A rede tráfico de diamantes, ouro e droga em missões militares portuguesas na República Centro Africana (RCA) era liderada por Paulo Nazaré, embora um agente da PSP e um guarda-provisório da GNR em formação também fariam parte do núcleo duro da rede.
No âmbito da Operação Miríade, a Polícia Judiciária (PJ) deteve 11 pessoas alegadamente envolvidas no esquema, entre os quais comandos e ex-comandos do Exército. Há mais de 50 empresas e 70 pessoas envolvidas na rede de tráfico dos Comandos na República Centro-Africana.
A denúncia partiu de um major do Exército português que, em missão naquele país africano, denunciou a rede de tráfico a um comandante, tendo-lhe entregue oito diamantes. O major foi aliciado por um capitão para participar na operação de tráfico, mas não aceitou.
O agente da PSP é antigo soldado dos Comandos do Exército e estava atualmente em funções no Comando Metropolitano de Lisboa.
De acordo com o Público, o ex-soldado colaborava na angariação de interessados nos negócios de ouro e diamantes e na compra em numerário de bitcoins. Procurava também testas-de-ferro, que chegavam a receber até 50% dos depósitos.
Este agente apresentava ainda transferências de e para a sua conta de valores que não eram compatíveis com o seu salário.
Por sua vez, o guarda-provisório da GNR era colega do curso de Comandos de Paulo Nazaré e estava a frequentar o curso de militar da GNR em Portalegre.
À semelhança do agente da PSP, o parceiro de Nazaré tinha a responsabilidade de angariar interessados nos negócios ilícitos da rede e de fazer circular dinheiro, algum dele falso.
A investigação sugere que também se dedicaria à compra de criptomoedas, a investimentos que visavam o branqueamento de capitais, e à compra em numerário de moedas virtuais.
Há um outro membro da GNR que está entre os 11 detidos e que tratava das transferências de dinheiro e da falsificação de faturas de empresas que justificavam a passagem de montantes avultados entre contas. O militar em causa tem empresas de construção civil.
Um primo seu, que é pastor e presidente de uma comunidade religiosa, também participou no esquema com o objetivo de branquear capitais.
Outro elemento do núcleo duro da rede de tráfico era um cidadão brasileiro conhecido como o “brasileiro das transferências”. Este membro teria uma rede no Brasil e no Reino Unido onde fazia circular o dinheiro obtido de forma fraudulenta por contas em Portugal.
No total, a investigação apurou que em Portugal foram lavados cerca de 1,5 milhões de euros — embora o valor possa ser bem maior.
Paulo Nazaré, o alegado cabecilha do esquema, tem apenas 25 anos, nasceu em S. Tomé e Príncipe e frequentou um curso que dava equivalência ao 12.º ano antes de entrar nas Forças Armadas.
O arguido é comando e terá iniciado o esquema quando se encontrava numa das primeiras missões portuguesas ao serviço das Nações Unidas na República Centro-Africana, entre 2017 e 2018, escreve o Expresso.
Segundo o Jornal de Notícias, o líder da rede estava há meses a ser monitorizado por inspetores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção.
Na segunda-feira, após saber da realização das buscas, saiu de casa com malas de viagens e começou a conduzir em direção ao aeroporto. Já tinha um voo marcado para a África do Sul, mas acabou por ser detido pelos investigadores enquanto se dirigia para lá.