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Professores em greve. Protestos dos pais? “A CONFAP que diga quanto recebe do Estado”

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Professor Luís Sottomaior vê pais a entenderem muito bem os protestos. E lamenta: “Há dinheiro para tudo mas os professores que aguentem”.

As greves dos professores não páram. A nível distrital, a nível nacional. O Sindicato de Todos os Profissionais da Educação tem greves previstas até 24 de Fevereiro – até dia 15, tendo em conta só os docentes.

Têm surgido notícias sobre indignação, ou até revolta, por parte dos pais. Os seus filhos, alunos, não têm tido diversas aulas ao longo deste ano lectivo.

Luís Sottomaior, professor de História do segundo ciclo e sub-director numa escola, deixa alguns reparos em relação às queixas anunciadas pela CONFAP – Confederação Nacional das Associações de Pais.

“Primeiro, não estamos a lutar só pelos nossos direitos; estamos a lutar para que a escola pública funcione bem. Depois, a CONFAP não tem representatividade para dizer que representa os pais portugueses. Aliás, para eu poder aceitar que isso é verdade, era bom que a CONFAP mostrasse os resultados eleitorais das associações que a compõem”.

Financiamento do Estado

“Eu arrisco-me a ser alvo de um processo por dizer isto, mas digo sem problema nenhum: seria interessante saber qual o financiamento que o Estado dá à CONFAP para esta funcionar. Discutindo essa ligação ao Estado, através do subsídio, acho que aí entendemos o que a CONFAP anda a dizer”, disse o sub-director no Agrupamento de Escolas da Abelheira – Viana do Castelo.

Luís tem sentido em diversas escolas que, entre os pais, não há animosidade generalizada. “Antes pelo contrário: os pais entendem muito bem o que está a acontecer” com os professores.

E voltam às críticas à confederação de associações de pais: “A CONFAP está muito preocupada com o problema da recuperação das aprendizagens, das aulas perdidas por causa da greve – mas ainda não vimos a CONFAP a ter um discurso estruturado sobre a falta de professores, que é generalizada e que vai crescer”.

Vai haver cada vez menos professores porquê? “Porque, se a minha sobrinha quisesse ser professora, eu ralhava. É uma má opção. É uma tradição na minha família mas, por mim, essa tradição cessa agora. Desejo que isto não tenha continuidade. Os professores são enganados e mal-tratados”.

“É triste uma democracia reprimir os professores. A única discussão que o regime democrático está a ter, em relação aos professores, é cortar salários. Hoje, financeiramente, estudar é pior do que a especulação mobiliária banal. Temos de reflectir que país é este. O modelo da sociedade portuguesa não privilegia a educação, acha que a escola é acessória”, apontou.

Políticos e… Porfírio Silva

Nesta conversa com o ZAP, Luís Sottomaior virou-se depois para os políticos, que têm um “preconceito” contra os professores – e o discurso de muitos políticos só aumenta irritação, avisou.

Com um alvo particular: Porfírio Silva, do Partido Socialista. “Se o Governo fosse inteligente, mandava calar o deputado Porfírio Silva. Eu estou convencido de que, cada vez que o deputado Porfírio Silva fala, mais professores aparecem na manifestação seguinte. Ele fala de uma realidade que julga conhecer mas não conhece; e é agressivo”.

Luís Sottomaior não gosta – sente “raiva”, admitiu o próprio – quando os professores são atacados. Porque… “Quando digo que sou professor, isso define a minha personalidade. Não é uma profissão transitória. E é um trabalho a longo prazo e está a criar-se um stress muito grande nas escolas, maior do que os efeitos da greve”.

Aliás, relatou, a greve está a criar efeitos positivos em muitos alunos porque há programas altamente stressantes para os alunos, nas escolas.

Marcelo, dinheiro e João Costa

Aponta à classe política de novo quando fala sobre o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que “está mais preocupado com o palco (da Jornada Mundial da Juventude) do que com os professores”.

Há dinheiro para tudo mas os professores que aguentem!”, lamentou, enquanto lembrou que os professores são eleitores, são pais.

O que esperas que saia daqui? Perguntamos. A resposta centrou-se em João Costa: “Espero que o Governo faça uma reflexão estratégica e que mude a forma como lidar com a educação. O Governo tem que ter pessoas competentes – e o nosso ministro da Educação (João Costa) é incompetente, politicamente, para lidar com os assuntos da educação”.

“É professor catedrático, do ensino superior, e acha que conhece bem o sistema, mas conhece mal. E já manifestou o seu desconhecimento. Além de ser um subordinado do ministro das Finanças. Precisamos de alguém com peso político, que dissesse ao ministro das finanças que a educação tem de ser uma prioridade financeira. 331 milhões de euros por ano (custo da recuperação integral das carreiras dos professores) é pouco dinheiro, no orçamento geral do Estado. Gastámos muito mais em bancos pequenos, que fomos salvar só pelo princípio de que temos de salvar bancos”.

Luís Montenegro não foi esquecido: “O líder da oposição diz que tem de se dar o tempo possível. Isso é uma formulação completamente hipócrita, até porque o PSD teve a oportunidade de resolver isto na legislatura anterior e não deu o passo em frente”.

Por fim, um aviso: os serviços mínimos obrigatórios não vão travar este movimento. “Estamos a lidar com pessoas criativas, que têm soluções. Não são pessoas que não têm cultura; são pessoas que transmitem cultura à sociedade”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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23 Comments

  1. Sou pai de duas filhas, 8 e 13 anos, e quando surge em conversa sobre o futuro e o que gostariam de ser, faço sempre questão de dizer que nunca pensem sequer em serem professoras. Claro que a escolha será delas, contudo, como pai indico e explico o porquê da minha opinião.

    • As filhas devem pensar, no seu intimo, se nao tivesses a sorte de arranjar o tacho a professor do Estado, o que seria no nosso crescimento, como nos sustentavas, que alternativa tinhas na vida, com as tuas habilitaçoes será que ias para trolha ?

  2. «…Há muita gente que não tem qualidades nem capacidades de ensino, não devia estar a ensinar, não por razões morais mas por razões técnicas, profissionais, porque não sabem para elas quanto mais para os outros…» – Joaquim Letria

    • Bons e maus profissionais existem em todas as áreas – até na área do autor da opinião. Por isso, não é um argumento válido para o tema.

      • Este Figueiredo todos os dias repete a mesma frase do Joaquim Letria.
        Que pobreza!!! Não passa mais nada naquela cabeça…
        Vai deixar de a repetir quando tiver de ser ele a dar aulas aos filhos ou netos.
        Mas será que tem competências para isso?
        Não a acredito!!!
        Tenho o direito de não acreditar, como ele tem o direito de todos os dias repetir a mesma frase.
        E já agora: o Joaquim Letria é exemplo para avaliar alguém?
        Não lhe reconheço tais competências…

    • Terão habilitaçoes para isso ? se um professor nao tivesse a sorte do Estado lhes dar um Tacho, com as habilitaçoes que tem o que iam fazer para o seu sustento e das suas familias ?

  3. Os professores, muitos deles tem razão, mas porque o sindicato não fez greve durante a “gerigonça” ou durante o covid ??
    aja vergonha.

    O governo nada faz para que aja 1 entendimento só pode indicar que exista aqui lobis por parte dos privados, o ensino é luxo que visa estar ao alcance dos mais favorecidos economicamente, era assim no tempo da velha sra.

  4. No meu tempo a preocupaçao dos Pais era que os nossos filhos tivessem um ensino de qualidade, o respeito mutuo Professor/Aluno, uma formação capaz de um Amanhã prospero para os nossos filhos, hoje os alunos e os Pais sao armas ao inteiro serviço dos professores porque nao interessa a qualidade da formação dos seus queridos filhos, o importante é passar de Ano e ter boas notas mesmo que seja á biqueirada, e que a sua formaçao aponte para um amanhã negro, um amanha que a unica saída na vida seja a necessidade de arranjar um tacho no Estado como professor.

  5. Infelizmente este professor é daqueles que não sabe do que fala e infelizmente temos muitos na escola publica. O MAP (Movimento associativo de pais) é um movimento de pais voluntários com filhos matriculados na escola publica e que a CONFAP faz parte como as Associações de pais das escolas, e sendo de voluntariado vive de cotas dos associados, e de subsídios do estado e de empresas, esse dinheiro muitas das vezes vai para melhorar as condições das salas de aula.
    Infelizmente os pais não podem estar de desacordo nem com os professores nem com as greves dos professores, pois senão, os seu filhos “Levam” com a ira dos professores nas notas e nas correcções dos testes.
    O senhor professor devia-se preocupar em separar o trigo do joio, os bons professores e maus professores, e infelizmente a escola publica está cheia de maus professores avaliados com excelência.

  6. Como é possível a CONFAP, financiada pelo Estado ir contra o governo que financia os ditos representantes dos pais. Ditado popular: nenhum cão morde a mão do seu dono.

  7. Vivemos em democracia, mas os políticos não querem que o povo aumente os seus níveis de literacia de modo a não terem conhecimentos para contestarem as asneiras que cometem quando são governo. por esta razão há universidades próprias de cada partido para formarem políticos e com isto criam portuguese de primeira e portugueses de segunda.

  8. Se este ministro da educação é professor universitário, muito mal anda o ensino de grau superior. Ministro após ministro, excetuando Mariano Gago, o ensino tem ido de mal a pior. Os governantes querem professores a preços de low cost e manter bem paga a imbecilidade dos políticos atuais numa sociedade de interesses de clientelas partidárias e de miserabilismo para o cidadão. Se Salazar utilizou a remuneração dos funcionários públicos para equilibrar as contas ,estes vão mais longe, roubam os mesmos funcionários para progredirem eles próprios nas carreiras e na corrupção generalizada. Esta, sem duvida muito maior , mais opaca e mais secreta, que nos tempos salazaristas.. Cinquenta anos após o 25 de Abril, dramaticamente, Portugal está na mesma, ao serviço duma clientela muito maior que então. Nada mudou nos antros da politica secular que continua incapaz de construir um país. Nem com a ajuda de rios de dinheiros vindos da Europa ao preço da uva mijona. Não há remédio !

  9. Ser professor é um tacho tão bom que ninguém quer esta profissão. Os próprios professores também não querem que os filhos optem pela profissão. Hoje, 60.000 alunos não têm aulas, pelo menos, a uma disciplina por não haver professores.
    Quanto à caixa de supermercado, com certeza que não será de esperar que se estude tanto para exercer tais funções. Quando vou a um supermercado, não penso ver um médico, um enfermeiro, um professor, um juiz a trabalhar lá.
    Quanto ao Joaquim Letria, não o considero bom jornalista. Deixa muito a desejar. Efetivamente, há bons e maus profissionais em todas as profissões.

  10. Se é tão mau ser professor, porque é que eles não se vão embora?
    Melhor, porque é que não se juntam e criam e sustentam a escola que eles exigem do Estado (de todos nós, os que não tem capacidade financeira para abdicar de um único dia de trabalho)? Davam os salários que exigem, as progressões que exigem, punham os professores a dar aulas onde eles quisessem, etc., com tanta qualidade , de certeza que essa escola ia ser um sucesso.
    Forçam professores, mostrem como se faz.

  11. Pois… quem manda nas Escolas? Os meninos, representados pelos Pais.
    Para que serve a Escola? Para guardar os meninos.
    Ensinar… quando é possível.
    E no momento da classificação? O Ministério exige, os Pais exigem e os Meninos decretam.
    Quanto a Educação, se não a trazem de casa, como é que os Funcionários e o Professores vão educar esses meninos?
    Assim está o “ensino”…

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