Por que não usam os ditadores números realistas quando falsificam eleições?

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KCNA / YONHAP

O líder da Coreia do Note, Kim Jong-un, obteve  100% dos votos em 2019

Numa época em que os políticos de todo o mundo estão fora de moda e com níveis de popularidade extremamente baixos, é motivo de inveja ver a felicidade de alguns povos — cujo grau de satisfação com os seus líderes ronda os 100%.

Os ditadores, atuais e antigos, de países como a Síria, Roménia, Iraque, Coreia do Norte e Rússia são conhecidos por divulgar sondagens de popularidade e resultados eleitorais incrivelmente altos.

Tão altos que se torna difícil acreditar que sejam reais.

Esta é, na realidade, uma tentativa de fortalecer a legitimidade e reprimir críticas, criando uma ilusão de processo democrático.

Estes resultados irrealistas são frequentemente produto da propaganda do estado, e consequência de limites à liberdade de expressão e de falta de opções para os eleitores, explica o Big Think.

Um dos fenómenos mais comuns nos regimes autoritários é o anúncio de resultados eleitorais absolutamente esmagadores, próximos dos 100% — e que, num caso, atingiu mesmo esta irrealista percentagem.

Por exemplo, em 2021 o presidente da Síria, Bashar al-Assad, reivindicou uma vitória no quarto mandato com 95% dos votos — um aumento em relação aos 89% que obteve em 2014.

Outros exemplos incluem o antigo ditador da Roméria, Nicolae Ceaușescu, que em 1989 foi “reeleito” com 98,8% dos votos, o famigerado Saddam Hussein, que recebeu 99% dos votos dos iraquianos em 1995 e 2002, e o supremo líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, tão adorado que teve  100% dos votos em 2019.

Mesmo quando os números parecem mais plausíveis, a realidade é que os princípios democráticos necessários para uma votação, como a liberdade de expressão e proteção de pontos de vista alternativos, estão normalmente ausentes nos regimes autoritários.

É o caso dos níveis de aprovação do presidente russo Vladimir Putin, que ultrapassaram os 70% em 2020 e chegaram aos 80% em dezembro de 2022. Ou dos resultados das presidenciais de 1958 em Portugal, que deram a vitória a Américo Thomaz com 76,42% dos votos — apesar da aparente popularidade do seu adversário, o general Humberto Delgado.

Estes números são assim provavelmente mais um reflexo de que os cidadãos votam para se proteger a si e às suas famílias, em vez de uma genuína aprovação dos seus líderes.

Então, por que motivo os ditadores sentem a necessidade de realizar eleições ou de ostentar níveis de popularidade absurdamente altos?

De acordo com The Dictator’s Handbook,  livro de Bruce Bueno de Mesquita e Alastair Smith publicado em 2011, há duas razões principais para esta tendência: segurança e legitimidade.

Ao manter a ilusão de popularidade generalizada, um ditador não apenas fortalece a sua posição interna, mas também alavanca negociações internacionais. Por exemplo, em caso de alegações de abuso dos direitos humanos, o ditador pode argumentar que as suas ações são apoiadas pela maioria dea sua população.

E o problema com esta manipulação de dados é que tende a funcionar.

Esta “névoa” que cobre os números reais de popularidade e legitimidade de um dado governante lança a dúvida sobre os cidadãos e observadores internacionais, que se resignam e se tornam complacentes com o ditador, aceitando os números tal como são servidos.

O fenómeno é explicado pela chamada Lei de Brandolini, ou Princípio da Assimetria da Estupidez, que afirma que refutar desinformação exige bastante mais esforço do que produzi-la.

Por que não usam afinal os ditadores números realistas quando falsificam resultados de sondagens ou eleições? Porque funciona.

ZAP //

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1 Comment

  1. A conclusão final do Artigo , é uma evidencia comum a este tipo de regimes , no caso da Coreia de Norte é exercida uma Ditadura com o caracter de Despotismo revestido de uma grande farsa Eleitoral . Mesmo que o Povo se revolte , é na maior parte dos casos , silenciado para sempre . Portanto ….Sim , é “Porque Funciona” , claro !

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