É provável que cheguemos ao limiar de “zero publicações” – e mais cedo do que esperamos, porque “já não há mais incentivo para publicar”.
As pessoas não desapareceram das redes sociais. Mas estão a publicar menos do que acontecia até este ano. Isso verifica-se nos mais novos, nascidos depois de 1995.
Os utilizadores agora vêem mais publicações de influencers, ou ligadas a negócios, a marcas, promoções de produto, discussões sobre tendências.
Há uma razão óbvia: sobretudo TikTok e Instagram têm algoritmos que fazem com que a pessoa veja um vídeo a seguir ao outro, e depois mais um, e depois mais uma foto. Ver, não publicar.
Katty Kay, jornalista e especialista em algoritmos, resume na BBC: “As redes sociais passaram a ser menos sociais. São mais uma questão de consumir esse tipo de conteúdo que, hoje, é basicamente commodity“.
Por outras palavras: “É mais questão de aspiração de estilo de vida, não simplesmente sobre o que está a acontecer à tua volta e como te relacionas com amigos e família. Para mim, isso quase elimina o propósito das redes sociais”.
Para Katty, as plataformas de redes sociais estão a perder o foco na vida normal das pessoas. Assim, “as pessoas normais não se sentem incentivadas a publicar”. As redes sociais passam a ser uma televisão.
O que nos aparece à frente são anúncios de marcas, fast fashion, anúncios de casas e hotéis. O conteúdo orgânico, consistente, quase desapareceu.
Então os utilizadores deixaram de partilhar momentos da vida pessoal? Não. Agora fazem-no mais através de mensagens directas, conversas individuais. É uma “forma mais privada, mais íntima de conexão online”.
Katty Kay acredita que o auge das redes sociais já foi. Mas este sector do mundo digital não desapareceu, nem vai desaparecer, as conversas e partilhas vão continuar.
E também acredita que um dia iremos mesmo chegar a um momento de “zero postagens”. E até vai chegar “mais cedo do que esperamos, simplesmente porque não há mais incentivo para publicar”. Publicar para quê? Quantos amigos vão ver?
Ainda há outro factor: “Agora, estamos a acordar um pouco e a ver os danos que causou tanta partilha, tanta exposição. E estamos a mudar um pouco os nossos hábitos”, completa Katty.