Putin faz de Trump um homem “ainda mais otimista” – ao mesmo tempo que intranquiliza o resto do mundo

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Michael Klimentyev / Sputnik / Kremlin Pool / EPA

O Presidente russo, Vladimir Putin, com o homólogo norte-americano, Donald Trump

O “otimista” Donald Trump informou, este domingo à noite, que vai falar com Vladimir Putin na terça-feira para pôr um fim à guerra na Ucrânia. Quão bem estará a correr a estratégia de Moscovo?

Trump fala com Putin esta terça-feira para (tentar) pôr um fim à guerra na Ucrânia.

“Veremos se temos algo a anunciar talvez até terça-feira. Falarei com o Presidente Putin na terça-feira”, prometeu o presidente norte-americano, aos jornalistas no avião presidencial, este domingo à noite.

Foi feito muito trabalho no fim de semana. Queremos ver se conseguimos pôr fim a esta guerra”, acrescentou o chefe de Estado.

Embora a Rússia tenha falhado o objetivo inicial da invasão, lançada em fevereiro de 2022, de derrubar o Governo da Ucrânia e controlar o país, ainda controla grandes áreas do Estado vizinho. Trump disse que as regiões ocupadas pela Rússia no leste da Ucrânia e as centrais elétricas irão fazer parte das negociações.

“Falaremos sobre as terras. Falaremos sobre centrais elétricas”, disse Trump, que descreveu as negociações como sendo sobre “a divisão de certos ativos”.

Putin e UE intranquilizam-nos

A Ucrânia concordou com uma trégua incondicional de 30 dias dos EUA se a Rússia parasse com os ataques no leste do país.

Enquanto Trump parece querer passar sempre uma imagem de que tudo de irá resolver rapidamente; Putin, por seu turno, tem uma postura totalmente diferente. Desde logo, ao não concordar com uma trégua qualquer.

Na semana passada, o presidente russo estabeleceu condições maximalistas, para um cessar-fogo temporário – como a Ucrânia ceder as cinco regiões anexadas unilateralmente pela Rússia, abandonar as ambições de Kiev de se juntar à NATO e desmantelar o atual Governo ucraniano.

Na manhã desta segunda-feira, por sua vez, a Alta-Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Kaja Kallas, também veio intranquilizar os interessados na resolução deste conflito, demonstrando-se muito cética sobre o interesse da Rússia em acabar com a guerra.

“As condições que Moscovo apresentou demonstram que a Rússia não quer a paz, verdadeiramente”, disse Kallas, à entrada para uma reunião, em Bruxelas.

Qual é a estratégia de Putin?

Antes de responder “nim” à proposta americana de cessar-fogo na guerra na Ucrânia, na semana passada, Putin dirigiu “palavras de gratidão” a Trump, “por dedicar tanta atenção à resolução do conflito”.

Mas estas palavras não foram ditas por acaso, teoriza, à Deutsche Welle (DW), o cientista político Anton Barbashin.

“Putin quer que Trump acredite que ele está interessado num acordo”, disse o também editor-chefe do site Riddle Russia.

Ou seja, Putin quer fazer de Trump um homem ainda mais otimista.

Barbashin afirma que Putin não quer “aborrecer” Trump, como fez o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy. Em vez disso Putin “quer carregar em todos os botões necessários para que Trump lhe garanta um bom acordo”.

São vários os especialistas que se baseiam na mesma teoria de que que Putin está a tentar ganhar tempo e não aborrecer Trump: “tempo” para expulsar as tropas ucranianas da região russa de Kursk; e convencer Trump, talvez numa cimeira, da necessidade de um acordo mais abrangente.

Como refere Barbashin, se Putin conseguir impor as suas exigências no acordo, “abrirá caminho para uma discussão muito mais alargada sobre a arquitetura de segurança europeia”.

Trump, que não esconde o seu ceticismo em relação à NATO, pode estar preparado para essa conversa – o que, na visão do especialista, criaria uma oportunidade única para a Rússia.

Ao mesmo tempo, parece que as opções de Trump para influenciar Putin são limitadas. Putin gaba-se de que a economia russa, impulsionada sobretudo pelas despesas militares, continua a funcionar apesar das sanções impostas pelas grandes potências.

“Trump tem poucas opções para enfrentar uma rejeição russa ou uma aceitação fingida e prolongada”, escreveu o investigador e jornalista Alexander Baunov numa análise para o Centro Carnegie Rússia-Eurásia, citada pela DW.

Em vez de ameaçar com um castigo, o método mais eficaz para convencer Putin é oferecer-lhe a “tentação de um grande negócio” – algo que estaria muito de acordo com os interesses do líder russo.

Miguel Esteves, ZAP //

1 Comment

  1. Putin vai tentar manipular Trump, aliás como já o fez no passado, mas corre um grande risco se este perde a paciência chegando rapidamente à conclusão que Putin não quer acordo nenhum, o que vai tentar evitar para já.
    Não há acordo possível, que não seja esmagar a Ucrânia com condições inaceitáveis, as mesmas que justificaram a Invasão.
    Quando duas nozes se juntam é para esmagar uma terceira!

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