Poluição sonora também afeta animais — mais do que imaginamos

Desde projetos de construção a estradas, aviões e caminhos-de-ferro movimentados, o ruído humano está em todo o lado.

É uma causa invisível de stress, representando sérios riscos para a saúde e bem-estar humanos. No entanto, o ruído também prejudica animais que vivem em contacto com os seres humanos em casas, quintas e jardins zoológicos.

O ruído é um som perturbador, assustador ou até fisicamente doloroso. O impacto do ruído nos seres humanos varia desde uma ligeira irritação até problemas de aprendizagem e memória, lesões auditivas permanentes e doenças cardíacas.

O ruído mais alto, como em concertos ou locais de construção, é controlado de forma a proteger a audição humana. Mas não acontece o mesmo com outros animais.

Num estudo recente publicado na frontiers, descobriu-se que é necessária uma maior consciência e uma maior compreensão de como o ruído prejudica animais de estimação, animais de quinta e de trabalho e animais do jardim zoológico.

A investigação tende a medir o quão alto é o ruído em decibéis (dB). Os decibéis são fáceis de medir com um dispositivo de mão e formam a base das diretrizes da saúde humana. Mas o tipo de fonte de ruído, frequência (pitch), taxa e duração podem também ter impacto na forma como o ruído é sentido por um ouvinte.

Os grandes símios têm capacidades auditivas semelhantes às dos seres humanos, mas o resto do reino animal tem uma perceção muito diferente do ruído.

A audição varia desde ultra-sons de frequência muito alta (>20.000 Hz), ecolocalização em morcegos e golfinhos, até infrassons de frequência muito baixa (<20 Hz) em elefantes. A gama de audição humana situa-se entre ultra e infrassom.

Alguns invertebrados, como aranhas de caça, detetam o som de vibrações com os seus pequenos pelos. É difícil dizer o quão sensível um animal é ao ruído, mas o mais importante é se o ruído no seu ambiente está dentro do seu alcance auditivo, e não se o animal tem uma frequência alta ou baixa.

O que é que sabemos?

Devido à falta de investigação, não sabemos muito sobre a precisão com que o ruído afeta os animais, mas isto é o que aprendemos até agora: o ruído alto pode danificar permanentemente a audição dos roedores de laboratório.

Podemos assumir que esta exposição é dolorosa porque os ratos expostos ao ruído alto comportam-se de forma diferente, com ou sem medicação para a dor.

As descobertas nos estudos com roedores de laboratório podem ser generalizadas a outros mamíferos, mas existem diferenças conhecidas na capacidade auditiva entre os diferentes animais.

Os animais selvagens sofrem de stress crónico, problemas de fertilidade e alteram as suas rotas de migração em resposta ao ruído.

Os animais confinados são frequentemente expostos a níveis elevados de ruído gerado pelo homem, do qual não podem escapar.

A investigação mostra que o ruído causa dor, medo e problemas cognitivos aos animais confinados. Por exemplo, nos peixes, as vibrações do ruído extremo podem danificar a bexiga o que, por sua vez, afeta a sua audição e a flutuabilidade. A dor e o medo são fortes indicadores de mau-estar.

O ruído inaudível (vibrações) também pode prejudicar os animais ao afetar fisicamente as suas partes internas do corpo. Os animais da quinta experimentam altos níveis de vibração durante o transporte.

O grupo de investigação da Universidade Anglia Ruskin está a analisar se as vibrações das obras têm impacto nos primatas do jardim zoológico.

Um evento ruidoso, como um festival de música local ou um clima extremo, pode desencadear medo a longo prazo nos animais. A ligação entre o ruído e o medo tem sido bem estudada em cães, utilizando gravações de trovoadas.

Este tipo de sensibilidade ao ruído, que afeta até 50% dos cães domésticos, é desencadeada por ruídos inesperados. Faz com que os animais se escondam ou procurem conforto humano. As galinhas de criação expostas ao ruído dos veículos e mesmo a música também ficam com medo.

Primatas, pássaros e sapos podem adaptar-se a curto prazo a ambientes ruidosos, vocalizando mais alto, tal como nós falamos mais alto em festas barulhentas.

Mas as consequências a longo prazo de animais que precisam de mudar os seus métodos de comunicação não foram estudadas.

A exposição a longo prazo a ruídos altos reduziu a capacidade de aprendizagem e de memória em ratos de laboratório. A ligação entre a cognição e a ansiedade nos humanos é complexa mas, em geral, os altos níveis de ansiedade reduzem a nossa capacidade de executar tarefas desafiantes.

Isto pode ser semelhante noutros mamíferos, mas não há investigação suficiente para se ter a certeza. Estudar o ruído nos jardins zoológicos é difícil por ser complicado controlar outros fatores, como o tempo e a presença de visitantes.

Como podemos ajudar?

Se um animal de estimação estiver stressado devido ao ruído, existe um conjunto de tratamentos para os acalmar ou distrair, incluindo feromonas sintéticas e brinquedos de enriquecimento. Mas a prevenção é melhor do que a cura.

Se cuidar de animais confinados, preste muita atenção às atividades humanas que geram ruído (como limpeza e jardinagem) e à forma como o ambiente pode refletir ondas sonoras. As ondas sonoras podem ser bloqueadas e ressaltar de materiais como betão, metal e vidro, tornando o ruído pior.

Pode proteger os animais de estimação durante eventos ruidosos, como trovoadas e fogo-de-artifício, colocando-os em espaços que abafem o ruído.

Alguns móveis macios, como almofadas ou cobertores dentro de uma toca, ajudam a absorver sons. Uma pilha de cobertores para rastejar por baixo, mesmo sem um abrigo, ajudará a bloquear o barulho.

É necessária uma melhor regulamentação para proteger os animais de trabalhos de construção e de eventos ruidosos. Os animais não têm uma única palavra a dizer em relação aos projetos de construção ou aos concertos musicais que decorrem, mas podem sofrer as consequências.

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