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Português no Kuwait acusado de roubo e de responsabilidade sobre dívida milionária

Acusado de um roubo que a família garante não ter praticado e de responsabilidade sobre uma dívida de 22 milhões de euros, um cidadão português foi detido no Kuwait e está impedido de sair do país.

Ricardo Pinela, de 37 anos, tinha acabado de fazer o pagamento dos salários em atraso da empresa onde trabalha, no Kuwait, quando foi levado pela polícia para interrogatório, juntamente com um colega italiano.

Os dois funcionários da construtora CMC Di Ravenna foram detidos, passaram a noite na prisão e, agora, estão sujeitos a termo de identidade e residência. Não podem sair do Kuwait e temem que uma nova alegada “falsa acusação” seja criada para os manter lá.

“Foram usados quase como uma garantia de pagamento”, contou ao Expresso Sara Pinela, mulher de Ricardo, que está em Portugal com as duas filhas do casal. Desde 2006 que o português trabalha para a multinacional italiana e, no começo deste ano, foi em regime de expatriado para o Kuwait, onde assumiu funções como diretor de projeto.

Atualmente, a CMC Di Ravenna está em reestruturação financeira e, há uma semana, decidiu terminar o contrato no Kuwait. No entanto, a decisão deixou problemas por resolver: três meses de salários em atraso a todos os funcionários e 25 milhões de dólares (cerca de 22 milhões de euros) em dívidas a fornecedores e a subempreiteiros.

No dia em que o contrato foi terminado, todos os expatriados saíram do país, ficando apenas o português e o italiano Andrea Urciuoli, diretor administrativo.

“Foram os únicos que ficaram para trás. Por um lado, para chegarem a acordo para o pagamento de salários e também para encontrarem um plano de pagamento das dívidas aos fornecedores e subempreiteiros”, disse Sara Pinela. Desde então, devido às dívidas, os dois foram ameaçados e “obrigados a contratarem segurança privada” por causa das “constantes ameaças de morte por parte dos credores”.

Ficou definido que os ordenados teriam de ser pagos na totalidade até esta terça-feira. E isso aconteceu. Ricardo e Andrea foram até ao estaleiro da empresa e, à saída, foram interpelados pela polícia que lhes pediu para se deslocarem à esquadra, onde iriam levantar um auto dias antes assinado e em que se assumia o compromisso do pagamento de salários. Nesse momento, o português percebeu que a acusação estava a ser arranjada.

Chegados à esquadra, foi apresentada queixa por um dos subempreiteiros a quem a CMC Di Ravenna deve dinheiro: Ricardo e Andrea eram acusados de roubar uma máquina da empresa. Acabaria por ficar provado que a mesma máquina se encontrava no interior do estaleiro que pertence à multinacional e que de lá não havia sido movida.

“Em vez de receberem alguma medida de coação que lhes permitisse esperar o resultado da investigação em liberdade acabaram por receber ordem de prisão”, diz Sara Pinela.

Os dois homens passaram a noite de terça para quarta-feira na prisão “sem comer ou beber”. Não podiam ir à casa de banho e deram-lhes um colchão para dormir num chão cheio de pulgas, segundo a descrição a mulher do português.

“Ao início da manhã desta quarta-feira foram levados novamente para interrogatório e ficou estipulado que ficariam sob a medida de coação de termo de identidade e residência, com apresentações na polícia sempre que tal seja solicitado. Ambos ficaram impossibilitados de sair do país até que a investigação esteja concluída”, refere Sara.

É esperado que o inquérito seja encerrado até à próxima segunda-feira. “O meu marido e o colega temem que depois desta investigação ser arquivada outra falsa queixa seja apresentada, com o intuito de pressionar a sede da empresa em Itália a emitir os pagamentos”, diz.

O responsável máximo pela empresa no Kuwait está em parte incerta, mas suspeita-se que também será um dos interessados nos pagamentos.

Embora no Kuwait não exista representação diplomática portuguesa, já foram estabelecidos contactos com a representação portuguesa em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. A Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas também está a acompanhar o caso.

ZAP //

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