Polónia, Hungria e Eslováquia rompem acordo de cereais. Apoio à Ucrânia perde força

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Kyryl Levenets / Unsplash

Campo de trigo em Sumy Oblast, na Ucrânia.

Kiev já enviou um representante a Varsóvia e contestou os argumentos dados pelos cinco Estados-membros.

Cinco Estados-membros decidiram contestar a decisão da Comissão Europeia de liberalizar o comércio de cereais e outros bens alimentares. Os países já terão, inclusive, notificado Bruxelas da sua intenção de repor as quotas e tarifas para os produtos ucranianos. O objetivo é mitigar o impacto nos preços, mas também nas cadeias de produção e distribuição nacionais face à superabundância do mercado europeu.

A Polónia foi a primeira a pronunciar-se, anunciando a implementação de restrições à entrada, e trânsito através do país, de cereais, oleaginosas, hortícolas, ovos ou laticínios provenientes da Ucrânia. Como resposta, uma porta-voz da Comissão Europeia fez questão de relembrar que a definição da política comercial do bloco cabe ao executivo comunitário.

“Trata-se de uma competência exclusiva e, por isso, qualquer ação unilateral é inaceitável“, lembrou.

Do lado polaco, alega-se que o acordo com a Ucrânia está a trazer consequências negativas no setor agrícola europeu e a motivar desequilíbrios no funcionamento do mercado interno.

Os responsáveis da Polónia dizem ainda que, ao contrário do que acontecia antes, os cereais ucranianos não estão a seguir para outros continentes, mas sim a ficar retidos em território europeu. Desta forma, não é possível escoar a produção da União Europeia, esgota-se a capacidade de armazenamento dos Estados-membros e a inflação sobe.

Seguiu-se a Hungria, com Viktor Orbán a anunciar que também o seu Governo iria restringir as exportações da Ucrânia, de forma a “proteger” o seu país dos prejuízos que têm origem na superabundância de cereais ucranianos.

“Na ausência de medidas significativas da UE, proibiremos temporariamente a importação para a Hungria de cereias e outros produtos agrícolas provenientes da Ucrânia”, disse o ministro da Agricultura húngaro, István Nagy, citado pelo Público.

Sem surpresas, Bulgária e Roménia evocaram os mesmos argumentos, face à “inundação” dos mercados internos com cereais ucranianos, pelo que a possibilidade de reintroduzirem as restrições é cada vez mais real. Por parte da Eslováquia, a opção passou por suspender a imposição de cereais ucranianos, mas manter aberto o “corredor de solidariedade“.

A atitude deste grupo de países parece ser mais uma indicação de que a “cola” que a União Europeia usava para unir os vários Estados-membros pode estar a ceder no que respeita à ajuda à Ucrânia após a intervenção russa.

Numa primeira fase, apenas a Hungria contestou as sanções a Bruxelas, ao passo que a Polónia se afirmou como um forte aliado da Ucrânia em termos humanitários e militares desde o primeiro momento.

Na Polónia, a posição do governo está a ser atribuída ao descontentamento do eleitorado, numa altura em que o PiS, partido no poder, tenta permanecer no governo depois de lá ter chegado em 2015. Nesta luta, o apoio rural é essencial.

Numa reação a estas posições, o governo ucraniano enviou o seu ministro da Agricultura a Varsóvia, de forma a resolver a questão. “A nossa prioridade é a reabertura do trânsito, porque é bastante importante e é o que deve ser feito incondicionalmente”, explicou o responsável.

Ana Rita Moutinho, ZAP //

4 Comments

  1. Se há superabundância não se percebe a inflação. O que deveria ser feito era um corredor para escoar esses produtos para o resto do mundo… e sim… continuar a apoiar a Ucrânia!!! Um estado em guerra que não tem condições para alimentar a máquina que necessita para se manter independente!!!

  2. Quando esses produtos que nesses paises existem em abundância ao ponto de baixar os preços de forma exagerada assistimos em Portugal a um quase duplicar dos preços dos mesmos produtos e sem sinal de baixar . Algo não bate certo nessa história e sendo assim apesar de achar que se deve liberalizar o mercado concordo com essas medidas de forma a que os produtos sejam escoados para os paises mais longe da Ucrânia .

  3. A solução deste problema passa por assegurar o escoamento dos cereais para os países realmente mais necessitados, nomeadamente em África, seja através da exportação direta da Ucrânia (sempre dependente do acordo com o criminoso Putin) seja ainda indiretamente via União Europeia. A própria UE deveria acelerar o escoamento dos cereais do seu mercado para mercados terceiros de modo a eliminar o excesso de produto no mercado da União.

  4. O acordo era exportar os cereais para os países pobres, afinal todo ficou na UE e os preços subiram. Há uma história mal contada.

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