Putin admite regresso ao acordo sobre cereais (com condições)

(cv) NBC News / Youtube

O presidente da Rússia, Vladimir Putin

O Presidente Vladimir Putin assegurou hoje que a Rússia está preparada para regressar ao acordo sobre a exportação de cereais ucranianos caso os seus pedidos sejam concretizados “na totalidade”, e sem os quais o seu prolongamento “deixa de ter sentido”.

“Examinaremos a possibilidade de regressar ao acordo mas com uma condição: se todos os princípios de participação da Rússia neste acordo foram tomados em consideração e realizados sem exceção e na sua totalidade”, declarou Vladimir Putin durante uma reunião governamental transmitida pela televisão.

A Rússia decidiu esta semana suspender o acordo sobre a exportação de cereais ucranianos após meses de críticas ao texto acordado, e afirmando que os seus envios de produtos agrícolas e de fertilizantes estão bloqueados pelas sanções.

Moscovo reclama a reintegração do seu banco agrícola, Rosselkhozbank, no sistema bancário internacional SWIFT, o levantamento das sanções sobre as peças sobresselentes para a maquinaria agrícola, o desbloqueio da logística de transportes e dos seguros e o descongelamento de ativos.

Pretende ainda o reinício do funcionamento da gigantesca conduta que liga a cidade russa de Togliatti a Odessa destinada à exportação de amoníaco, componente decisivo dos fertilizantes. Esta estrutura, fora de serviço desde o início do conflito, foi danificada por uma explosão em 5 de junho e que Moscovo atribuiu a Kiev.

Em paralelo, o líder do Kremlin acusou os ocidentais de se servirem do acordo sobre a exportação de cereais como um instrumento de “chantagem política”.

“Em vez de ajudar os países que têm efetivamente necessidade, o ocidente utilizou o acordo sobre os cereais para fins de chantagem política e tornou-o num instrumento de enriquecimento de multinacionais, de especuladores no mercado mundial”, assinalou no decurso da reunião.

Segundo Putin, o acordo cerealífero provocou perdas avaliadas em 1,2 mil milhões de dólares (cerca de mil milhões de euros) aos agricultores russos e uma baixa de rentabilidade das exportações.

“O nosso país está em condições de substituir os cereais ucranianos, em simultâneo comercialmente e gratuitamente”, prosseguiu Putin, que prevê uma “colheita recorde” em 2023.

Acordo polémico no bloco europeu

Assinado no verão de 2022 em Istambul pela Ucrânia e pela Rússia, sob a mediação da ONU e da Turquia, o acordo abrange os cereais ucranianos e a exportação de fertilizantes e de produtos alimentares russos.

Segundo dados das Nações Unidas, desde que o acordo entrou em vigor, perto de 33 milhões de toneladas de cereais foram escoados a partir dos portos do sul da Ucrânia.

O impacto económico do acordo nos países-membros da União Europeia não é, no entanto, totalmente consensual.

Em abril, cinco países decidiram contestar a decisão da Comissão Europeia de liberalizar o comércio de cereais e outros bens alimentares, e notificaram Bruxelas da sua intenção de repor as quotas e tarifas para os produtos ucranianos.

O objetivo é mitigar o impacto nos preços, mas também nas cadeias de produção e distribuição nacionais face à superabundância do mercado europeu.

A Polónia foi a primeira a pronunciar-se, anunciando a implementação de restrições à entrada, e trânsito através do país, de cereais, oleaginosas, hortícolas, ovos ou laticínios provenientes da Ucrânia.

Como resposta, uma porta-voz da Comissão Europeia fez questão de relembrar que a definição da política comercial do bloco cabe ao executivo comunitário.

Do lado polaco, alega-se que o acordo com a Ucrânia está a trazer consequências negativas no setor agrícola europeu e a motivar desequilíbrios no funcionamento do mercado interno.

Os responsáveis da Polónia dizem ainda que, ao contrário do que acontecia antes, os cereais ucranianos não estão a seguir para outros continentes, mas sim a ficar retidos em território europeu.

Desta forma, não é possível escoar a produção da União Europeia, esgota-se a capacidade de armazenamento dos Estados-membros e a inflação sobe.

ZAP // Lusa

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.