Acusação de Paulo Raimundo sobre a promessa de Montenegro: pensão mínima de 820 euros. Pedro Nuno Santos aponta outro problema do PSD.
O secretário-geral do PCP acusou neste domingo o líder do PSD de prometer aumentar as pensões e as reformas, quando há poucos dias recusou propostas da bancada comunista nesse sentido durante a votação do Orçamento do Estado para 2024.
“O PSD tentou com aquele comício – e não é por acaso que eu estou a chamar comício – por o conta-quilómetros a zero, passar uma esponja nas suas responsabilidades passadas e avançar com mais uma chuva de promessas”, disse Paulo Raimundo num almoço comício em Santiago do Cacém, no distrito de Setúbal.
O líder comunista reagiu desta forma à promessa feita no sábado por Luís Montenegro, no encerramento do Congresso do PSD, de aumentar para 820 euros o rendimento mínimo garantido dos pensionistas até 2028, assegurando que o seu partido não vai cortar “um cêntimo a nenhuma pensão”.
O PSD e o PS estão “apostados na memória curta do nosso povo, mas é notável ouvir o PSD prometer aumentos de pensões e de reformas”, disse Paulo Raimundo, considerando que as promessas não condizem com a prática dos social-democratas.
“Não vale a pena nós recuarmos oito anos atrás para lhes lembrar o corte que eles fizeram nas reformas e nas pensões. Recuemos apenas alguns dias, quando o PSD, na Assembleia da República, perante a proposta que o partido (PCP) avançou de aumentos de reformas e pensões de 7,5%, com um aumento mínimo de 70 euros para todas as reformas e pensões”, disse Paulo Raimundo.
“O PSD teve aí uma oportunidade para fazer vingar essa sua promessa. E o que é que fez? Aliou-se ao PS, aliou-se ao Chega e à Iniciativa Liberal, uns [com votos] contra, outros, abstendo-se, e, no fim, a nossa proposta foi chumbada”, lamentou o líder comunista.
Quanto à promessa do PSD de promover uma maior justiça fiscal, Paulo Raimundo deu o exemplo de outra proposta do PCP, que acabou por ser inviabilizada na discussão do Orçamento do Estado.
“Também não vale a pena recuarmos oito anos atrás para os confrontarmos com o maior aumento de impostos de todos os tempos, que foi aquele do Governo PSD/CDS. Recuemos apenas alguns dias atrás, porque mais uma vez, há poucos dias, aqueles que vêm encher o peito a falar de impostos e contra a injustiça fiscal – PSD, PS, Chega e Iniciativa liberal -, votaram contra a proposta do partido [PCP] que combatia um dos maiores escândalos de injustiça fiscal no nosso país, que são os benefícios fiscais dados às grandes empresas”, disse.
Segundo o líder comunista, até às eleições legislativas antecipadas de 10 de março os portugueses não só vão ouvir uma “chuva de promessas” por parte do PS e do PSD, como também vão assistir a uma tentativa de desresponsabilização pelo que foi a sua ação governativa nas últimas décadas.
“A tática é conhecida: muda-se o líder e querem que o conta-quilómetros volte a começar do zero. O que ficou para trás, para trás ficou. O mal que foi feito é da responsabilidade do anterior. É sempre a mesma história, um método, um estilo e uma forma usada e abusada por PS e PSD. É uma operação que é geralmente acompanhada de uma outra fase, que é a fase da chuva de promessas atrás de promessas”, frisou.
“Podem fazer todas as promessas, podem passar todas as esponjas que quiserem, podem tentar aliviar as suas responsabilidades, mas há uma coisa que é certa: a política de direita do PSD nunca será alternativa à política de direita do PS. A alternativa à política de direita – venha ela do PSD, venha ela do PS -, está aqui, está no PCP, está na CDU, a alternativa que responde aos problemas das pessoas”, assegurou Paulo Raimundo.
“Falta de credibilidade”
O candidato a secretário-geral do PS Pedro Nuno Santos disse aos jornalistas, em Matosinhos, que as propostas do PSD em matéria de pensões, apresentadas no congresso de sábado, têm “falta de credibilidade”.
“O problema das promessas do PSD, nomeadamente em matéria de pensões, é que têm um problema de falta de credibilidade“, acusou o candidato a líder do PS, à chegada ao Pavilhão Municipal da Senhora da Hora, em que participa num almoço com apoiantes.
Para Pedro Nuno Santos, o PSD foi “o partido que mais maltratou esse grupo de cidadãos portugueses, os pensionistas“.
“É importante que nós não nos esqueçamos que Pedro Passos Coelho [ex-primeiro-ministro] tinha dito exatamente o mesmo que Luís Montenegro: que tinha feito as contas, e que em 2015 não seria necessário cortar pensões. Mas aquilo que fizeram logo a seguir às eleições foi cortar pensões”, disse Pedro Nuno Santos.
O ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação e adversário de José Luís Carneiro e Daniel Adrião nas diretas do PS marcadas para 15 e 16 de dezembro acusou ainda o PSD de, “não satisfeito com o corte de pensões”, tentar “tornar esse corte permanente”.
“Não conseguiram, foram travados pelo Tribunal Constitucional”, recordou, acrescentando que o PSD quis ainda “fazer um corte adicional de mais 600 milhões de euros”, travado pelo Governo PS.
Pedro Nuno Santos acusou Luís Montenegro de fazer “o mesmo número que Passos Coelho fez em 2011“, considerando “muito importante que o PSD apresentasse essas contas” para se fazer “um debate sobre a viabilidade da proposta”.
O candidato à liderança do PS considerou ainda “caricato” que o PSD apresente uma proposta para equivaler a pensão mínima ao salário mínimo nacional, quando “nunca o quiseram aumentar”.
“O pior que podia acontecer aos pensionistas era fazermos um aumento de pensões e voltar a recuar mais tarde”, considerou.
Esclarecimento do PSD
Já nesta segunda-feira, Joaquim Miranda Sarmento esclareceu: a promessa de Luís Montenegro é só sobre o Complemento Solidário para Idosos.
“O nosso programa estabelecerá que as pensões terão o aumento previsto na lei, de acordo com os diferentes escalões e aquilo que decorre já das normas que são aplicadas desde 2007″, começou por recordar o líder parlamentar do PSD, na rádio TSF.
“O presidente do PSD, adicionalmente a isso e ao cumprimento daquilo que é a lei no aumento de todas as pensões, referiu o aumento do Complemento Solidário para Idosos, que, em 2024, tem um valor de 550 euros e que nós pretendemos que suba gradualmente até 2028 para atingir um valor de 820 euros”, continuou Miranda Sarmento.
O Complemento Solidário para Idosos é pago a cerca de 170 mil portugueses.
(notícia atualizada às 12h27)
ZAP // Lusa
Montenegro é uma nuvem negra com uma carteira cheia de promessas que não passam disso. O retrocesso está à nossa porta como nos tempos de má memória do Coelho.
Comparar a bancarrota de Sócrates com a atualidade é um exercício de desonestidade intelectual.