O príncipe saudita Mohammed bin Salman terá enviado, pelo menos, 11 mensagens ao seu conselheiro que, alegadamente, terá sido o responsável por orquestrar o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, horas antes do crime.
Esta é a conclusão de um relatório da CIA a que o The Wall Street Journal teve acesso. De acordo com o documento, a troca de mensagens terá acontecido perto da altura da morte do jornalista que colaborava com o Washington Post.
“Podíamos atraí-lo [Khashoggi] fora da Arábia Saudita e tratar do assunto”, terá comentado o príncipe saudita com os seus conselheiros em agosto de 2017, apontaram os especialistas que redigiram o relatório. As autoridades sauditas só avançariam para este cenário caso o governante não conseguisse convencer Khashoggi, que viva no estado norte-americano da Virgínia, a regressar a solo saudita.
Os peritos não conseguiram determinar se as mensagens foram enviadas diretamente do monarca saudita ou se terá sido algum responsável pela sua comunicação. As comunicações “parecem referir-se à operação saudita lançada contra Khashoggi”, pode ler-se no relatório agora divulgado.
Apesar das dúvidas sobre a autoria das mensagens que terão sido trocadas, a CIA tem “confiança média/alta” de que o Príncipe definiu Khashoggi “pessoalmente” como alvo e que “provavelmente” terá ordenado a sua morte.
“Para sermos claros, é preciso afirmar que nos falta uma confirmação direta de que o Príncipe emitiu a ordem da morte”, concluíram os especialistas.
O conselheiro em questão é Saud al-Qahtani, que foi sancionado pela Casa Branca no passado outubro por causa do envolvimento na morte de Khashoggi.
A agência de inteligência norte-americana não avançou ainda uma conclusão definitiva mas, e segundo o relato do The Wall Street Journal, a CIA terá concluído que o príncipe saudita terá ordenado a morte do jornalista Jamal Khashoggi.
Mensagens de WhatsApp podem dar novas provas
De acordo com a CNN, que teve acesso à correspondência entre Jamal Khashoggi e um ativista saudita exilado no Canadá, o jornalista atacava o caráter “opressor” do príncipe da Arábia Saudita. Serão mais de 400 mensagens trocadas através do WhatsApp.
Para Khashoggi, Mohammad bin Salman era uma “besta”, uma espécie de “pac-man” capaz de comer tudo o que encontrasse pelo caminho, incluindo os próprios apoiantes.
“Quanto mais vítimas come, mais vítimas quer comer“, terá escrito Khashoggi, numa mensagem enviada em maio, imediatamente depois de um grupo de ativistas sauditas ter sido pressionado pelas autoridades.
Segundo a correspondência a que a CNN teve acesso, Khashoggi juntou-se ao ativista, Omar Abdulaziz, para planear um movimento juvenil online que visava responsabilizar a Arábia Saudita. “(Jamal) acreditava que a Mohammad bin Salman era o problema, e que o problem deveria ser parado”, disse Abdulaziz em declarações à CNN.
Meses depois, em meados de agosto, Khashoggi começou a desconfiar que as suas conversas no WhatsApp pudessem estar a ser intercetadas pelas autoridades do reino. “Deus nos ajude”, terá escrito. Dois meses depois, foi morto na embaixada da Arábia Saudita, em Istambul, Turquia.
“A invasão do meu telemóvel desempenhou um papel importante no que aconteceu com o Jamal, lamento muito”, disse Abdelaziz, acrescentando “A culpa está a matar-me“. O ativista canadiano intentou uma ação contra a empresa israelita que inventou o software que acredita ter sido usado para invadir o seu telemóvel.
Khashoggi morreu asfixiado com um saco
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, assegurou que Khashoggi morreu asfixiado com um saco plástico, sublinhando a necessidade de uma investigação internacional.
“O saco que se colocou na sua cabeça…. o seu sofrimento posterior. Já sabem. Deixamos que todos ouvissem isso”, disse Erdogan, em alusão às gravações de áudio do assassinato que as autoridades turcas partilharam com vários governos.
O líder turco falava aos jornalistas que o acompanhavam no avião presidencial rumo ao Paraguai depois de ter estado este fim de semana na cimeira do G20 em Buenos Aires. “Se necessário, vamos levar o caso até às Nações Unidas”, disse Erdogan, afirmando que a Turquia vai continuar com o caso até ao fim.
Para Erdogan, o caso Khashoggi é um “problema mundial”. O Presidente da Turquia pediu novamente às autoridades sauditas que esclareçam quem foi o responsável e que revelem a localização do corpo do jornalista saudita.
“Queremos que fique tudo claro”, disse Erdogan, assegurando que a Turquia não tem qualquer intenção de danificar a imagem da família real saudita.
Durante a cimeira do G20, Erdogan criticou que o assassinato de Khashoggi não fosse um tema de agenda nessa reunião de líderes, acusando o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, presente em Buenos Aires, de tentar desligar o país do caso.
ZAP // EFE