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Uma das piores pandemias da História pode não ter sido tão grave como se pensava

Pieter Brughel des Älteren / Wikimedia

A Praga de Justiniano é considerada uma das pandemias mais graves da história da Humanidade. Pensa-se que tenha tirado a vida a metade da população do Império Bizantino.

Embora seja inquestionável que a Praga de Justiniano tenha tido muitas repercussões no Império Bizantino, um novo estudo sugere que a taxa de mortalidade e a sua severidade talvez não tenham sido tão graves como se pensava anteriormente.

De acordo com o site IFLScience, o patógeno responsável por esta pandemia foi a bactéria Yersinia pestis, a mesma por detrás da Peste Negra no século XIV. A praga eclodiu no Egipto e enraizou-se no Império Bizantino entre os anos 541 e 544 (continuando a ocorrer ocasionalmente até ao ano 750).

Casos da doença foram reportados em cidades e vilas tão longínquas como o norte da Europa, o Médio Oriente e o norte de África, mas a área mais atingida foi Constantinopla, na atual Turquia. Documentos escritos sugerem que a praga matou até 300 mil pessoas na cidade, mais de metade da população daquela época.

O novo estudo, levado a cabo por cientistas da Universidade de Maryland e publicado na revista científica PLOS ONE, sugere que o impacto desta pandemia pode ter sido exagerado.

Embora o número exato de mortes ainda não seja claro, os modelos matemáticos usados indicam que a contagem de mortes é geralmente baseada em fontes primárias de Constantinopla, onde o surto foi bem documentado, mas também mais grave.

Os investigadores consideram ser improvável que o surto tenha sido tão grave, uma vez que as rotas de transmissão variariam em todo o império. Por exemplo, é mais provável que a doença se espalhasse numa cidade densamente povoada, ligada a extensas rotas comerciais, em comparação com as povoações no norte da Europa.

Mas mesmo entre cidades diferentes, cada uma com o seu próprio ambiente ecológico e estruturas sociais, os cientistas acreditam que o surto provavelmente não se desenrolou tão severamente quanto as fontes escritas de Constantinopla indicam.

“Os nossos resultados sugerem fortemente que os efeitos da Peste Justiniana variaram consideravelmente entre diferentes áreas urbanas na antiguidade tardia”, disse em comunicado o co-autor do estudo, Lee Mordechai.

“Esta é a primeira vez, daquilo que sabemos, que uma abordagem robusta de modelos matemáticos foi usada para investigar a Praga de Justiniano. Dado que há muito pouca informação quantitativa nas fontes primárias, esta foi uma excelente oportunidade para pensar de forma criativa sobre como poderíamos combinar o conhecimento atual da etiologia da peste com descrições dos textos históricos”, afirma ainda Lauren White, autora principal da pesquisa.

Em 2019, investigadores da mesma universidade norte-americana, entre os quais Mordechai, já tinham apresentado um estudo cujas conclusões iam exatamente neste mesmo sentido.

ZAP //

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