Presidente do Irão cancela entrevista após jornalista da CNN recusar usar véu

O presidente do Irão, Ebrahim Raisi, cancelou uma entrevista com a jornalista da CNN Christiane Amanpour após esta ter recusado usar um lenço na cabeça, nos Estados Unidos.

A entrevista já estaria combinada e preparada há várias semanas, mas 40 minutos decorridos, Raisi abandonou a entrevista porque a jornalista recusou-se a colocar um véu na cabeça. O presidente iraniano considerou uma falta de respeito aos meses sagrados do Muharram e Safar.

Segundo a própria jornalista, foi um assessor de Ebrahim Raisi que, já durante a entrevista, abordou Amanpour relativamente ao pedido do chefe de Estado iraniano. O episódio foi descrito pela jornalista da CNN através de uma publicação no Twitter.

“Eu educadamente recusei. Estamos em Nova Iorque, onde não há lei ou tradição sobre lenços na cabeça. Salientei que nenhum presidente iraniano anterior exigiu isso quando os entrevistei fora do Irão”, explicou Christiane Amanpour.

“O assessor deixou claro que a entrevista não aconteceria se eu não usasse um lenço na cabeça. Ele disse que era ‘uma questão de respeito’ e referiu-se à ‘situação no Irão’ – aludindo aos protestos que varrem o país”, prosseguiu a jornalista.

“A entrevista não aconteceu. À medida que os protestos continuam no Irão e as pessoas estão a ser mortas, teria sido um momento importante para falar com o presidente Raisi”, escreveu ainda a jornalista da CNN, no Instagram.

Esta seria a primeira entrevista dada por Ebrahim Raisi em solo norte-americano.

A jovem Mahsa Amini, de 22 anos, foi detida na terça-feira passada pela designada “polícia de moralidade” de Teerão, onde se encontrava de visita, por alegadamente trazer o véu de forma incorreta e transferida para uma esquadra com o objetivo de assistir a “uma hora de reeducação”.

Morreu três dias mais tarde num hospital onde chegou em coma após sofrer um ataque cardíaco, que as autoridades atribuíram a problemas de saúde, versão rejeitada pela família.

Desde então multiplicaram-se os protestos em pelo menos 20 cidades, com a morte de pelo menos 17 pessoas, segundo a televisão estatal iraniana.

A Iran Human Rights (IHR), uma organização não governamental (ONG) sediada em Oslo, referiu-se a um balanço mais elevado, ao referir-se a pelo menos 31 civis mortos no Irão desde o início das manifestações.

Irão bloqueia redes sociais

As autoridades iranianas bloquearam na quinta-feira o acesso às redes sociais Instagram e Whatsapp, após seis dias de protestos.

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, anunciou uma investigação à morte de Mahsa Aminimas denunciou a “hipocrisia das potências ocidentais”.

“Tenho certeza, uma investigação será certamente aberta”, afirmou Raisi aos jornalistas à margem da Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, indicando que o relatório do médico legista não mencionou abusos da polícia.

“O povo iraniano desceu às ruas para se bater pelos direitos fundamentais e a sua dignidade humana (…) e o Governo respondeu a estas manifestações pacíficas com balas”, denunciou em comunicado o diretor da ONG, Mahmood Amiry Moghaddam, ao emitir um balanço após seis dias de protestos.

Em paralelo, a poderosa Guarda Revolucionária do Irão definiu ainda hoje como “sedição” os protestos por Masha Amini e pediu ao poder judicial que proceda ao julgamento “de quem dissemina rumores e mentiras” nas redes sociais e nas ruas.

O corpo militar referia-se aos recentes atos de “sedição” que foram “organizados pelo inimigo”, num duro comunicado onde também envia condolências à família da falecida.

“Pedimos ao judiciário que identifique os que disseminam rumores e mentiras nas redes sociais e nas ruas e atue decididamente contra eles”, acrescentou esta divisão de elite das Forças armadas iranianas.

Daniel Costa, ZAP // Lusa

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