A relação de Jacques Rodrigues com vários ex-colaboradores do grupo Impala está longe de ser a melhor. O barão dos media é descrito como “um pequeno ditador”.
Jacques Rodrigues, dono do grupo Impala, responsável por revistas como a Maria e a Nova Gente, foi detido pela Polícia Judiciária por suspeitas de crimes de burla qualificada, corrupção e insolvência dolosa.
O filho do empresário, que tem o mesmo nome, foi também detido, bem como um advogado e um revisor oficial de contas.
O barão dos media é suspeito de crimes relacionados com a insolvência dolosa de sociedades onde acumulou uma gigantesca fraude na ordem dos 100 milhões de euros, para se eximir a dívidas do mesmo valor a credores, repartidas entre trabalhadores das empresas – entre eles jornalistas – e o Estado.
Dezenas de funcionários que trabalharam anos para o grupo Impala continuam à espera de receber o dinheiro que lhes é devido. O sentimento de muitos deles para com Jacques Rodrigues é de ódio, segundo relatos recolhidos pela CNN Portugal.
“Quer que eu lhe diga? Fiquei contente”, diz uma funcionária do grupo Impala questionada sobre a sua reação à notícia da detenção. “A justiça tarda, mas não falha”. Enquanto isso, outro funcionário pede que se faça justiça, “mesmo que não receba um cêntimo de indemnização”.
Foram pelo menos três despedimentos coletivos em mais de 30 anos, créditos salariais em atraso, compensações miseráveis e uma atitude com os trabalhadores reprovável, retrata a reportagem da CNN.
“Tinha explosões de feitio. Era bastante temperamental. Passou a ser uma pessoa prepotente. Um pequeno ditador”, descreve ainda o mesmo funcionário.
Os casos replicam-se dentro do grupo Impala e há outros relatos de ex-funcionários descontentes.
“Trabalhei na Impala durante quase 20 anos e o meu antigo patrão deve-me mais de 15 mil euros. Só sei que não vou desistir enquanto não vir o dinheiro”, diz uma antiga funcionária em declarações ao Nascer do SOL.
“Espero que esse senhor e o filho dele sejam presos: mas que seja feita justiça e fiquem atrás das grades durante muitos anos. Destruíram a vida de trabalhadores e, inclusivamente, de famílias inteiras. Há quem tenha ficado sem dinheiro para comer por causa deles. Vou lutar por mim e por aqueles que não têm voz”, diz outra ex-funcionária ouvida pelo jornal.
À CNN Portugal, Carlos Rodrigues Lima, jornalista da Visão, diz que Jacques Rodrigues “viveu uma espécie de chico-espertismo de gestão de empresas”.
“À medida que os problemas iam surgindo no grupo Impala, Jacques Rodrigues abria sociedades ao lado, transferia ativos para um lado e colocava as despesas numa segunda empresa”, explica o jornalista.
Uma cópia da “Gente” italiana
Jacques Rodrigues tinha acabado de chegar de Angola quando criou a revista “Nova Gente” a partir de uma garagem em Queluz. Na altura, a telenovela “Gabriela” era a sensação da televisão portuguesa e era a revista “Tele Semana” quem tinha acesso exclusivo ao resumo da programação dos canais da RTP.
“A única maneira era roubar os resumos ou ir desviá-los ao Brasil”, recorda ao Observador o fotógrafo Abel Dias, que foi colaborador da revista desde o primeiro dia. E assim foi. Jacques Rodrigues optou pela segunda hipótese.
A revista foi criada à imagem da “Gente” italiana. “Era o mesmo cabeçalho, fez o mesmo logótipo e pôs por cima o ‘Nova’, em letras mais pequenas”, relembra Abel Dias.
Com apenas a quarta classe, Jacques Rodrigues foi trilhando o seu caminho no mundo das revistas cor-de-rosa — mas não só. Chegou a ter lojas de perfumes, uma fábrica de roupa, uma rede de boutiques, uma agência de viagens e até um hotel no Algarve.
“Ele era audacioso, reconhecia-lhe isso e aprendi muito com ele. O que era sempre péssimo era o trato: era o ‘quero, posso e mando e quem não está bem a porta de saída é ali ao fundo’”, conta o ex-colaborador ao jornal online.
A sua relação com Jacques era conturbada. “E, mesmo assim, comigo não era tão mau como com outros empregados […]. Com os outros era muito difícil, saía do gabinete aos gritos e entrava na redação aos gritos: ‘Vocês são umas bestas!!! O que é isto?!’”.
Era também uma pessoa discreta, que se gostava de se manter longe dos holofotes. “Não há uma única entrevista pública dele. Ninguém sabia quem ele era, não ia a festas, não gostava de aparecer, muito pelo contrário, sempre se resguardou muito da vida pública. Era uma figura muito reservada, por variadíssimas razões”, relembra um antigo colaborador do grupo Impala.
Um grupo de 27 credores/trabalhadores da Descobrirpress, a dona do grupo de media Impala, já tinha alegado em fevereiro de 2022 que a empresa omitiu que em 2020 fez um despedimento coletivo.
O esquema em causa passaria pela manipulação da contabilidade de várias empresas, de forma a ocultar e dissipar devidos aos credores do empresário que há anos foi declarado como insolvente a título pessoal, apesar dos elevados sinais exteriores de riqueza.
Espero que se faça justiça, mas duvido muito com o poder judicial que temos. Peço desculpa aos lesados por este senhor, mas o que refiro é verdade.
Mais um “grande empresário”, como diria o Passos Coelho!…
Mais um artista de alto gabarito, como aqueles a que já estamos habituados.
Há-de safar-se com o muitos outos endinheirados a contas com a justiça…