçambique”, avisou Mondlane, saudando, contudo, a ausência da cerimónia do Presidente da República ou do primeiro-ministro de Portugal, fazendo “vénias” a Marcelo Rebelo de Sousa e a Luís Montenegro por não terem ido à tomada de posse.

“Mandaram a terceira linha, que é o ministro dos Negócios Estrangeiros. Aliás, é um ministro que sempre se posicionou de forma muito ríspida, de forma extremamente descortês comigo, já me chamou de populista, já me chamou todo o tipo de nomes, tem tido pronunciamentos extremamente tristes em público”, criticou ainda.

Segundo Venâncio Mondlane, o único contacto com o chefe da diplomacia portuguesa ocorreu no dia 12 de janeiro, numa chamada telefónica “ocasional, circunstancial” durante um encontro, em Maputo, com o embaixador de Portugal em Moçambique, António Costa Moura.

Para o candidato presidencial nas eleições de 9 de outubro, Paulo Rangel não pode afirmar que tem “mantido contactos” em torno do processo pós-eleitoral, marcado por paralisações e manifestações de contestação aos resultados, em que já morreram 300 pessoas e mais de 600 foram baleadas, convocadas por Venâncio Mondlane.

É falso. Doutor Paulo Rangel, o senhor não tem mantido contactos comigo. Tivemos um contacto ocasional na véspera da sua vinda a Moçambique, portanto não pode usar isto como se houvesse um histórico de contactos comigo. Desde outubro de 2024, quando isto começou, eu sempre dei privilégios a Portugal nas minhas comunicações como um ator válido para intermediação da crise pós-eleitoral em Moçambique. O senhor nunca se manifestou quanto a isto, nunca fez absolutamente nada, publicamente atribuía-me vários adjetivos, dos quais populista”, acusou.

Numa intervenção dedicada essencialmente à posição do chefe da diplomacia portuguesa, Venâncio Mondlane afirmou que Paulo Rangel “não pode enganar os portugueses, enganar os moçambicanos, enganar a comunidade internacional, tentando demonstrar” que “tem feito trabalho”.

O senhor não fez trabalho absolutamente nenhum, o senhor sempre esteve impávido, sereno, esteve inativo, esteve na hibernação durante todo este período”, disse ainda Venâncio Mondlane.

Na rádio Observador, o político moçambicano assegurou que as alegadas conversas entre Paulo Rangel e o Vaticano sobre a situação em Moçambique também nunca aconteceram.

“Procurei saber [junto de] D. Matteo se alguma vez o ministro dos Negócios Estrangeiros tinha contactado o Vaticano e ele disse que absolutamente isso nunca aconteceu. Portanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros mentiu aos portugueses e mentiu ao mundo”, atirou Mondlane.

ZAP // Lusa

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