O Presidente russo, Vladimir Putin, rejeitou hoje firmar um novo acordo para o transporte de cereais através do Mar Negro enquanto o Ocidente não cumprir as exigências de Moscovo.
Putin criticou em conferência de imprensa que o Ocidente continua a “bloquear as exigências russas” sobre o acordo.
“Recusam-se a retirar as sanções à exportação dos nossos cereais e fertilizantes, a retomar o fornecimento de máquinas agrícolas e peças sobresselentes”, explicou.
O líder russo falava após conversações com o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, na estância balnear de Sochi, no sul da Rússia.
A par da ONU, Erdogan foi um dos mediadores do acordo original, conhecido como a Iniciativa do Mar Negro e assinado no verão de 2022 em Istambul, que permitiu à Ucrânia exportar a sua produção de cereais em segurança.
Moscovo abandonou unilateralmente o protocolo em julho. “Infelizmente, alguns dos acordos relacionados com a Rússia ainda não foram cumpridos, então o acordo está a ser terminado”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, em conferência de imprensa.
Alguns dias mais tarde, Vladimir Putin admitiu regressar ao acordo caso os seus pedidos fossem concretizados “na totalidade”, e sem os quais o seu prolongamento “deixa de ter sentido”.
De acordo com a imprensa de Ancara, o chefe de Estado turco esperava no encontro de Sochi convencer o Presidente russo a retomar os acordos.
Na abertura daquele que foi o primeiro encontro entre os dois chefes de Estado desde outubro do ano passado, Erdogan havia prometido para o final um anúncio “muito importante” sobre as exportações de cereais.
Nas declarações após o encontro com Erdogan, Putin disse que a Rússia está a finalizar um acordo para fornecer gratuitamente cereais a seis países africanos.
“Estamos prestes a celebrar acordos com seis estados africanos aos quais pretendemos fornecer cereais gratuitos nas próximas semanas”, afirmou em conferência de imprensa.
Erdogan disse por sua vez que se opunha a alternativas ao acordo de cereais que estava em vigor até julho.
“As propostas alternativas na agenda não podem oferecer um modelo sustentável e seguro baseado na cooperação entre as partes como a Iniciativa do Mar Negro”, declarou o Presidente turco após a reunião com Vladimir Putin.
O chefe de Estado turco especificou que a Turquia está a preparar “um novo conjunto de propostas em consultas com a ONU” para ressuscitar o acordo, crucial para o abastecimento alimentar global.
O acordo quadripartido permitia o tráfego marítimo a partir dos portos do sul da Ucrânia que estavam bloqueados pela frota russa na região.
Na altura em que suspendeu a participação no acordo, Moscovo admitiu regressar ao entendimento se for contemplada a reintegração do seu banco agrícola, Rosselkhozbank, no sistema bancário SWIFT, o levantamento das sanções sobre peças sobresselentes para a maquinaria agrícola, o desbloqueamento da logística de transportes e dos seguros e o descongelamento de ativos.
A parte russa reclamava também o recomeço do funcionamento da conduta Togliatti-Odessa destinada à exportação de amoníaco, componente essencial dos fertilizantes.
Ucrânia e Rússia estão entre os maiores produtores mundiais de cereais e o abastecimento global foi seriamente afetado pela guerra entre os dois países, em fevereiro do ano passado, com impacto na segurança alimentar nos países mais vulneráveis e uma escalada de preços de bens.
Desde o fim do acordo, a Rússia tem bombardeado intensamente os portos do sul da Ucrânia e seus silos de cerrais, ao mesmo tempo que Kiev tem procurado rotas alternativas à exportação de produtos.
Contraofensiva ucraniana é “um fracasso”
Vladimir Putin considerou hoje “um fracasso” a contraofensiva ucraniana, que completa três meses, depois de se reunir com o seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan.
“Isto é um fracasso”, disse Putin durante a conferência de imprensa conjunta.
Desde o seu início, em 4 de junho, o Presidente russo desvalorizou a contraofensiva em que o Exército ucraniano recuperou várias centenas de quilómetros quadrados de território.
“De qualquer forma, hoje é exatamente o que parece, um fracasso. Veremos como evolui. Espero que continue exatamente o mesmo“, disse o líder do Kremlin.
Putin estimou em dezenas de milhares as baixas sofridas por Kiev na sua tentativa de recuperar território, principalmente na frente sul para romper o corredor que liga o Donbass à península anexada da Crimeia.
Entretanto, o ministro da Defesa ucraniano cessante, Oleksi Reznikov, garantiu que Kiev libertou mais de 50% do território ocupado pela Rússia na primeira fase do conflito.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou, de acordo com os mais recentes dados da ONU, a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
ZAP // Lusa