20 anos depois, o pior atentado fundamentalista na história da Argentina voltou ao centro do cenário político.
O promotor federal Alberto Nisman, encarregado de investigar o caso, acusou a presidente Cristina Kirchner e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Héctor Timerman, de negociar com o Irão um “plano de impunidade” para encobrir os acusados.
Entre os suspeitos estão altos funcionários do governo iraniano, com pedido de captura pela Interpol.
Nisman apresentou um relatório de 300 páginas, com informações obtidas através de escutas telefónicas. O procurador pediu à Justiça a abertura de um inquérito para ouvir depoimentos da presidente Kirchner, do ministro Timerman e de alguns aliados políticos do governo. “
É uma decisão disparatada, absurda, ilógica, irracional e ridícula, que viola os artigos 75 e 99 da Constituição, sobre as atribuições do Poder Legislativo e do Poder Executivo”, reagiu esta quinta-feira o chefe de gabinete da presidente, Jorge Capitanich.
O atentado ocorreu em 1994, quando um carro-bomba explodiu à porta da Associação Mutual Israelita Argentina, AMIA, destruindo o prédio, no centro de Buenos Aires, e matando 85 pessoas.
Dois anos antes, um atentado contra a Embaixada de Israel tinha deixado saldo de 29 mortos e centenas de feridos. Até hoje, nenhum dos dois ataques terroristas foi esclarecido.
A Argentina é o país com a maior comunidade judaica da América Latina.
Foi Néstor Kirchner, presidente da Argentina de 2003 a 2007, que decidiu retomar as investigações do atentado à AMIA, tendo criado para o efeito uma procuradoria especial e colocado Nisman à frente do caso.
Segundo o promotor, as pistas encontradas indicam que o ataque teria sido planeado pelo governo iraniano da altura e executado pelo grupo xiita Hezbollah, com ajuda local.
Mas as investigações não puderam prosseguir, porque a Justiça argentina não conseguiu interrogar os suspeitos.
A pedido de Nisman, a Interpol pediu a captura de seis cidadãos iranianos, entre eles altos funcionários do país, e um libanês.
Todos os anos, a presidente Cristina Kirchner, viúva e sucessora de Nestor Kirchner, ao participar da Assembleia Geral das Nações Unidas, lembrava o atentado terrorista e criticava a falta de colaboração do governo iraniano nas investigações.
Mas em 2012, a situação mudou, com a abertura de diálogo com o Irão.
O resultado das negociações foi um memorando de entendimento entre os dois países para criar uma comissão da verdade e investigar o caso.
O acordo permite também que representantes da Justiça argentina viajem ao Irão para ouvir o depoimento dos suspeitos, sempre e quando aceitem falar.
Aprovado pelo Congresso argentino mas ainda não ratificado pelo Parlamento iraniano, o acordo foi duramente criticado na Argentina por associações judaicas e parentes das vítimas do atentado.
O governo defendeu o memorando, afirmando que era a única oportunidade para desencravar as investigações.
Nisman acusa agora a presidente Kirchner de estar a negociar com o Irão uma acordo para ilibar os culpados e encontrar um bode expiatório.
A razão, segundo o procurador, seria de carácter comercial: a Argentina quer trocar os seus grãos por petróleo iraniano.
Como prova, o promotor diz ter escutas telefónicas de conversas de agentes da Side, a agência de inteligência argentina.
Jorge Capitanich, por seu lado, acusa o promotor de fazer parte de uma conspiração de grupos do Poder Judicial, da imprensa e de agentes da Side removidos do cargo para “desestabilizar o governo”.
ZAP / Agência Brasil