Um estudo coordenado pela Universidade de Évora que envolve 7 universidades europeias analisa o assédio sexual e o bullying. Portugal está no pódio de ambas as situações.
De sete universidades de sete países europeus — Espanha, França, Irlanda, Itália, Portugal, Roménia e Suécia — Portugal é o país em que mais estudantes relatam ser sofrido de assédio sexual (3,9%), avança o Diário de Notícias.
De acordo com o estudo da Universidade de Évora referente ao ano letivo 2023/2024, no que respeita a assédio moral/bullying, os portugueses ocupam o segundo lugar, com 14,3%, ultrapassados apenas pela Roménia (15%).
Em Portugal, no que toca ao assédio sexual, os funcionários não docentes da universidade foram o grupo mais indicado, por 4,7% dos inquiridos, e os outros alunos forma apontados por 3,8%. Já o pessoal docente (professores) foi indicado por 1% dos inquiridos.
Este valor de 3,9% é muito elevado quando comparado aos restantes países europeus, como a Suécia, Espanha e Itália, que não atingem o 1%, ou a Irlanda, Roménia e França, que tocam o 1%. Em Portugal, o assédio é, então, aproximadamente 4 vezes mais sentido do que nos outros países europeus.
Em Portugal, os casos de relatos de assédio moral (14,3%) são o dobro da Itália e Irlanda (7%), e quase o triplo da França e Suécia, com 5% dos alunos a relatarem este tipo de cenário. Já em Espanha, 9% dos alunos foram assediados moralmente, e na Roménia, o país com mais casos, o valor sobre para 15%.
Dos alunos romenos, 13% imputaram assédio moral aos professores, o número mais elevado, seguidos pelos irlandeses (11%) e pelos portugueses (8%). Entre os espanhóis, 7% também o sentiram por parte dos professores, dos italianos 6% e dos franceses 4%.
Só 2% dos suecos apontam os docentes como agressores. Já no caso dos alunos romenos, 4%, a maior percentagem entre todas as universidades, acusam o pessoal não docente de ser agressor.
Mas os universitários também sentiram assédio sexual e bullying fora do recinto da Universidade, e é aí que os números se agravam: em Portugal, 50,4% dos alunos já foram vítimas de situações desse tipo fora do campus.
São os segundos na lista, encabeçada pela França, com 51%, e a par da Irlanda, com a mesma percentagem que os portugueses. A Roménia (48%), a Espanha (44,8%) e a Itália (41,6%) também foram gravemente afetados por esta situação. No caso da Suécia, o número desce para 28,9%.
Este assédio fora da Universidade não é, na maior parte dos casos, levado a cabo por desconhecido: a maior parte dos cenários acontece dentro da própria família ou na relação amorosa.
“Entre os alunos irlandeses, 19% responsabilizam a família por assédio; entre os portugueses e romenos são 16%. Seguem-se os franceses com 14%, italianos e espanhóis com 11% e suecos com 2%. Já no que respeita a companheiros amorosos, são 10% os alunos irlandeses a imputar-lhes assédio, logo seguidos pelos portugueses, com 9%”, conta o DN.
Em Portugal, apenas 6% apontam “outro” e não estes protagonistas do assédio sexual.
A coordenadora do estudo, Lara Guedes Pinho, docente do Departamento de Enfermagem da Universidade de Évora e investigadora do CHRC (Comprehensive Health Research Center), alertou o DN para o facto de terem só sido analisadas uma universidade por cada país, o que pode enviesar os resultados.
Ainda assim, garante, “apesar de não se poderem generalizar para os países em questão, uma vez que apenas foram colhidas respostas numa universidade de cada país, estes resultados são alarmantes, pois temos percentagens elevadas em jovens que já sofreram de assédio seja moral, seja sexual”.