O hábito de abrir a caixa do correio não se perdeu, mesmo quando a correspondência varia entre contas e publicidade, mas há 5.600 portugueses que são exceção ao receberem postais reais através de uma rede virtual.
O projeto tem nome inglês – Postcrossing (cruzamento de postais) -, apesar da ideia ter surgido de um português, a residir em Berlim. Em 2005, era Paulo Magalhães estagiário de Engenharia de Sistemas e Informática e começou a lamentar receber cada vez menos postais por parte dos amigos.
A companheira Ana Campos é que conta a história e a dedução do namorado: “um dia pensou que talvez houvesse outras pessoas com caixas de correio vazias e vontade de receber postais e então decidiu criar o projeto Postcrossing”.
“A ideia é simples: quem envia, recebe – e quanto mais se enviar, mais se recebe. Foi o projeto perfeito para resolver o problema da caixa de correio vazia do Paulo e de muitas outras pessoas pelo mundo fora”, assegura Ana Campos à agência Lusa.
Ao contrário da experiência de que alguns ainda se lembram, os penfriends, Ana lembra que neste caso há comunicação à distância, mas sem que haja troca de correspondência contínua e prolongada.
O primeiro passo neste projeto é o registo na página Postcrossing, ao qual se segue o pedido de uma morada, em qualquer parte do mundo, para enviar um postal, no qual tem de estar escrito um código dado pelo site que identifica aquela troca específica.
Com a chegada do postal, o destinatário regista o código no site e pode deixar uma pequena mensagem de agradecimento, além de poder fazer upload de uma fotografia do postal.
O processo é feito com o máximo de discrição possível: a morada do remetente, com exceção do país, nunca fica visível para o destinatário.
“Cada troca é única e acontece sempre com pessoas diferentes. Deste modo, o sistema assegura que os postais que se recebem vêm sempre de sítios inesperados. E que há sempre uma surpresa à nossa espera quando abrimos a caixa do correio”, acrescenta Ana Campos.
Atualmente, o projeto é “especialmente popular na Rússia, Alemanha, USA, Holanda, Finlândia” e em Portugal há 5.600 utilizadores, que já enviaram 348 mil postais.
Como principais motivos para a rede funcionar estão a “surpresa, o prazer de chegar a casa e encontrar qualquer coisa que não contas ou publicidade à nossa espera na caixa de correio” e a “empatia/dedicação”.
“Quando recebemos um postal, sabemos que alguém que não conhecemos, algures noutra parte do mundo, dedicou uns minutos do seu dia a escrever este postal para nós. É um pequeno gesto, mas tão humano e altruísta, que nos toca a todos”, explica a Ana, referindo que numa altura em que a comunicação é feita através de “Like” no Facebook ou Instagram, se pode contrapor um postal, que “implica esforço e dedicação”.
“Não é por acaso que são os postais que colamos no frigorífico ou levamos connosco para o local de trabalho para mostrar aos colegas”, notou a portuguesa, que recordou ainda que nesta rede também se aprende com o “contacto com outras culturas”.
Para os registos de memória da comunidade há histórias de amizade, de escolas que usam o projeto, como ocorreu em Tuvalu, e vários casamentos, como o dos ucranianos Ivan e Natália, que se conheceram num encontro de utilizadores do Postcrossing.
Há selos que foram lançados tendo por base o projeto, que já possibilitou muitas reuniões entre os denominados postcrossers, provando que a comunicação pessoal pode ter ajudas digitais e, sobretudo, do carteiro.
/Lusa