Em Portugal, tal como noutros países que já iniciaram a vacinação, começam a surgir os primeiros dados sobre a eficácia das vacinas contra a covid-19.
Segundo o semanário Expresso, o Hospital de São João, na cidade do Porto, é um desses exemplos, onde, este mês de fevereiro, não surgiu nenhum caso de infeção entre quem já recebeu a vacina. Os sete casos positivos registados ocorreram em quem não tinha sido inoculado (e a infeção deu-se em contexto familiar).
“O número de casos em fevereiro até agora é inferior ao que tínhamos por dia em outubro, novembro e dezembro”, referiu ao jornal Pedro Norton, diretor do Serviço de Saúde Ocupacional deste centro hospitalar, que ficou responsável por compilar estes dados.
Ao contrário do que aconteceu a nível nacional, o número de casos positivos entre enfermeiros, assistentes e médicos do São João foi muito mais baixo na terceira vaga (140), período em que a maioria dos profissionais já tinha pelo menos uma dose, do que na segunda (590) ou na primeira (200).
Segundo o semanário, desde março que o hospital está a testar os profissionais ao mínimo sintoma, a avaliar o grau de risco dos contactos e a fazer o follow up até à alta. Até 21 de fevereiro, dos 928 infetados, 869 estavam recuperados.
“Foi graças a este esforço que conseguimos manter todos os serviços do hospital sem interrupções por falta de pessoal”, acrescentou Pedro Norton, que também é investigador da Unidade de Epidemiologia do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
O passo seguinte será seguir quem foi vacinado e fazer análises serológicas para perceber se vão surgir casos de infeção assintomática.
Vacinas para médicos fora do SNS e dos privados
De acordo com o mesmo jornal, a partir deste sábado vão começar a ser vacinados os médicos que trabalham fora do SNS ou dos grandes hospitais privados, ou seja, por exemplo em consultórios ou em laboratórios.
A Ordem dos Médicos está a liderar o processo, incluindo a distribuição das doses, entregues diretamente pela task-force responsável pelo plano de vacinação. No total, serão 4198 profissionais que vão ser vacinados, em quatro centros de vacinação criados em instalações militares no Porto, Coimbra e em Lisboa e no Hospital de Faro.
Os médicos com mais de 65 anos serão protegidos com a vacina da Pfizer e os mais jovens com a versão da AstraZeneca, tal como é recomendado no plano de vacinação.
Segundo o Expresso, a Ordem dos Médicos identificou, entretanto, 82 profissionais que já foram vacinados e, por isso, já tem uma lista de suplentes.
Só 55% dos convocados responderam ao SMS
Desde que se iniciou a vacinação de pessoas com mais de 80 anos e de indivíduos com mais de 50 anos com doenças de risco associadas, foram enviadas 30.500 convocatórias por SMS.
Segundo o jornal Público, só foram obtidas 16.799 respostas, ou seja, 55,08%, sendo que a grande maioria foi para responder positivamente à convocatória (16.393). Apenas 406 pessoas disseram que não queriam ser vacinadas, o que equivale a 2,47%.
A ausência de resposta, explica Diogo Urjais, presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde familiar, não é porque as pessoas não queiram ser vacinadas, mas sim porque muitos idosos “não têm telemóvel ou não o sabem usar”.
Em declarações ao jornal, os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), que disponibilizaram estes dados, reforçam que “todos os utentes serão contactados, sendo a SMS apenas o meio preferencial, em virtude da sua simplicidade”.
“Nas situações em que se verifique uma ausência de resposta à SMS, os centros de saúde podem sempre convocar os utentes para vacinação através de chamada telefónica e, em último recurso, enviar carta”.
Elisa Ferreira convicta de que 70% da população da UE estará vacinada no verão
“Estou convicta de que a capacidade de produção de vacinas vai aumentar e que de facto no verão conseguiremos cumprir a meta de 70% da população vacinada, com uma cooperação muito estreita com os sistemas de saúde dos Estados-membros”, afirmou Elisa Ferreira durante a videoconferência “Tempo de atuar para uma Europa resiliente”, organizada pela embaixada de Portugal em Madrid.
Segundo a comissária, com o surgimento da pandemia eclodiram também “expectativas elevadas em relação às competências da UE” em matéria da saúde. Contudo, esta é uma área da competência dos Estados-membros, lembrou, pelo que é necessário “calibrar” essas expectativas em torno do bloco comunitário.
Ainda assim, e tendo em conta as limitações da competência da UE em matéria de saúde, Elisa Ferreira argumentou que “a Comissão não se retraiu, nem evitou tomar decisões e agir em todas as dimensões onde era possível”.
“Estamos a fazer o máximo para ajudar os cidadãos nos países, nas regiões, que precisam de ajuda, tendo em conta os nossos limites”, garantiu.
Para a comissária, “sem a negociação coletiva” por parte da Comissão Europeia na compra de vacinas “teria havido uma estratégia de nacionalismo dentro da UE, com os Estados-membros a competirem entre si” e “o preço a pagar teria sido muito maior”.
Elisa Ferreira admite que “no futuro, é possível se fará sentido dar mais competências à UE em matéria de saúde”, dado que o projeto europeu “tradicionalmente evolui com as crises”. No entanto, “é necessário que os cidadãos e as instituições assim o desejem”.
A União Europeia tem vindo a discutir também a criação de um passaporte de vacinação contra a covid-19 para permitir que os cidadãos europeus possam circular livremente assim que estiverem vacinados.
Para Elisa Ferreira, contudo, esta “não é a solução” para o problema, defendendo “algo mais prático que permita efetivamente a circulação de pessoas” e que não dê espaço para “a discriminação” dos cidadãos que não tiveram ainda possibilidade de serem vacinados.
“Neste momento, na Europa, os números [de pessoas vacinadas] variam entre países, mas temos entre 3% a 10% da população vacinada. Ora, os 97% ou 90% de cidadãos que não receberam ainda as vacinas não podem ser discriminados”, frisou.
A solução poderia passar, então, de acordo com a comissária, pelo acesso generalizado a testes rápidos de covid-19, para que as pessoas que queiram ou precisem de viajar possam comprar um teste rápido antes de o fazer.
Ainda assim, considera que a criação de um certificado de vacinação, tal como o que se usa atualmente para identificar a febre amarela, “é uma boa ideia”, mas coloca em causa “os direitos que lhe estão associados“, que “têm de ser geridos com muitíssimo cuidado para que não se criem disparidades entre os cidadãos”, pois, defende, “tal não é aceitável”.
ZAP // Lusa