A proteína identificada neste estudo processa sinais de temperatura em vez de sinais químicos para detetar frio extremo.
Uma equipa de cientistas conseguiu, recentemente, identificar o principal responsável por fazer os mamíferos sentirem frio.
Trata-se da GluK2, presente nos neurónios, que recebe sinais químicos para facilitar a comunicação entre estes. Segundo o EurekAlert, além do cérebro, esta proteína também se expressa nos neurónios sensoriais do sistema nervoso periférico.
“Estes sensores de temperatura começaram a ter relevância, há mais de 20 anos, com a descoberta de uma proteína sensível ao calor chamada TRPV1”, lembrou, em comunicado, o neurocientista Shawn Xu, professor do Instituto de Ciências da Vida da Universidade de Michigan.
“Vários estudos encontraram proteínas que detetam temperaturas quentes, mornas e até frias, mas não conseguimos confirmar o que deteta temperaturas abaixo de aproximadamente 60 graus Fahrenheit (-51,1º)”, acrescentou.
Uma dessas proteínas é a TRPM8, presente nas células do sistema nervoso, descoberta por cientistas das Universidades da Califórnia e de Yale e do Instituto Médico de Wisconsin ao verem que as coabaias que não possuíam essa proteína, que é ativada em temperaturas abaixo dos 26 graus Celsius, tiveram problemas para sentir frio quando o termómetro marcava 10ºC.
Mais recentemente, em 2019, investigadores do laboratório de Xu descobriram a primeira proteína recetora de deteção de frio em Caenorhabditis elegans, uma espécie de verme com um milímetro de comprimento que o laboratório estuda como sistema-modelo para compreender as respostas sensoriais.
Como o gene que codifica a proteína nestes vermes é evolutivamente conservado em muitas espécies, incluindo ratos e seres humanos, essa descoberta forneceu um ponto de partida para verificar o sensor de frio em mamíferos: GluK2.
Na recente investigação, os cientistas testaram a sua hipótese em ratos que não tinham o gene GluK2 e que não conseguiam produzir qualquer proteína GluK2.
Através de várias experiências onde testaram as reações comportamentais dos animais à temperatura e outros estímulos mecânicos, a equipa descobriu que os ratos respondiam normalmente a temperaturas quentes, mornas e frias, mas não apresentavam resposta ao frio extremo.
“Sabemos agora que esta proteína desempenha uma função completamente diferente no sistema nervoso periférico, processando sinais de temperatura em vez de sinais químicos para detetar frio ”, explicou Bo Duan, professor associado de Biologia Molecular, Celular e do Desenvolvimento.
Esta descoberta, publicada na Nature Neuroscience, pode ajudar a desvendar como sentimos o frio, e por que alguns pacientes o sentem de forma diferente quando estão doentes.