A decisão da Comissão Nacional de Eleições (CNE) timorense de incluir algumas perguntas em língua portuguesa no debate dos candidatos presidenciais às eleições de 19 de Março está a causar polémica em Timor-Leste.
Dez candidatos ouvidos pela Lusa (há 16 concorrentes) concordam com a decisão, recordando que o português é, a par do tétum, uma das línguas oficiais do país e que o Presidente deve dominar as duas línguas.
A maior oposição à ideia tem sido vincada por dirigentes do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), partido que apoia a candidatura da actual vice-primeira-ministra, Berta dos Santos, que evidencia algumas dificuldades a falar português.
“Não há regras, procedimentos legais que exijam que o candidato tem que falar português”, afirma à Lusa Antonio Tilman, dirigente e deputado do KHUNTO.
“O debate é um meio de os candidatos darem a conhecer as suas políticas à população em geral, que não compreende bem português”, refere ainda Tilman.
Questionado sobre se a postura do partido tem a ver com o facto de a sua candidata ter dificuldades em português, Tilman insiste que o debate não é sobre a “capacidade de falar ou não” português.
Contra a decisão manifestou-se igualmente o secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Mari Alkatiri.
“Sou defensor da língua portuguesa. Mas neste caso a mensagem deve ser entendida pelos eleitores. 90% dos eleitores não vão absorver nada das mensagens”, nota à Lusa.
Além da oposição pública da candidatura de Berta dos Santos, para já nenhum outro candidato criticou publicamente a decisão, anunciada pelo presidente da CNE, José Belo.
Ramos-Horta defende uso das duas línguas
José Ramos-Horta, candidato presidencial, diz à Lusa que concorda totalmente com o uso das duas línguas oficiais durante o debate.
“Como é possível imaginar-se um chefe de Estado timorense que não domine as duas línguas oficiais de Timor-Leste, sendo Timor-Leste membro da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]?”, questiona Ramos-Horta que foi presidente de Timor-Leste entre 2007 e 2012.
Outro candidato, Constâncio Pinto, nota também à Lusa concordar “perfeitamente com o uso da língua portuguesa no debate da CNE porque a língua portuguesa é uma das línguas oficiais de Timor-Leste”.
“Porque é que temos medo no uso da capacidade de falar em português?”, questiona, por seu turno, Martinho Gusmão, padre e candidato presidencial.
Lere Anan Timur, general e candidato à presidência, recorda que foi decisão dos timorenses na sua constituição “optar pelo português com o tétum como línguas oficiais” e que, por isso, o Presidente do país deve defender as duas línguas.
Opinião idêntica tem a candidata Milena Pires que realça à Lusa que “sendo o tétum e o português línguas oficiais de Timor-Leste, consagradas na Constituição da República, é natural que ambas sejam usadas no debate presidencial”.
Isabel Ferreira e Virgílio Guterres, mais dois candidatos presidenciais, concordam com aquela ideia. Ainda assim, Virgílio Guterres reconhece que “uma percentagem significativa dos eleitores ainda não domina a língua portuguesa”.
“Leis são escritas em português”
O candidato Mariano Assanami Sabino vinca mesmo que “o Presidente tem papel guardião da constituição e é necessário também usar o português”.
Outro candidato, Felizberto Duarte lembra que as leis “a serem promulgadas pelo presidente são escritas em português e que, assim, o domínio desta língua “é um requisito essencial de competência”, como sublinha à Lusa.
A utilização da língua portuguesa no debate já devia ter acontecido em eleições anteriores, defende, por seu turno, o candidato Anacleto Ferreira. “Só espero que não esteja a ser usada esta obrigação como uma arma política”, constata à Lusa.
O debate da CNE está marcado para 8 de Março e a primeira volta das eleições ocorre a 19 de Março.
ZAP // Lusa
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