A máquina de propaganda da Rússia em África

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A RT, emissora estatal russa proibida na Europa e no Canadá desde a invasão da Ucrânia, instalou-se na África do Sul e procura aliados em África. A máquina de propaganda do Kremlin ainda é limitada, mas ganha velocidade.

É apenas uma questão de tempo para que mais propaganda russa seja transmitida a partir da metrópole empresarial sul-africana de Joanesburgo. A RT, anteriormente conhecida como emissora estatal russa Russia Today, quer instalar a primeira sede em língua inglesa do continente africano na cidade de Joanesburgo.

A sul-africana MultiChoice, que gere um importante serviço de televisão por satélite na África subsaariana, também se fechou às emissoras estrangeiras russas, uma semana após o início da guerra na Ucrânia.

Assim, a propaganda russa ficou limitada no continente, excepto em países africanos que ainda têm velhos laços com Moscovo desde os tempos da União Soviética – incluindo a África do Sul.

“Vivemos numa época em que o governo do apartheid não tolerava jornalistas que julgava ser demasiado críticos, ou que relatavam coisas que não queriam, e expulsou uma série deles. Não queremos voltar a ver nada do género”, afirma Anton Harber, professor de jornalismo na Universidade de Witwatersrand de Joanesburgo.

Ao mesmo tempo, Harber adverte o quão perigosa pode ser a propaganda quando as pessoas não se preocupam com os factos e deixam de ter um olhar crítico.

Reação dos meios de comunicação social

Como está a decorrer a campanha de desinformação do Kremlin no continente e como é que os meios de comunicação social estão a reagir?

“Alguns são bastante indiferentes, outros são muito explícitos nas suas críticas à guerra de agressão russa contra a Ucrânia. Não há um movimento de massas e os debates diferem de país para país”, responde Christoph Plate, da Fundação Konrad Adenauer em Joanesburgo.

Plate exemplifica que as pessoas no Quénia e na Nigéria estão muito mais esclarecidas sobre as causas da guerra na Ucrânia, devido a uma sociedade civil crítica e muito ativa nas redes sociais.

“Nas ruas, as pessoas não estão assim tão interessadas na guerra, que está muito longe. Mas entre jornalistas, diplomatas e funcionários governamentais, esta guerra está a ser fortemente discutida“, nota.

Muitas embaixadas russas em África são muito ativas na publicação de informações falsas ou na colocação de artigos de opinião nos jornais para promover a narrativa russa em África contra a narrativa ocidental.

Os laços antigos, reativados na sequência da política da Rússia para África, estão a ajudar. “Houve cooperação militar durante a era soviética e foram concedidas milhares e milhares de bolsas de estudo a estudantes de países africanos”, lembra Plate.

Impacto mediático difícil de avaliar

De acordo com Guido Lanfranchi, do Instituto Holandês de Relações Internacionais, a campanha dos media russos faz parte da estratégia de Vladimir Putin para obter mais poder no continente: “Esta ofensiva de encanto mediático está relacionada com os esforços da Rússia para expandir novamente a sua presença no continente.”

Mesmo sem ainda ser muito claro o impacto mediático desta propaganda sobre a população africana, Lanfranchi refere que há provas que “sugerem que um número crescente de pessoas em África tem acesso a estes meios de comunicação e que isto influencia positivamente a sua perceção da Rússia.”

Porém, acrescenta, “o impacto real é difícil de avaliar, porque não há estudos concretos nesta área”.

A influência da Rússia é significativa na área da cooperação em matéria de segurança. Com 44%, a Rússia é o maior exportador de armas em África. Mas “a presença da Rússia em África está a crescer muito rapidamente em todas as áreas”, sublinha Guido Lanfranch.

“A rutura das relações entre Moscovo e o Ocidente poderia acelerar esta tendência, à medida que a Rússia procura novos aliados a nível internacional, pelo que poderíamos ver uma presença russa mais forte no continente no futuro”, conclui.

ZAP // DW

5 Comments

  1. até nós já estamos numa ditadura, se for dito uma Frase em que se fale sobre a Russia somos Logo Bloqueados, se for a mesma Frase mas sobre a Ucrania , prontos ai já podemos.Se isto não é uma Ditadura não sei o que será.

  2. Porque é que a BBC é boa e a RT é má? São ambas financiadas pelos respetivos estados para promover a imagem dos seus países. E o respeito pela verdade á tão escasso numa como na outra. Se aceitamos uma temos de aceitar a outra.

  3. No YT ainda se encontram alguns documentários interessantes da RT sobre o que era feito pelos militares russos a cidadãos ucranianos, em especial os Azhov, que viviam na ucrania não há muitos anos. Também mostrou entrevistas dessas prisões clandestinas onde cidadãos normais eram torturados por razão nenhuma, também demonstra a razão de todo este conflito desde 2011, que não é algo de agora. Sé é pena num mundo livre, não darem a opção às pessoas de verem e lerem a informação que bem entendem e deixa-las formar a sua opinião com base no bom senso e sentido lógico das coisas, sabendo a versão de ambas as partes. E apenas serem “livres” de escolher a única narrativa que lhes permitem obter. Isso sim é propaganda. E não querendo dar razão ao aluno do Sr. Shwab, o motivo que levou a esta invasão, foi o facto do “novo” Presidente Americano ter iniciado a conversa da adesão da Ucrânia à ONU, algo que em 2015 Trump disse não se querer meter exatamente por saber que iria causar isto. Mas todos esses é que são malucos … os lideres atuais é que são os bons da fita, mesmo que estrejam diariamente a faturar milhões com as decisões que tomam e o mundo esteja mergulhado num caos. Eu até aposto que com o regresso de um determinado mulusco, algo me diz que a covid vai outra vez “disparar” e que não vai tardar muito a que o povo o queira de volta à prisão. Um era mau, este não é alternativa… fazem tudo para que em todo o lado continue um sistema bi-partidário, que obrigue as pessoas a escolher aquilo que querem, criando uma pseudo-democracia. Em que todos são livres, desde que pensem e façam como eles mandam.

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