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Ao contrário do previsto, taxas de suicídio não aumentaram durante a pandemia

Embora muitos peritos em saúde mental tenham previsto um aumento no número de suicídios após a pandemia de covid-19, a maior parte da investigação publicada em revistas científicas aponta para a ausência de alterações ou para uma diminuição da taxa.

Esta é a conclusão de um novo estudo sobre o impacto da covid-19 nas taxas de suicídio em países subdesenvolvidos, realizado por um instituto da Faculdade de Medicina de Bristol, pertencente à da Universidade de Bristol, em Inglaterra, divulgado recentemente na PLOS Global Public Health.

A investigação, liderada pela cientista Duleeka Knipe, foi conduzida por um grupo de cientistas de todo o mundo, incluindo da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, e do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul (SAMRC, sigla em inglês).

Segundo o Science Daily, a equipa recolheu e sintetizou os dados através de uma revisão à investigação sobre o comportamento suicida nos países subdesenvolvidos, recorrendo a múltiplas bases de dados, em várias as línguas.

“As provas mais sólidas” apontaram para “uma redução ou nenhuma alteração no suicídio e auto-flagelação” nos países subdesenvolvidos após a pandemia, referiu o investigador Jason Bantjes, do SAMRC e da Universidade de Stellenbosch, um dos envolvidos no projeto.

Estas descobertas, continuou, não significam “que a pandemia não tenha causado angústia social e psicológica ou dificuldades económicas, mas”, tendo em consideração as provas disponíveis, mostram “que isso não se traduziu num aumento do comportamento suicida”.

Bantjes indicou que este resultado vai ao encontro de um estudo anterior, publicado no Lancet Psychiatry em abril, no qual se concluiu que as taxas de suicídio em países desenvolvidos se mantiveram, na maior parte dos casos, inalteradas. Os dados mostraram ainda que, em alguns países, essa diminuiu na fase inicial da pandemia.

Para Bantjes, a descoberta mais surpreendente é a ausência de dados fiáveis sobre suicídios em África, embora “isso não seja de todo surpreendente”, uma vez que o suicídio “não é considerado um dos maiores problemas de saúde pública da região”.

“Consequentemente, a investigação sobre esta questão não tem sido historicamente uma prioridade, como é o caso nos países desenvolvidos e nos países ocidentais, em grande parte devido a sérias limitações ao nível dos recursos e a vários desafios de saúde prementes”, continuou.

E acrescentou: “Qualquer impacto da pandemia nas taxas de suicídio em África é suscetível de ser obscurecido por problemas de saúde mais visíveis e pelo aumento da morbilidade e da mortalidade associadas a outras doenças cuja gestão foi interrompida quando os serviços de saúde, já limitados, foram encerrados para reintegrar o pessoal médico em unidades de emergência e de cuidados intensivos para tratar pacientes com covid-19″.

Bantjes disse que, na ausência de dados epidemiológicos fiáveis sobre suicídios em África, não é possível avaliar com precisão o impacto total da covid-19 nem planear estratégias de prevenção na região.

Para o investigador, as conclusões desta investigação agora divulgada devem ser encaradas com cautela, uma vez que se baseiam em dados de apenas 12 dos 135 países referenciados na Low and Low Middle Income Countries (LMIC) – uma lista de países de baixa e média renda.

“A maioria dos estudos analisados baseou-se em dados recolhidos nos primeiros meses da pandemia e, em geral, a qualidade dos estudos era fraca. Além disso, a investigação nesta área carece de dados comparáveis pré-covid-19, que permitam uma avaliação significativa do impacto real da pandemia nas taxas de suicídio”, frisou.

Taísa Pagno //

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