Portugal tem condições para produzir e exportar gás natural a breve prazo. Esta é a certeza da Australis, empresa australiana de exploração e desenvolvimento de petróleo e gás que está a fazer prospecção no nosso país.
“Se as sondagens confirmarem as nossas expectativas, Portugal poderá tornar-se num produtor de gás natural em menos de cinco anos“, constata o presidente executivo da Australis, Ian Lusted, em entrevista ao Jornal Económico.
Para já, os factos não permitem ainda “compreender se Portugal pode tornar-se num exportador líquido a curto ou médio prazo”, alerta contudo este responsável da empresa que tem duas concessões em Portugal, na chamada Bacia Lusitânica, nas zonas da Batalha e de Pombal, na região de Leiria, numa área de aproximadamente 2.510 km2, segundo os dados que constam no site da Australis.
Mas as expectativas são claramente optimistas e Ian Lusted repara que Portugal pode produzir gás natural em quantidade suficiente para que a sua exploração seja “comercialmente viável” e “menos prejudicial” para o ambiente do que o que é, actualmente, importado do Norte de África, como cita o Económico.
“Estas fontes de importação de gás são caras para o país” e, além disso, têm “uma pegada de carbono muito maior do que o gás de gasoduto, uma vez que tem de passar por processos de arrefecimento, transporte e regaseificação”, explica o líder da Australis.
Por outro lado, a produção própria de gás natural ajudará Portugal a cumprir as metas da “política energética portuguesa” e os “objectivos de Paris 2050”, frisa Ian Lusted.
“A nível económico, para o consumidor, os preços do nosso gás podem ser menores, porque os custos de transporte quase desapareceriam”, aponta ainda este responsável.
A produção de gás natural permitiria também gerar “benefícios comerciais para as comunidades locais”, “reduzirá o défice da balança comercial portuguesa e aumentará as reservas energéticas nacionais”, constata o líder da Australis.
E caso as expectativas se cumpram, a empresa australiana promete que vai “partilhar com as autoridades locais parte do valor gerado” pela exploração e comercialização de gás natural.
Contestação das comunidades locais
A Australis obteve do Governo português as duas concessões em Setembro de 2015, numa licença que se estende por “um prazo de duração inicial de 8 anos“, segundo a empresa.
Durante os dois primeiros anos, as operações da Australis centraram-se, basicamente, “na reavaliação de dados e análise das informações sísmicas 2D e 3D”, o que permitiu “definir uma potencial descoberta de gás convencional muito significativa nas formações do Jurássico”, constata-se ainda no site da empresa.
O plano actual de trabalhos prevê uma “sondagem piloto vertical com desvio na horizontal” para “testar as ocorrências de gás” na zona da Batalha, e “uma sondagem vertical com recolha de carotes na formação de Lemede na parte mais profunda do Jurássico Inferior, ou uma sondagem de exploração e avaliação combinada com a formação de Silves subjacente” na zona de Pombal.
A actuação da Australis em Portugal tem sido alvo de alguma contestação da comunidade local. No início deste ano, após uma reunião com elementos de uma freguesia da zona, dois carros da empresa apareceram com os pneus furados, conforme reportou o Jornal de Notícias.
Em entrevista ao Económico, o presidente da Australis assegura que os projectos da empresa em Portugal “são de natureza puramente convencional” e que “o fracking não faz parte do plano”. “Todas as indicações que temos são de que, da forma como projectamos os poços, o gás irá fluir, a taxas comerciais, sem qualquer estimulação artificial, ou fracking“, sublinha Ian Lusted.
Uma petição pública assinada por mais de 5 mil pessoas manifesta-se contra o recurso ao fracking e apela ao cancelamento das concessões da Batalha e de Pombal.